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Iñaki Gil de San Vicente

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Sobre o Estado espanhol

Iñaki Gil de San Vicente - Publicado: Sábado, 04 Fevereiro 2012 01:00

Iñaki Gil de San Vicente

Um dos maiores perigos que ameaça as forças revolucionárias, sobretodo as independentistas, é aceitar o tópico de que a «crise espanhola» é quase exclusivamente económica, como se vê nesses mais de 5 milhons de desempregados que podem chegar a seis, no derrube financeiro-imobiliário, na impagável dívida privada e pública, na economia subterránea que supera os 24% e que se dispara no Verao, na fraude fiscal e a corrupçom, nesse dado oficial de 25% da populaçom já empobrecida, e nessas 500.000 famílias que serám despejadas de aqui a 2015, etc.


Dizemos que reduzir a crise estatal ao económico é um dos maiores perigos, porque semelhante reducionismo nos impede enxergar outras crises mais ou menos relacionadas com o económico mas com umha clara autonomia dentro da totalidade. Ao nom ver as partes do todo, também nom vemos este nas suas contradiçons internas e, portanto, nas suas grandes tendências evolutivas. Semelhante cegueira pode condenar-nos a repetir os mesmos erros cometidos na década de 1970, cujas consequências ainda sofremos.

A dívida total do capitalismo espanhol é a maior da sua história, superando os 800.000 milhons de euros, 70% do seu PIB e mais do séxtuplo do orçamento estatal para 2012 que é de 120.000 milhons de euros, e a sua dívida militar oscila entre 27.000 e 31.000 milhons de euros, para o que se precisarám duas décadas até a satisfazer. No entanto, devemos aprofundar em três problemas sem os quais nom se entende o característico do longo período atual. Um, o primeiro, é que se trata de umha crise económica estrutural, de modelo produtivo e nom só das suas formas financeiras e imobiliárias, e inclusive industrial, segundo se segue achando. Estas componentes som verdadeiras mas apesar do seu desquiciante magnitude só refletem umha falha mais profunda, decisiva, a do atraso permanente da produtividade do trabalho do capitalismo espanhol a respeito da produtividade média das economias do seu meio. E à longa, como advertia Trotsky, a lei da produtividade do trabalho rege os destinos dos Estados e dos povos.

Há várias formas de aumentar a produtividade do trabalho, mas a decisiva é a revoluçom tecnocientífica. Pois bem, o capitalismo espanhol fai todo o contrário. Em 2010 a despesa privada em I+D caiu 0,8% a respeito de 2009, reduzindo-se 16% as empresas nesta decisiva indústria, sendo a PEME de entre 11 e 49 empregados as que recuam 28%, e as empresas em telecomunicaçons com 17%. Em 2010 só fôrom registadas 3.669 patentes frente às 20.000 italianas, as 30.000 francesas, as 88.000 alemás, por nom citar as japonesas e as ianques. A «mediocridade universitária» estatal é conhecida internacionalmente já que nom há nengumha universidade entre as 100 primeiras do mundo, umha ou duas entre as 150 ou 200, estando a maioria entre as 300 e 500. Na escala de «excelência científica», o Estado ocupa o local 21 dentre 50 e tende a cair, polo que mais de 1.000 cientistas muito qualificados assinárom um documento público advertindo de «alarme científica».

O segundo problema está relacionado com este e é a debilidade da classe burguesa e especialmente da pequena burguesia. As grandes empresas espanholas pertencem a 200 famílias e cada vez mais ao capital transnacional, e as industriais se vam extinguindo frente ao poder que desde há quase em um século tem o capital financeiro, o energético, o comunicacional, o imobiliário e cimenteiro, o turístico e o de serviços. É um capitalismo que depende do exterior e que se tornou já um «protetorado económico». O pior é que a pequena burguesia e a mal chamada «classe média» se estám a reduzir: nos nove primeiros meses de 2011 houvo umha queda de 101.200 autónomos, 3,4% menos, mas na Europa crescêrom em 21.300 nos três primeiros trimestres do passado ano, 0,1% mais que no mesmo período de 2010, especialmente nos Países Baixos com 1,7%, Estado francês 1,9%, Gram Bretanha 2,5% e a Alemanha com 3,8%. Desde 2008 sumírom 177.336 empresas, a maioria PEME´s, que contratam entre 90 e 95% da força de trabalho, enquanto as grandes empresas de 5.000 ou mais trabalhadores passárom de 99 em 2007 a 107 em 2011. De julho a novembro de 2011 fechárom 35.000 empresas, a maioria PEME´s, e é sabido que som muito poucas as empresas industriais que se voltam a abrir.

No final de 2011 as administraçons públicas deviam à PEME nada menos que 45.000 milhons de euros, enquanto no primeiro trimestre de 2009 117.000 PEME´s tinham fechado o acesso ao financiamento bancário, 10% do total, enquanto as dificuldades de financiamento afetavam 87,5% do total. Como se aprecia, encontramos-nos ante um exemplo de livro da lei da concentraçom e centralizaçom de capitais sobretodo durante as crises. Historicamente, a crise da pequena burguesia tem dous efeitos opostos na vida sociopolítica, por um lado, a maioria tende a girar à direita e extrema direita, ao racismo, ao sexismo, e a minoria tende a girar para a democracia progressista e para a esquerda, ficando um setor intermédio expectante, passivo e manipulável. Nestes momentos é decisiva a intervençom de umha esquerda revolucionária com um programa sociopolítico aberto e integrador mas dirigido polo povo trabalhador e o seu contrapoder de massas.

E o terceiro é o retrocesso internacional. Em janeiro de 2011 conheceu-se um relatório que advertia que para 2050 terá-se retrocedido ao décimo oitavo posto na hierarquia imperialista. Está a alargar-se a «brecha de confiança» que separa o capital transnacional do estatal. A decadência acelerará-se ao debilitar-se a pequena burguesia e ao retroceder em 0,5% o PIB devido ao criminoso ajuste que se está a implantar, segundo as estimativas menos pessimistas. No final de 2011 soube-se que o Estado retrocedia no social a níveis de 2002, e que já estava a oito pontos por embaixo da média da Uniom Europeia. De 2007 a 2010 perdeu 6 pontos no PIB europeu, polo que desde maio de 2010 a política económica tem estado desesperadamente orientada a frear este retrocesso, obedecendo submissamente os ditados do capital internacional. Mas a 25 de janeiro de 2012 um diário económico dizia: «Spain sob suspeita em Davos», onde o PP assegurava ao imperialismo que imporá o déficit zero a qualquer preço.

Vemos que nom é só umha simples «crise económica» senom bem mais. Que soluçons tem a burguesia? Umha, esmagar os povos trabalhadores internos. Dous, aumentar o imperialismo externo; e, três, potenciar um negócio misto: em 2003 as empresas BBVA, Iberia, Sol Meliá e Uniom Fenosa apresentárom o Projeto Marca Espanha, como reclamo exterior e coesionador interior. Em novembro de 2010, os dezassete capitalistas mais poderosos apresentárom ao rei que Franco nomeou o relatório Transforma Espanha, da Fundaçom Everis, fazendo questom da marca-país, na marca-Espanha. Em janeiro de 2012, realizou-se a segunda ediçom do Spain Investors Day com a presença das 34 grandes empresas e o ministro de Indústria para convencer ao capital internacional que «Espanha tem muito que oferecer aos investidores». Pouco antes, em janeiro de 2011 soubo-se que a língua espanhola ajudava a gerar 16% do PIB mundial com os seus 450 milhons de consumidores culturais, umha transnacional cultural dirigida de Madrid já que o «fator Ñ» contribui para 3% do PIB espanhol. Aliás, o PP quer comercializar as televisons autonómicas e provavelmente as escolas para aumentar o lucro privado e fortalecer o ultracentralismo espanhol.

As esquerdas revolucionárias e independentistas nom devemos basear as nossas estratégias nos tópicos fabricados pola mansa inteletualidade espanhola senom no nosso próprio pensamento, com o objetivo de nom repetir no essencial os erros da década de 1970.

Iñaki Gil de San Vicente

País Basco, 31 de janeiro de 2012


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