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Iñaki Gil de San Vicente

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Independentismo como hegemonia popular

Iñaki Gil de San Vicente - Publicado: Segunda, 05 Julho 2010 02:00

Iñaki Gil de San Vicente

A greve geral do passado 29 de maio voltou a confirmar a validade teórica e política do conceito de povo trabalhador basco recuperado por ETA na sua V Assembleia, realizada em 1966-67.


O sindicalismo abertzale assento já de maneira definitiva como uma das forças sociais de massas decisiva no processo de libertaçom do nosso povo, e vai demonstrando a sua capacidade de aglutinaçom e mobilizaçom, confirmada de novo neste último ano. Nom podia ser de outro modo. O capitalismo basco é eminentemente industrial e a sua estrutura de classes move-se nos parámetros das sociedades capitalistas mais potentes. Em 2009 1,30% da populaçom de Hego Euskal Herria possuia 44,4% do PIB sem contar os seus bens imóveis, as suas mansons, etc, enquanto havia 12,7% desemprego e 40% da populaçom ocupada recebia salários inferiores a 1.069 euros ao mês, o limiar da pobreza. A maioria esmagadora da populaçom basca vive exclusivamente do salário que obtém com a venda da sua força de trabalho, ou do salário do marido e/ou da esposa, ou de algum filho ou filha, ou da pensom dos pais. Directa ou indirectamente, a maioria imensa pertence à classe operária, que por sua vez vertebra o povo trabalhador, conceito básico para entender a complexidade da exploraçom assalariada no capitalismo e que foi empregado pola teoria socialista e marxista já no século XIX.

É este povo trabalhador, a cada vez mais explorado em todos os sentidos, o que forma a ampla militáncia da esquerda abertzale, e o que, junto aos sectores soberanistas, progressistas e democráticas que se vam somando constitui a força do processo democrático. Ibarretxe renunciou explicitamente ao independentismo em 2002, quando os espanhóis lhe permitiam ainda ser lehendakari das três províncias vascongadas. Ibarretxe sancionou assim o abandono muito anterior do independentismo por parte do PNV, enquanto em Nafarroa UPN soldava sua uniom com o Estado espanhol primeiro pactuando com o PP e depois com o PSOE. A longa experiência sustentada em decénios mostra que os inalienáveis direitos da naçom trabalhadora basca somente som defendidos por esta força social de massas que vive de um salário directo ou indirecto. López, lehendakari usurpador e ilegítimo, é mui consciente desta realidade reafirmada amplamente no sucesso da passada greve geral, e, desesperado, ofusca-se negando a realidade mesma. No entanto, o problema é mais grave que os delírios de alguém que depende do neofascismo para continuar a cobrar.

O problema radica na estratégia sistémica e polivalente aplicada polo Estado espanhol contra o independentismo e a sua coluna vertebral, o povo trabalhador. Umha estratégia que podemos diseccionar em três objectivos: Um procura destruir a centralidade de classe do povo trabalhador, isto é, anular sua coesom e consciência unitária pulverizando convénios e contratos, precarizando a vida, suprimindo direitos laborais e sindicais que tanto custou conseguir e impondo a passividade individualista. Ataque à centralidade de classe que se expressa na negativa a aceitar o direito ao quadro basco de relaçons laborais, acaba com a imposiçom do quadro estatal que afunda a relaçom de forças entre o capital e o trabalho conseguida em Hego Euskal Herria aos baixíssimos níveis estatais. Quebrar e pulverizar a unidade do povo trabalhador é hoje mais urgente que antes pola conjunçom de duas forças intoleráveis para a burguesia espanhola, o aumento da consciência nacional e social basca e a natureza estrutural e de longa duraçom da crise capitalista. Nom é a primeira vez que a burguesía arremete com ódio contra o proletariado basco, já o fijo selvagemente, e com o apoio do reformismo político-sindical espanhol, durante a chamada "reconversom industrial" dos ´80.

Outro objectivo é reprimir especialmente a esquerda abertzale como núcleo político do povo trabalhador. Endurece-se a cascata de novas repressons em ruas, povos, escolas e universidades, oficinas e fábricas, e arrecia o dilúvio repressor destinado a amedrontar e atemorizar a força sociopolítica mais activa do nosso povo. Mas o mais feroz da liquidaçom de direitos é a piora carcerára. A cultura política espanhola nunca superou a raiz de ruindade inquisitorial que germinou durante quase cinco séculos, e agora está a ser fertilizada com um injerto da mais antiga política antiga e esclavagista dos reféns submetidos a todos os horrores para os destroçar a eles e as suas famílias, e para advertir o seu povo do futuro o que o espera se continuar a desobedecer. A reinstauraçom da retroactividade nom só na repressom política, mas também em medidas económicas que golpeiam especialmente as classes trabalhadoras, é o exemplo mais recente, por agora, da volta deliberada a métodos aos que se enfrentou a própria burguesia há tempo. A política espanhola retrocede ao terror material e físico na mesma medida em que avança a luita pola liberdade.

E o terceiro objectivo está a ser o de estender a ameaça de repressom iminente a quem se somar à onda soberanista e independentista, contribuindo com o seu grao de areia para a libertaçom. As ameaças de futuras ilegalizaçons som umha parte da política do medo preventivo, porque o fundamental é tanto a advertência de que qualquer pessoa que nom cumpra as exigências inquisitoriais de demonstrar a sua "pureza de sangue", a sua submissom ao Estado agora mesmo, é por isso culpado por omissom, como a medida tipicamente nazi de oficializar a delaçom, procurando quebrar os laços afectivos e de solidariedade colectiva mediante o egoísmo da denúncia por dinheiro em época de crise. Os estudiosos da inquisiçom espanhola ressaltam o fracasso da delaçom e da denúncia em Euskal Herria comparado com a sua freqüência média noutros povos. O Estado volta à carga reactivando este método porque precisa deter a reivindicaçom da independência basca que cresce em sectores que até há pouco se tinham crido as promessas autonomistas.

A independência organizada em Estado basco tem que adquirir na vida quotidiana a força da hegemonia ética, política e democraticamente conquistada pola ampla maioria social.

Conquistar a hegemonia popular quer dizer que ao Estado ocupante só lhe fica a razom da sua força, porque a força da razom radica no independentismo. Avançar na hegemonia requer trabalho militante, capacidade de debate pedagógico e construtivo, formaçom teórica e política, e rectitude e coerência, aptitudes que devemos melhorar. Três exemplos ilustram a hegemonia popular: um, EITB destroçada pola sua chabacanaria panfletaria, já que a maioria da sua programaçom nom resiste a mínima análise. Outro, o desprestígio do nacionalcatolicismo espanhol no seu afám por voltar a Trento; e três, o fracasso do plano de lobotomia infantil criado polo nacionalismo espanhol. A sem-razom e a ditadura franquistas criárom o conhecimento crítico que teorizou o papel do povo trabalhador na independência de Euskal Herria, e as décadas decorridas desde entom o confirmárom. Mas nom esqueçamos que aquela tremenda conquista teórica era parte de umha visom histórica mais longa, complexa e rica em interacçons e temporalidades que nom podemos reduzir a um simplismo linear e unilateral.

Fonte: Primeira Linha em Rede.


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