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Xurxo Martiz Crespo

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Jovita Pérez, viúva de José Velo: In Memoriam

Xurxo Martiz Crespo - Publicado: Domingo, 18 Dezembro 2011 13:07

 

Xurxo Martínez Crespo

No passado dia 7 de Dezembro, morreu no exílio venezuelano a que fora mulher e companheira de José Velo, desde o seu casamento em 1936 em Cela Nova, Jovita Pérez (Cela Nova, outubro 1915 - Caracas, dezembro 2011).


Triste casualidade que o seu passamento coincida com o 50º aniversário do assalto ao paquebote português Santa Maria, que assinalaria também o início de outro exílio para o seu homem, o diretor geral do DRIL José Velo, e o começo do exílio do seu filho menor, Vítor, que também participou no sequestro com o seu pai, além de ser o único sobrevivente da família Velo Mosqueira, pois ainda reside no Brasil.

A vida de Jovita Pérez esteve marcada pela repressão do golpe de Estado fascista de 1936 contra o seu homem. José Velo viveu de detenção em detenção, de tortura em tortura, oculto e fugindo das ocasionais detenções das forças policiais fascistas. Encurralado permanentemente, José Velo foge para Portugal, Porto, Estoril, Lisboa e apesar de ser detido pela polícia secreta portuguesa, a PIDE, consegue sair graças à organização cuáquera estadunidense Unitarian Service. Parte de Lisboa, em 1948, com um passaporte venezuelano concedido pelo governo de Rómulo Gallegos no qual pode ler-se: «Filiação política: republicano galeguista»

Enquanto Velo embarcava para Caracas, Jovita ficava com os filhos, Lino, Manuela e Vítor na Galiza. Tempos difíceis para uma mulher sozinha com três filhos que atender e um homem fugido. A finais de 1949 chega Jovita a Caracas com os três filhos depois de aguardar mais de 6 meses a documentação venezuelana para a viagem na casa do galego Luís Peres em Monte Estoril.

A foto do cruzamento da raia não pode ser mais dramática: Jovita com os seus pais, os três filhos, o chofer e o polícia espanhol (à paisana) que os acompanhava.

Jovita será o alicerce mais importante da família Velo na Venezuela. Pela sua casa no bairro caraquenho de La Pastora passarão desde o autoexilado Luís Peres, que os tinha ocultado no Estoril, até o próprio José Sesto e o seu filho mais velho.

Com a criação do Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL), e a codireção de Velo (o outro diretor era o português Humberto Magro) chegará o momento mais dramático da vida de Jovita e dos seus filhos. O sequestro do Santa Maria em janeiro de 1961 e a concessão do status de refugiados políticos para José e Vítor Velo criarão uma fenda familiar difícil de salvar. Por um lado Jovita, Lino e Manuela em Caracas, do outro José e o seu filho Vítor no Brasil.

As viagens desde Caracas até São Paulo serão habituais para Jovita, Lino e Manuela. Mas desde a chegada à Venezuela em 1949 e o assalto em janeiro de 1961, já não voltarão a estar todos juntos.

Conheci pessoalmente Jovita em 2002, na filmagem de um documentário sobre o Santa Maria. Fomos com uma produtora venezuelana à sua casa (vivia com a neta) e a equipa queria que lesse uma carta de José Velo dirigida a ela para poder gravar a sua voz.

A pequena letra de Velo impedia a Jovita poder lê-la. Pediu-me que lhe transcrevesse toda a carta, em letra grande. A carta era uma bonita carta de amor, em galego. Chamava-lhe «churrinha» e falava de tempos passados que foram melhores. Foi um momento dramático. Depois, quando vi aquelas imagens no documentário, ainda foi mais.

Em 2002 os ex-presos da cadeia de Burgos fizeram no cárcere uma homenagem a todos os que morreram e a todos os que sobreviveram ao fascismo espanhol.

Desde Caracas mandara o comunista galego Alberto Puente uma carta para ser lida na homenagem. A carta por completo estava dedicada às mães, irmãs, mulheres e filhas que durante anos, às vezes mais de 20, mantiveram uma ligação dos presos com o exterior. Com calidez humana estas mulheres levaram roupa, comida e companhia a estes homens. A luta mantida durante todos esses anos teria sido impossível sem essa visita semanal.

Essa pequena homenagem de Alberto a todas as mulheres anónimas é trasladável a Jovita Velo. Bem dizia o seu filho Vítor: «Não é possível falar do acontecimento do Santa Maria sem falar de Pepe Velo, mas sim é possível falar de Pepe Velo sem falar do Santa Maria.»

Isto podemos transferi-lo para Jovita e José. Não é possível falar de um sem o outro e a luta contínua deste galego imenso não pode ser percebida se não for à sombra de uma galega entregue e luitadora porque, como diziam os gregos da Antigüidade, só àqueles que sofreram lhes é dado compreender.


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