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Guillermo Almeyra

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O maio grego

Guillermo Almeyra - Publicado: Domingo, 09 Mai 2010 02:00

Guillermo Almeyra

O maio francês, em 1968, foi fruto da farteira e a esperança. O maio grego, em troca, é filho do repúdio ao sistema social e do desespero.


Por isso, enquanto o primeiro alastrou rapidamente por todo o mundo, desde o México à China, da Argentina à Checoslováquia, dos Estados Unidos ao Brasil e Itália, a rebelião de camponeses, operários, trabalhadores em geral, servidores públicos, professores, estudantes, artesãos e pequenos comerciantes e industriais criou na Grécia uma frente única, acima das classes, entre sectores que hoje estão unidos pela vontade de não pagar a crise que não provocaram e da qual são vítimas, mas provavelmente só encontrará eco, no imediato, nas próximas vítimas do capital financeiro e de sua especulação contra o euro.

Ou seja, em Espanha e Portugal, e talvez em Itália, porque uma das características da actual crise capitalista -a maior na história do sistema, que abrange o mundo todo- é que até agora enfrentou escassas manifestações em massa de protesto na Europa. Efectivamente, a descrença na ideia mesma da factibilidade de uma alternativa anticapitalista -provocado pelo inglorioso derrube dos partidos e governos que diziam ser comunistas ou pela transformação dos partidos comunistas chinês e vietnamita em promotores do capitalismo selvagem e, também, a extrema debilidade da esquerda anticapitalista em quase todos os países- dá como resultado que a raiva se canalize para os confrontos étnicos, como na Bélgica e Ucránia, e por trás das direitas xenófobas, em França ou Itália.

Enquanto na Grécia a crise brutal organizada por Goldman Sachs e o capital financeiro internacional, com a cumplicidade activa do governo da direita, deu-se quase ao dia seguinte de uma grande mobilização contra esta e do voto esmagador em favor do Partido Socialista, ou seja, encontrou uma população já militante e lutando com esperanças de mudar, nos outros países, salvo parcialmente em França e Alemanha, a desmobilização, o desánimo e a falta de esperanças numa alternativa reforçam a hegemonia política e cultural do capitalismo, e dão base para direitas dissímeis, como a espanhola, a húngara, as italianas berlusconiana, semifascista ou da Liga Norte, e a austríaca, as quais têm em comum o racismo e o chovinismo, e combatem a unidade e os sentimentos solidários entre os trabalhadores, os estudantes e técnicos jovens que esporadicamente resistem.

Por isso, o exemplo grego, provavelmente, encontrará mais apoio entre os estudantes, os jovens desocupados ou com empregos temporários e mal pagos, e entre os imigrantes e os indocumentados que são uma boa parte dos operários, mas estão divididos dos restantes explorados, mas no imediato não motivará as massas na maior parte dos países europeus. Ao contrário, a Grécia seguramente encorajará as acções combativas dos movimentos sociais urbanos na América Latina que não têm o travão, existente na Europa, dos partidos social-democratas.

Mas há que contar com a voragem e a cegueira do capital financeiro, que está a especular contra o euro e contra a instável União Européia (UE), e aposta no derrube de Portugal e de Espanha e a condicionar ainda mais à maltratada Itália. Ora bem, em Portugal, diferentemente dos dois últimos países, o Estado é frágil, como na Grécia; a burguesia, como a grega, é fraca, e a esquerda anticapitalista é poderosa e tem por trás de si a lembrança da Revolução dos Cravos. E em Espanha a crise económica une-se com os começos de uma crise de dominação que faz ressurgir o antifascismo, a polarização política e a necessidade da República. Uma situação à grega nos países mediterráneos meridionailes poderia difundir o maio grego por toda a Europa ocidental do sul.

No entanto, ao invés do maio francês, que pôs na ordem do dia a luta contra os aparelhos (dos grandes partidos comunistas e das burocracias sindicais), o maio grego rebenta quando os órgãos estatais de mediação (Igreja, partidos, burocracias sindicais) estão muito desprestigiados e debilitados, tal como as instituições. Mas fá-lo sem palavras de ordem ideais subversivas.

Na actualidade, os gregos lutam contra a utilização capitalista da crise capitalista para aumentar o desemprego, reduzir os rendimentos reais e os salários, destruir as conquistas históricas dos trabalhadores. Estão unidos pelo não ao Fundo Monetário Internacional e a UE, e pela rejeição à submissão do governo social-democrata diante do diktat do capital financeiro. Mas não formulam palavras de ordem nem sequer possíveis no imediato, como a expropriação dos bancos, impostos ao grande capital, rejeição às dívidas contraídas fraudulentamente pela direita, expropriação dos bens dos irresponsáveis e corruptos, para ter um fundo para a importação de alimentos em caso de carência. Ainda estão sob o impacto resultante da desilusão derivada de terem votado em massa contra as políticas de fome direitistas e de ver os socialistas, que as denunciavam, aplicar outras piores pouco tempo depois; ainda protestam, mas dentro dos marcos do sistema, e o seu radicalismo está nos métodos, mas ainda não no pensamento. No entanto, ainda não disseram a última palavra.

Fonte: La Jornada. Tradução: Diário Liberdade


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