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António Barata

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A rua como futuro

António Barata - Publicado: Terça, 22 Junho 2010 02:00

Antonio Barata

Da parte de algumas forças políticas em particular do PP, Partido Popular, tem havido uma tentativa de criar uma imagem de criminalidade em relação aos beneficiários do Rendimento Mínimo de Inserção e do subsídio de desemprego, com acusações de subsidiodependência, de não quererem trabalhar, de viverem à custa do Estado, etc., como se fossem delinquentes preguiçosos e aproveitadores.


O efeito pretendido é socavar a solidariedade por parte dos restantes trabalhadores e preparar o terreno para reduzir estes benefícios. Esta campanha não é original. Paulo Portas e outros aprenderam-a com Margaret Thatcher e Blair, que sempre assumiram que os desempregados simplesmente não querem trabalhar.

O que na realidade acontece é que há extensas zonas do país em que não há mesmo trabalho de espécie alguma. Quanto à referência à "criação de emprego", é apenas retórica e ilusória, porque o que os patrões têm andado a fazer nestes últimos dois anos é diminuir a força de trabalho, para explorar com menos custos os seus assalariados, que assim passam a trabalhar mais.

Entretanto, todos os dias patrões, governantes e a direita nos enchem os ouvidos com o discurso sobre os malandros dos "desempregados que não querem trabalhar e só querem é viver à custa do subsídio de desemprego e do Rendimento Mínimo de Inserção". Aqui fica a história de um desses "malandros".

220610_JaloIliassa Jaló, guineense, 61 anos, trabalhou até ser despedido, em Janeiro de 2009, na CUF- Adubos de Portugal, SA, em Alverca, nas limpezas. Desde que foi despedido, alimenta-se com uma refeição que vai buscar todos os dias à cozinha do IAC, Instituto de Apoio à Comunidade, no Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira. Viúvo, vive sozinho no Forte da Casa. Sofre de uma incapacidade de 15%, que com o tempo se vai agravando devido aos ferimentos sofridos em 1972 na guerra colonial ao serviço das forças armadas portuguesas e pela qual não recebe nada.

Em Janeiro deste ano deixou de receber os 486 euros de subsídio de desemprego com que pagava os 400 euros de renda mensal, mais a água e a luz. Agora corre o risco de ser despejado por não ter qualquer rendimento com que possa pagar a renda de casa.

Em desespero, recorreu ao GAI, Gabinete de Atendimento Integrado da Junta de Freguesia do Forte da Casa, que o remeteu para o IAC. Além da refeição diária, aquilo que conseguiu foi a promessa vaga de que iriam tentar que lhe fosse adiantado o Rendimento de Inserção Social, para poder pagar as rendas em atraso, e uma certeza: vai ser despejado. Está por saber se para a rua ou para uma dessas pensões manhosas onde a Segurança Social costuma "depositar" temporariamente os desalojados.

Desalentado, diz: "Só tenho a segunda classe e com a minha idade é muito difícil arranjar emprego. Eu não tenho medo de trabalhar. Sempre trabalhei. Não tenho para onde ir e não tenho como pagar a renda. Nem sequer tenho dinheiro para comer. Se me puserem na rua, vou para onde? Para baixo da ponte? De um momento para o outro fiquei sem nada."


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