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António Barata

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Quem não luta perde, sempre

António Barata - Publicado: Terça, 14 Fevereiro 2012 23:11

António Barata

A Martifer Construções, multinacional da construção metálica e solar, anunciou a 26 de Janeiro que vai encerrar a fábrica de Benavente, em Agosto deste ano.


A administração, em vez de despedir, "convidou" os 120 operários daquela unidade a mudarem-se para a fábrica de Oliveira de Frades ou a emigrarem para a Polónia, Roménia, Angola ou Brasil, países onde tem unidades fabris. Ao mesmo tempo, fazia saber que o fecho da fábrica de Benavente se deve ao agravamento da crise, que abrigou a "adequar as necessidades à realidade actual" – o peso da Península Ibérica na carteira de encomendas da Martifer Construções representava 70% em 2010. Em 2011, 30%, e em 2012 não deverá ir além dos 3%. Ou seja, os trabalhadores que paguem a crise.

A atitude dos operários perante a decisão e os argumentos de uma multinacional que emprega mais de 3 mil trabalhadores, aquém e além fronteiras, dá bem retrato da resignação com que uma parte subestâncial dos portugueses está a aceitar o esbulho a que estão sujeitos, a mando da troika, pelos amanuenses que fazem a vez de governo e o patronato. Sinais deste estado de espírito podem ser encontrados nas colunas de leitores dos jornais diários, nas vozes de populares que se pronunciam contra os malefícios das greves e a necessidade de todos termos de trabalhar ainda mais para ultrapassar a crise, ou no cansaço dos trabalhadores dos transportes, traduzida na fraca adesão à greve de 2 de Fevereiro (o que é significativo, dado que este tem sido o sector mais combativo na luta contra as medidas antilaborais).

Os trabalhadores da Martifer poderiam contrapor que se esta fábrica não dá lucro, as outras dão. E que não virá mal ao mundo se os accionistas forem remunerados abaixo do que estavam à espera; que para uma multinacional daquela dimensão, um prejuízo de 31 milhões não é nada que não possa ser coberto pelos lucros das outras unidades do grupo; que a sugestão de se deslocarem 300 km continuando a receber o mesmo salário de 600 euros, somado a 600 no caso de emigrarem, não é uma proposta séria, mas uma esperteza saloia. Os operários têm idades que rondam os 40 anos e as óbvias razões da inutilidade da proposta expressou-as um dos operários, com 56 anos, que, resignado, disse: "Sou casado, tenho filhos e netos e não posso abandonar assim a minha família de um dia para o outro". Uma situação comum aos restantes trabalhadores, como um outro, de 50 anos, que sempre trabalhou na fábrica, e que também diz que não pode abandonar os dois filhos, a esposa desempregada e os pais em idade avançada. Dos 120 operários, só um, de 36 anos, com a esposa desempregada e um filho de 5 meses, não se importa de deixar Benavente na condição da empresa garantir alojamento para si e para a família e um aumento de ordenado. O que, tendo em conta a proposta patronal e a passividade dos trabalhadores, está fora de questão.

Esta situação contrasta, pela negativa, com a dos operários da Cerâmica Valadares que, enfrentando uma situação idêntica à dos Martifer, não se resignam a serem eles a suportar o peso da crise. Com salários em atraso, cujo pagamento os patrões vêm adiando semana a semana com a desculpa de falta de dinheiro, e o anúncio do encerramento e do despedimento, entraram em greve com piquetes que não deixam sair nada da fábrica. Exigem o pagamento dos salários em atraso e explicações convincentes. E a provar que vale a pena lutar, os patrões da Valadares, que diziam não ter qualquer encomenda, lá "desencantaram" uma que vai permitir à cerâmica laborar por mais algum tempo e pagar salários.


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