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James Petras

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Afeganistám, a guerra perdida mais longeva

James Petras - Publicado: Terça, 29 Junho 2010 23:26

James Petras

Introduçom. Apesar de quase dez anos de guerra, incluídas umha invasom e umha ocupaçom, o exército estadounidense, os seus aliados e as forças armadas dos estados clientelistas estám a perder a guerra em Afeganistám.


Exceptuando os distritos centrais de algumhas cidades e as fortalezas militares, a resistência nacional afegá, com todas as suas complexas alianças nacionais, regionais e locais, controla o território, o povo e a administraçom.

Esta guerra sem fim representa o maior sangrado para a moral das forças armadas estadounidenses, socavando o apoio civil dentro do país e limitando a capacidade da Casa Branca para empreender novas guerras imperiais. O desembolso militar anual de milhares de milhons de dólares está a agravar o déficit orçamental desaforado e impulsionando duros recortes impopulares nos programas sociais a todos os níveis governamentais. Nom se vislumbra o fim, enquanto o regime de Obama segue aumentando em dezenas de milhares o número de soldados despregados e em dezenas de milhares de milhons os desembolsos militares, mas a resistência avança, tanto militar como politicamente.

Confrontados com o crescente descontentamento popular e as demandas de controle fiscal por parte de um amplo espectro de grupos cidadáos e bancários, Obama e o comando geral procuraram umha "saída parcial" mediante o reclutamento e treinamento de um exército mercenário e umha polícia afegáns, a grande escala e longo prazo, baixo o comando de oficiais estadounidenses e da NATO.

A estratégia estadounidense: como se cria umha neocolonia afegá

Entre 2001e 2010, o desembolso militar estadounidense soma 428.000 milhons de dólares; a ocupaçom colonial cobrou-se mais de 7.228 mortos e feridos (estadounidenses, N. de T.) a 1 de Junho de 2010. À medida que a situaçom militar estadounidense se deteriora, a Casa Branca incrementa o número de soldados, aumentando a sua vez o número de mortos e feridos. Durante os últimos 18 meses do regime de Obama, houvo mais mortos ou feridos que nos oito anos anteriores.

A estratégia do Pentágono e a Casa Branca baseia-se no fluxo em massa de dinheiro e armas e um incremento do número de sustitutos, senhores da guerra subvencionados e expatriados fantoches educados em Occidente. A "ajuda ao desenvolvimento" da Casa Branca implica, literalmente, a compra das lealdades efémeras dos líderes dos clans. A Casa Branca aparenta legitimidade celebrando eleiçons, o que acentua a imagem corrupta do beneficiado regime fantoche de Kabul e os seus sócios regionais.

No terreno militar, o Pentágono empreende umha "ofensiva" por trás de outra, anunciando um sucesso por trás de outro, seguida de umha retirada e a volta dos combatentes da Resistência. As campanhas militares estadounidenses interrompem o comércio, as colheitas e os mercados agrícolas, enquanto os ataques aéreos dirigidos aos talibáns e guerrilheiros geralmente terminam matando a civis que estám a celebrar casamentos e festas religiosas ou comprando nos mercados. A razom da alta percentagem de assassinatos de civis é evidente para todos menos para os generais estadounidenses: nom há distinçom entre "militantes" e os milhons de civis afegaos, já que os primeiros fam parte essencial das suas comunidades.

O problema chave e decisivo da ocupaçom estadounidense é que Afeganistám é um enclave colonial dentro de um povo colonizado. Os Estados Unidos, os seus fantoches locais e os aliados da NATO formam um exército colonial estrangeiro e considera-se aos polícias e militares afegaos recrutados como simples instrumentos da perpetuaçom do governo ilegítimo. A cada acçom, violenta ou nom, se percebe e interpreta como a trasgressom de normas e legados históricos de um povo independente e orgulhoso. Na vida diária, a cada movimento da potência ocupante é destrutivo; nada se move sem o permisso do comando militar e policial dirigido polos estrangeiros. Baixo ameaça, a gente finge cooperaçom com a potência ocupante para depois dar assistência aos seus pais, irmaos e filhos na Resistência. Os homens recrutados colhem o dinheiro e entregam as suas armas à Resistência. Os informadores nos povos som agentes duplos ou som identificados polos seus vizinhos e chegam a ser objectivo dos insurgentes.

Os colaboradores afegaos, os aliados mais próximos de Washington, vem-se como traidores corruptos, governadores transitórios que sempre tenhem as malas feitas e os passaportes estadounidenses a mao por se tenhem que fugir quando lhes toca fazer o mesmo aos estadounidenses. Todos os programas, os fundos de "reconstruçom", as missons de formaçom e os "programas cívicos" fracassarom no seu propósito de ganhar a lealdade do povo afegao, antes, agora e no futuro, porque se lhes vê como parte da ocupaçom militar estadounidense que está fundamentada em último termo na violência.

Dez razons de por que ganhará a Resistência afegá

1. A Resistência tem profundas raízes na populaçom -umha comunidade baseada na família e uns vínculos culturais e linguísticos que Estados Unidos nom possui nem pode "inventar", comprar, comercializar nem replicar mediante os seus"colaboradores" afegaos nem impor por meios propagandísticos.

2. A Resistência tem fronteiras fluídas e um amplo apoio internacional, especialmente em Paquistám, mas sobretodo por parte de outros grupos islâmicos antiimperialistas que provenhem armas e voluntários e participam activamente nos ataques às vias de transporte logístico aos soldados USA-NATO no Paquistám. Estes grupos também exercem pressom sobre os regimes clientelistas de Estados Unidos no estrangeiro, tais como Paquistám, Arábia Saudita, Iemen e Somália, abrindo assim múltiplas frentes.

3. Umha ampla infiltraçom e o apoio passivo, activo e voluntário da Resistência entre os soldados e polícias afegaos recrutados e treinados polos Estados Unidos convertem-se em labores cruciais de inteligência sobre os movimentos de tropas. As deserçons e o absentismo menoscavam a "concorrência militar".

4. O alcance e a amplitude da actividade da Resistência superam as possibilidades actuais dos exércitos imperiais e obriga a estes a depender dos corpos de segurança afegaos, remisos a matar aos seus próprios irmaos, sobretodo quando as operaçons estám dirigidas a comunidades onde vivem parentes ou congéneres étnicos.

5. Os aliados da Resistência som mais leais, dignos de confiança e menos corruptos, já que compartilham profundas crenças. Os aliados estadounidenses só som leais devido às gratificaçons monetárias efémeras que recebem e à presença provisória das forças militares estadounidenses.

6. A Resistência é atraente para o povo porque representa a volta da lei e o ordem à vida quotidiana presentes antes da invasom desestabilizadora. A promessa estadounidense de que teria consequências positivas ao final de umha guerra realizada com sucesso nom tem nengumha resonáncia popular após um decenio interminável de ocupaçom destrutiva.

7. Os Estados Unidos nom tenhem valores comparáveis com o atractivo tradicionalista-nacionalista-religioso da Resistência para a grande maioria do povo, a gente dos povos, a das cidades e os deslocados.

8. O apoio da Resistência aos iraquianos, os palestinos e outras forças antiimperialistas, tem um atractivo positivo entre o povo afegao que padeceu os resultados destrutivos das guerras empreendidas no Iraque e encomendadas em Paquistám, Somália e Iemen. As agressons israelitas respaldadas polos Estados Unidos e realizadas contra Líbano e o barco que portava ajuda humanitária a Palestina, e a presença altamente visível de militantes sionistas no Governo estadounidense causam rejeiçom aos afegaos mais informados politicamente.

9. Os afegaos tenhem, devido à força do costume, maior resistência contra a ocupaçom militar estadounidense que o povo de Estados Unidos, que tem necessidades mais urgentes, e que o próprio exército, que tem crescentes compromissos na zona do Golfo.

10. A resistência afegá nom costuma matar a civis durantes as suas operaçons, já que os soldados estadounidenses e da NATO vam perfeitamente identificados. Em mudança, nom sucede o mesmo no bando contrário. Os afegaos que vivem nos povos das comunidades ocupadas som objecto de assassinatos por parte das "forças especiais" e de bombardeios dos avions teledirigidos. Nestas circunstâncias, a gente corrente sofre as mesmas agressons militares que os combatentes da Resistência.

Umha missom frustrada: a incapacidade de construir um exército mercenário afegao eficaz e de confiança

Umha auditoria realizada polo Governo estadounidense publicada neste mês de Junho botou por terra a afirmaçom do regime de Obama de que está a conseguir construir um exército mercenário afegao efectivo e umha polícia afegá capaz de reforçar o actual regime clientelista de Kabul. O relatório, baseado em umha análise detalhada e investigaçons sobre o terreno, argumenta que o Pentágono de Obama se apoia em "pautas tristemente inadeauuadas ao inflar as habilidades das unidades afegás que Obama descreveu como cruciais para a operaçom" (Financial Times, 7 de Junho de 2010). Em outras palavras, Obama segue jogando ao engano que exerceu durante a campanha eleitoral com as suas falsas promessas de "mudança" e o "final das guerras" e que continuou com o resgate de Wall Street em nome da "salvaçom da economia2. Depois seguiu com o envio de 30.000 soldados mais a Afeganistám e o incremento do gasto militar e policial até os 325.500 milhons de dólares, aproximadamente um 132% mais que no último ano do Governo de Bush (Serviço de Investigaçom do Congresso, FY 2010 Orçamento complementar para as Guerras de Junho de 2010).

As falsas afirmaçons de progresso do Governo de Obama basearom-se em critérios técnicos e burocráticos mais que no actual rendimento e comportamento combativos do exército mercenário afegao. Os relatórios de progresso do comando militar basearom-se em uns quantos cursillos que se tinham dado, a duraçom e o alcance do treinamento e a quantidade e qualidade das equipas e armas proporcionados aos soldados afegaos. À medida que se incrementava o número de unidades afegás em formaçom, de zero a 22 entre 2008 e 2009, o Pentágono afirmou que o progresso tinha sido extraordinário. Para corrigir os erros, o Pentágono solicitou aos comandantes que realizassem "valoraçons sobre o terreno" -que também falharom porque os oficiais tinham grande interesse em inflar o rendimento dos mercenários afegaos baixo o seu mando com o fim de se tentar as promoçons e as medalhas ao mérito. O regime de Obama projecta incrementar o número de soldados afegaos de 97.000 em Novembro de 2009 a 134.000 em Outubro de 2010 e 171.000 em Outubro de 2011, um aumento de 75% em dous anos (Serviço de Investigaçom do Congresso, página 13). O mesmo incremento está previsto para a polícia: de 93.800 em Novembro de 2009 a 134.000 em Outubro de 2010, um mais 43%.

A afirmaçom de Obama de que [a gestom de] a guerra está-se a entregar gradualmente ao exército afegao treinado por Estados Unidos desmente-se totalmente com outros dous factos básicos. A Casa Branca solicitou 1.900 milhons de dólares " -duplo do custo de 2009 baixo o Governo de Bush- para a construçom militar de novas bases e instalaçons, prevendo umha "presença em longo prazo2 (que o estafador Obama afirma que nom significa umha "presença permanente2). Em segundo lugar, utilizando o engano habitual do regime de Obama, o Secretário de Defesa Gates e o Almirante Mullen, Presidente do Estado Maior Conjunto, agora afirmam que a promessa feita durante a campanha de Obama de começar a retirar aos soldados em Julho de 2010 em realidade significa "quando iniciemos a transiçom... nom a data de retirada", baseada a sua vez em "as condiçons sobre o terreno... um processo de vários anos" (veja-se o depoimento de Gates ante o Comité das Forças Armadas do Senado do 2 de Dezembro de 2009). Em linguagem corrente, "iniciar a transiçom" nom é "partir". Significa ficar, combater e ocupar Afeganistám durante decenios. Significa enviar a mais soldados e construir mais bases. Significa gastar outros 400.000 milhons de dólares durante os próximos 5 anos. E significa dobrar o número de soldados estadounidenses mortos e feridos durante os próximos 3 anos, a mais de 7.000 a 14.000.

Os critérios de sucesso ao "afganizar" a guerra desmentem-se ao "americanizar" com cada vez mais as bases, tropas de combate e desembolsos. A razom é que os dados correspondentes ao exército afegao som tam falsos como as promessas de Obama. O pessoal estadounidense contratado cresce porque os fantoches políticos afegaos som tam corruptos, ineficaces e odiados polo seu próprio povo que Washington tem que arropá-los com "monitores", "assessores" e "funcionários", quem a sua vez som absolutamente incapazes de conectar com as necessidades e práticas das comunidades. Este incremento de ?ajuda? estadounidense causou mais corrupçom, mais promessas incumpridas e maior animosidade por parte dos possíveis beneficiarios.

O problema fundamental é que esta é umha guerra estadounidense, e é a razom pola que as unidades afegás padecem baixas de 50% devido a umha taxa de deseçom de ao menos um 20%, cifra reconhecida polos oficiais militares estadounidenses (Investigaçom do Congresso, página 14). Isto é, os afegaos recrutados colhem o dinheiro e as armas e voltam aos seus povos, bairros e famílias e, nom poucos, fazendo uso do seu treinamento militar, unem-se à Resistência Nacional. Tendo em conta estes altos níveis de desafecçom entre os afegaos recrutados, inclusive entre os oficiais, nom surpreende que a Resistência possua tam bons conhecimentos sobre os movimentos dos soldados estadounidenses. Dado o grau de desafecçom, nom surpreende que alguns dos colaboradores em inteligência estadounidense sejam agentes duplos ou vulneráveis a ser descobertos e executados. Ante um programa de reclutamento de mil milhons de dólares com altas taxas de deserçom e o facto de que os recrutados voltam-se contra seus mentores, a Casa Branca, o Pentágono e o Congresso se negam a reconhecer a realidade: que a fonte de resistência popular som as ocupaçons imperiais. Em cámbio, pedem mais gente para treinar, mais fundos para os "programas de treinamento" e mais contratistas de mercenários "transparentes".

A realidade é que apesar de umha maior ocupaçom por parte dos estadounidenses e os crescentes desembolsos militares, a Resistência cresce, rodeia as grandes cidades, escolhe como objectivo as reunions no centro de Kabul e as bases militares estadounidenses repartidas por todo o país. É evidente que os Estados Unidos perderom a guerra politicamente e estám a ponto da perder militarmente.

Apesar da tecnologia militar mais avançada, dos avions teledirigidos, das forças especiais, do incremento no número de soldados em formaçom, dos assessores, das ONG e da construçom a mais bases militares, está a ganhar a Resistência. A Casa Branca está a ganhar a hostilidade da grande maioria dos afegaos ao incrementar os milhons de deslocados, assassinados e mutilados. Os assassinatos de civis estám a converter aos militares recrutados em desertores e soldados "nos que nom se pode confiar", alguns dos quais passam ao "outro bando" como combatentes comprometidos. Igual que em Indochina, Argélia e outros lugares, um exército resistente guerrilheiro, popular, altamente motivado e profundamente implantado dentro da cultura nacional-religiosa de umha populaçom oprimida mostra-se mais resistente, duradouro e vitorioso que o exército imperialista, estrangeiro e provisto de alta tecnologia. A guerra Afegá de Obama, de "domínio ou ruína", mais cedo que tarde arruinará aos Estados Unidos e porá fim a esta presidência vergonhenta.

Fonte: Primeira Linha em Rede.


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