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Amy Goodman

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Democracy now!

Salários de miséria no país da abundância

Amy Goodman - Publicado: Quarta, 25 Dezembro 2013 13:11

Nestas festas, os empregados de lojas como a Wal-Mart ou dos restaurantes de comida rápida, que recebem baixos salários, estão a lutar pelos seus direitos.


Aproximam-se as festas, a temporada das compra de Natal e, lamentavelmente, as grandes cadeias de comércio de retalho continuam a pagar salários de miséria aos seus empregados. Enquanto as lojas oferecem preços de liquidação, um exército de trabalhadores ganha o salário mínimo, ou pouco mais do que o salário mínimo, e tem dificuldades em chegar ao fim do mês, devido à escassa remuneração que recebem. O segredo oculto que as grandes cadeias do retalho, como a Wal-Mart, não querem que se saiba é que muitos dos seus empregados vivem abaixo da linha de pobreza e que, para subsistir, dependem de programas de ajuda estatal como as senhas de alimentação e o serviço de assistência de saúde Medicaid. No entanto, nestas festas, os empregados de lojas como a Wal-Mart ou dos restaurantes de comida rápida, que recebem baixos salários, estão a lutar pelos seus direitos.

“Estes têm sido os maiores protestos que vimos contra a Wal-Mart”, sustentou Josh Eidelson, ao referir-se às manifestações coordenadas na ‘Black Friday’ (o dia posterior ao Dia de Ação de Graças, quando se inaugura a temporada de compras natalícias). “Existiram manifestações em 1.500 lojas. Mais de cem pessoas foram presas. Novamente a Wal-Mart foi objeto de protestos públicos, naquele que deveria ser o dia mais feliz do ano para a maior loja retalhista do mundo”. A Wal-Mart tem 2,2 milhões de empregados, 1,3 milhões deles nos Estados Unidos. A empresa registou cerca de 120.000 milhões de dólares de ganhos brutos em 2012. A loja foi fundada por Sam Walton, patriarca da família Walton. Estima-se que apenas seis membros da família acumularam, no seu conjunto, uma fortuna que ronda entre os 115.000 e os 144.000 milhões de dólares. Estas seis pessoas têm mais riqueza que o total de 40% da população norte-americana mais pobre.

Josh Eidelson disse-me: “A maior empresa empregadora dos Estados Unidos, que é propriedade da família mais rica do país, é uma empresa em que grande parte dos seus empregados depende dos míseros programas de ajuda aos pobres dos Estados Unidos. Isto diz muito a respeito da situação da economia e do emprego no país”.

Os empregados da Wal-Mart organizaram-se sob o nome ‘O nosso Wal-Mart’, uma iniciativa que foi apoiada pelo Sindicato Unido de Trabalhadores da Alimentação e do Comércio. Os trabalhadores tomaram medidas corajosas, ao protestar contra a empresa e participar em greves curtas. A Wal-Mart respondeu com represálias e despediu muitos empregados que participaram nos protestos. Barbara Collins é uma das empregadas que foi despedida, depois de ter trabalhado na loja da Wal-Mart de Placerville, Califórnia durante oito anos.

Collins contou no programa de notícias “Democracy Now!”: “Antes de me despedirem, ganhava 12,05 dólares por hora, e estava dentro da categoria de empregada a tempo completo, mas isso não significava que trabalhasse [e recebesse] sempre 40 horas por semana. Algumas vezes só trabalhava oito horas ou 16 horas numa semana. De maneira que os empregados que estão na categoria de 'tempo completo', não quer dizer que necessariamente trabalhem as horas de tempo completo [e que recebam o respetivo salário completo]. Participei na greve de ‘Black Friday’ no ano passado e também participei na greve de duas semanas realizada em junho. Em junho despediram-me”.

A 18 de novembro, a Direção Nacional de Relações Laborais (NLRB, na sigla em inglês) determinou que as greves são ações protegidas pela lei. Collins, que falou connosco a partir de Bentonville, Arkansas, onde estava a protestar diante da sede mundial da Wal-Mart, disse-nos: “A falha da NLRB é surpreendente. Estamos muito contentes de que achassem que estávamos a dizer a verdade, que [Wal-Mart] não cumpriu a lei e que queremos que nos devolvam o nosso trabalho”.

O grupo de investigação sobre políticas públicas “Demos” lançou um relatório denominado “A Higher Wage is Possible: How Walmart Can Invest in Its Workforce Without Costing Customers a Dime” (“Um melhor salário é possível: como a Walmart pode investir nos seus empregados sem que isso custe um centavo aos seus clientes”). O grupo “Demos” analisou a crescente reivindicação dos empregados da Wal-Mart de um salário básico de 25.000 dólares por ano para os trabalhadores a tempo completo. Catherine Ruetschlin, coautora do relatório, sustentou: “Não é só durante as festas que os empregados atravessam dificuldades. Quando se ganha um salário de miséria, é sempre difícil levar alimentos para casa. Depois de falar com os empregados de Wal-Mart, várias vezes, demos-nos conta de que os seus salários mal chegam para satisfazer as suas necessidades básicas e que, para chegar ao fim do mês, têm que sacrificar qualquer coisa. Têm que decidir se compram um medicamento ou pagam a matrícula escolar, se compram alimentos ou pagam a conta de eletricidade. Os trabalhadores como a Barbara, que estão ali fora a manifestar-se, tiveram a oportunidade de mostrar a sua situação aos cidadãos norte-americanos comuns, que compram nas lojas de retalho e talvez tenham visto que os protestos se intensificaram, mas não se sentiam identificados com o que isso realmente significava”. O relatório explica que “se a Wal-Mart utilizasse os 7.600 milhões de dólares que gasta por ano na recompra das suas próprias existências, esses fundos poderiam ser utilizados para dar aos empregados da Wal-Mart que têm um salário baixo um aumento de 5,83 dólares a hora”, o que satisfaz a meta salarial dos trabalhadores.

Ao mesmo tempo que se desenvolve a campanha por uma melhoria salarial para os trabalhadores da Wal-Mart, existe uma iniciativa para exigir melhores salários no setor da comida rápida. Os trabalhadores dos restaurantes de comida rápida organizaram protestos e greves em mais de cem cidades… e estão a ganhar. Em SeaTac, o município do estado de Washington onde se encontra o aeroporto Seattle-Tacoma, os votantes aprovaram uma medida para aumentar o salário mínimo dos trabalhadores para 15 dólares a hora. Tal como acontece com os empregados de Wal-Mart, as grandes correntes de comida rápida como a McDonald’s e a Yum Brands (que é proprietária de KFC, Taco Bell e Pizza Hut) sustentam parte dos seus ganhos no dinheiro dos contribuintes. Enquanto os seus empregados, que ganham salários de miséria, dependem dos programas de assistência pública como as senhas de alimentação e Medicaid, as empresas conseguem deduzir impostos dos grandes pacotes de ganhos que outorgam aos diretores executivos, como informou esta semana o Instituto de Estudos Políticos.

O salário mínimo nacional é de 7,25 dólares por hora, o que equivale a um rendimento anual de 15.080 dólares para um trabalhador a tempo completo. Se o salário mínimo tivesse sido ajustado de acordo com a inflação desde 1968, ascenderia a 10,74 dólares a hora, uma quantidade suficiente para fazer com que uma família de três membros estivesse acima da linha de pobreza. Se os salários tivessem registado um crescimento proporcional à produtividade dos empregados (já que cada trabalhador produz bem mais numa hora na atualidade do que produzia nas décadas anteriores), o salário mínimo seria de 18,72 dólares por hora. E se o salário mínimo tivesse disparado ao mesmo ritmo que os salários do 1% que ganha mais, hoje em dia seria de 28,34 dólares por hora. Estes dados do Instituto de Política Económica explicam por que o Presidente Obama iniciou uma campanha para que se aumente o salário mínimo.

O aumento do salário mínimo e o respeito dos direitos dos trabalhadores da Wal-Mart, da McDonald’s e das demais empresas multinacionais que dependem de subvenções públicas para os seus empregados, não virão de um decreto presidencial, só poderão ser o resultado do esforço conjunto dos trabalhadores e dos seus aliados, tanto nas ruas como nas urnas.

Artigo publicado em democracynow.org em 5 de dezembro de 2013. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Campos para espanhol. Tradução para português de Carlos Santos/Esquerda.net.


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