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Guillermo Almeyra

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Copa do Mundo: Diversom ou manobra diversiva de massas?

Guillermo Almeyra - Publicado: Segunda, 28 Junho 2010 02:00

Guillermo Almeyra

Devo esclarecer, antes de mais, que desde há mais de 75 anos, ou seja, quase desde que o amadorismo foi substituído pelo incipiente futebol profissional, sou torcedor desse desporto.


Mas penso que nom se dar conta da utilizaçom ideológica e política do campeonato mundial de futbol pelo capitalismo é dar prova de enorme superficialidade e grande ingenuidade. Porque o futebol há décadas que deixou de ser um desporto para se transformar num negócio que move centenas de milhares de milhons de dólares e, em particular, desde a utilizaçom que lhe deu o nazismo nos anos trinta, em ferramenta de propaganda política para obter ainda que seja umha momentánea uniom nacional por trás dos governos.

Nom é necessário recordar a promoçom do desporto de Estado por Mussolini, Hitler ou Stalin, ou o que foi para a ditadura o Mundial de Futbol que Argentina ganhou em Buenos Aires, enquanto fora dos estádios desapareciam dezenas de milhares dos melhores jovens e outros luchadores, entre eles centos de desportistas e atletas profissionais. Esse futbol onde uns quantos muito bem pagos jogam ante milhons de pessoas que jamais poderám praticar um desporto porque nom tenhem campos, salários nem alimentaçom suficientes, nem tempo livre ao terminar seus trabalhos extenuantes e mal pagos, e por isso simplesmente olham a caixa idiota que, de passagem, se populariza e isenta a cada tanto de seus crimes contra a consciência política e a cultura populares, ainda que apareça como umha diversom é, na realidade, umha manobra diversionista.

Como na época dos imperadores romanos, se nom há muito pam dá-se circo para que a gente nom pense ou, melhor dito, que pense em coisas sem importância, crendo participar e ser sujeito num espetáculo promovido pelos donos do poder para controlar inclusive os sentimentos e dar umha falsa sensaçom de alegria às vítimas do capital, desviando sua atençom das crises, as matanças, o desastre ecológico, a desocupaçom, as fames, a exploraçom e a opressom.

Como as drogas, este tipo de futebol cria umha bolha, um mundo fictício. De facto, hoje, na maioria dos países o futebol profissional, é o verdadeiro opio do povo, bem mais que a religiom, pois esta nom enche a vida dos torcedores desde a segunda-feira até a quarta-feira e desde a sexta-feira até o fim de semana com a mesma intensidade nem da mesma maneira absoluta. Também como as drogas, a prostituiçom ou as indústrias do jogo e dos entretenimentos (ou seja, dos instrumentos quotidianos de dominaçom do capital e de enquadramento do tempo livre das classes dominadas), esse tipo de desporto passivo e batoteiro é um excelente negócio.

A FIFA (Federaçom Internacional do Futebol Associaçom) possui mais de mil milhons de dólares e no ano passado ganhou 300 milhons simplesmente cobrando comissons às federaçons integrantes. E compra-a-venda de jogadores -que encontram num mundial umha montra para a sua exposiçom- movem centenas de milhons de dólares que ficam em maos dos dirigentes dos clubes, dos intermediários e representantes, e de outros tantos coiotes, e só em muito pequena medida chegam aos modernos gladiadores deste circo.

É claro que, ainda que em todas partes do mundo se apresenta a utilizaçom capitalista de um desporto popular (Silvio Berlusconi é proprietário do Milám e nesse carácter obtém votos de imbecis, e Mauricio Macri, o governador da cidade de Buenos Aires, foi elegido porque foi presidente do Boca Juniors, com o voto de milhares de torcedores distraídos), a magnitude dessa utilizaçom varia de acordo com a orientaçom política dos diversos governos.

Efectivamente, em todas as partes "cozem favas", mas, como dizia Juan Gelman, nalgumas "só cozem favas"? Os governos mal chamados populistas em particular, tentam fazer do desporto (passivo, televisivo) umha ferramenta ideológica para construir umha efêmera uniom nacional e umha fonte de glória moderna e barata, de cartom pintado.

Na Argentina, por exemplo, o governo tirou ao monopólio a Clarín o futbol por subscriçom televisivo (um negócio de 4 mil milhons de dólares) e transmite-o grátis, para todos, e com motivo deste mundial presenteou mais de um milhom de decodificadores digitais para que todos o pudessem ver. Sem dúvida, essas medidas constituem umha democratizaçom dos espetáculos. No entanto, há um senom: o canal oficial -o 7- se saturou de futebol, eliminou os programas informativos e de opiniom, bem como os debates de todo o tipo, e assim deu um importante impulso à estupidizaçom da opiniom pública e à utilizaçom demagógica dos recursos públicos, que poderiam ter sido destinados a usos culturais, reforçando a campanha diversionista do capital mundial.

De maneira que, na maior crise económica e social do capitalismo mundial e numa crise ecológica que poderia ser fatal para o destino da civilizaçom e do planeta, viveremos preocupados durante um mês por umas bolas e, perdoem-me a expressom, por uns charlatáns maçadores e explotadores da ingenuidade. Também em isto, umha civilizaçom em profunda descomposiçom imita os métodos da decadência do século III de nossa era, durante o Baixo Império Romano.


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