A Islândia é que foi esperta, que disse que não pagava as dívidas dos bancos. Entre nós, com o centrão aliando-se para fazer passar o PEC e a esquerda parlamentar lamuriando-se, aceitam-se todas as imposições da Comunidade Europeia, por mais gravosas que sejam. A nós dizem-nos que o Estado previdência é insustentável e que tenhamos paciência, vamos ter de apertar o cinto.
A demagogia sobre os perigos da bancarrota pública é uma maneira de vergar-nos a todos aos interesses dos mercados financeiros. Os credores do Estado não são outros Estados, mas sim investidores privados, bancos, companhias seguradoras e fundos financeiros que compram de bom grado pacotes de dívida pública, por deles obterem juros muito lucrativos, como se viu agora com a crise da Grécia: as seguradoras e os bancos franceses, suíços e alemães são os seus principais credores, seguidos por bancos britânicos e norte-americanos.
Esta especulação com a dívida pública é um abuso que os cidadãos vão ter de subsidiar. Por isso nos dizem que cada um de nós deve uns tantos milhares de euros, não sabemos bem e a que credores. Por isso se privatiza quase tudo, a pretexto de falta de liquidez do Estado, sabendo-se de antemão que o Estado está assim a delapidar a propriedade pública e a empobrecer-nos ainda mais.
Com a aprovação deste PEC do governo, temos pela frente tempos mais duros. Entretanto, é patetice pensar que está tudo a correr bem porque a burguesia está em crise. Isso branqueia as oportunidades que a esquerda tem vindo a deixar passar e toda a inactividade e falta de espírito ofensivo que campeia por aí.
Na realidade, o sistema só se irá abaixo no dia em que as classes oprimidas começarem a fazer-lhe frente. Até lá, ele sempre recuperará, cada vez menos, é certo, e cada vez mais à nossa custa, mas não cai por si.
As crises de sobreprodução e de subconsumo suceder-se-ão em espiral porque a taxa de lucro desce sem parar, o desemprego aumenta e a baixa dos salários tem um limite. Se é de saudar esta decadência por ela anunciar novos tempos, cabe aos revolucionários apressar a sua chegada. É de recear pelo futuro do mundo no seu todo, com tantos focos de conflito, guerra e violência e com o agravamento da crise global, que não se defronta com nenhuma resistência firme por parte dos povos e dos explorados. É preciso que o proletariado se ponha em marcha para acabar com esse ciclo infernal e tomar conta dos meios de produção. As premissas já existem, só é preciso ir à luta. Não há razão para desânimos, porque é sabido que, não se sabe ainda onde nem quando, esse processo se iniciará.