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Iñaki Gil de San Vicente

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ETA como princípio de realidade

Iñaki Gil de San Vicente - Publicado: Quinta, 17 Novembro 2011 15:19

Iñaki Gil de San Vicente

Sem dúvida, com o tempo e graças à praxis, os marxistas dos povos oprimidos iremos desmontando o dogmatismo mecanicista e formal do "marxismo espanhol".


Neste avanço do conhecimento, a teorizaçom da experiência da ETA será tam decisiva, no enquadramento europeu, como o foi e está a ser no enquadramento latino-americano, a teorizaçom das guerrilhas, da vida do Che e de Marulanda, dos contributos de Mariátegui, do conteúdo social, revolucionário e de libertaçom nacional preburguesa de Tupaj Kamaru e de Tupaj Katari, et cétera; para nom nos estendermos com revolucionárias e revolucionários africanos, asiáticos, etc. O euromarxismo tem tido medo a estudar algo que mais cedo do que tarde tem de se enfrentar: as guerrilhas de libertaçom nacional na Europa nazifascita de 1939-45, e a outras posteriores, enquanto heróicas e impressionantes demonstraçons da dialética entre o objetivo e o subjetivo, dialética que traz à luz o princípio de realidade, isto é, a objetividade da exploraçom, da dominaçom e da opressom.

É aqui que a ETA aparece como a força chave que, por um lado, sintetiza todas as contradiçons que apodrecem o capitalismo europeu e, por outro, mostra como a acumulaçom de forças progressistas chega um momento que permite o salto qualitativo a um cenário político novo. Nom podemos expor agora a primeira questom, que entra em cheio na crítica do euromarxismo, só podemos dizer que as luitas de libertaçom nacional se caraterizam por certas diferenças relativamente às luitas revolucionárias nos povos que nom padecem opressom nacional. A luita de classes "normal" nom se livra num contexto em que as subjetividades coletivas, os referentes históricos e a carga emotiva polos sacrifícios da luita, atingem a importáncia objetiva, material e política, que tenhem nas naçons esmagadas que levam dezénios a enfrentar o ocupante. Com isto nom negamos, em modo algum, a importáncia do subjetivo na luita de classes, simplesmente queremos recordar a diferença -que nom contradiçom- entre os dous processos revolucionários, que tenhem o mesmo objetivo último.

Vamos estender-nos na segunda porque é a mais urgente, analisando três questons de inegável significado que mostram porque a ETA tem sido e é o princípio de realidade, embora já nom atue militarmente. Sem entrarmos em debates psicoanalíticas, por princípio de realidade entendemos aqui a capacidade de ir à raiz e mostrá-la ao mesmo tempo na superfície com a forma de objetividade da opressom nacional. Quem conhece os rudimentos da epistemologia marxista sabe que falamos da aplicaçom da dialética materialista à luita de libertaçom. Começando já com a primeira questom, há que dizer que o princípio de realidade se tem mostrado de maneira irrefutável com o comunicado da ETA sobre o fim da sua atividade armada, já que destroçou todas as mentiras elaboradas durante anos. Durante anos, a indústria política-mediática esforçou-se em "criar a verdade" de que a ETA estava em agonia pré-mortem e a esquerda abertzale na inaniçom. Embora militantes independentistas levemos tempo a explicar a acumulaçom de forças, tanto as sofisticadas técnicas de manipulaçom mediática como as nossas limitaçons e erros, além de outros factores, facilitárom que se mantivesse a mentira da derrota.

As reaçons espanholas perante o comunicado indicam que sempre se impom o princípio de realidade. Agora se entende perfeitamente que a ETA nem se rendeu nem está derrotada, simplesmente adverte que dá mais um passo na sua longa luita política, deixando um instrumento tático e priorizando outros. A política espanhola pujo o grito no céu ao nom poder deleitar-se vendo umha conferência de imprensa em que os seus participantes aparecessem sem capuzes, como os autoderrotados p-ms no seu tempo. A imagem e a simbologia som expressons materiais e o nacionalismo imperialista espanhol compreendeu-no perfeitamente, ladrando com impotente fúria. Os capuzes, ainda sendo importantes, som parte de um comunicado que chama as cousas polo seu nome, e esta radical coerência ética-política que carateriza a ETA di todo, o que reforça a sua afirmaçom de que a acumulaçom de forças democráticas conseguida nas piores situaçons repressivas permite e exige dar um salto na mobilizaçom política. Nom se trata de um salto ao vazio, porque todo demonstra que a acumulaçom conseguida até agora em muito penosas condiçons tende a se alargar e, além disso, a decisom da ETA acaba com as desculpas de quem dizia que a sua atividade armada impossibilitava toda a luita social e popular. O comunicado tampouco nega a história do independentismo socialista. Já que, desde há um terço de século, a ETA tem proposto finalizar a sua atividade armada se se chegava a umha unidade similar à atual.

Mas a realidade impom-se inclusive para a esquerda independentista e para a ETA, e assim chegamos à segunda questom. Queremos dizer que o comunicado se fai público quando levamos quatro anos a sofrer umha crise socioeconómica que tem conteúdos novos se a comparamos com as anteriores. É verdade que nom se entende nada do capitalismo se se desconhecem as suas crises periódicas e que, portanto, todo projeto independentista e socialista deve sempre ter em conta o rebentamento periódico de crises pequenas, mas fundamentalmente de crises globais mais espaçadas no tempo que fecham fases e abrem outras, como acontece nestes momentos. Embora o movimento operário e popular basco há tempo que se tenha dado conta da gravidade e profundidade do desastre económico, ainda há partes dele que nom terminam de adequar ao contexto de crise de longa duraçom a dialética entre libertaçom nacional e de classe, além do sexo-género.

As três greves gerais sustentadas no passado recente e um sem fim de luitas operárias, populares e sociais que se livram praticamente todos os dias em defesa das condiçons de vida e trabalho, esta realidade permanece em segundo plano, enquanto o fundamental e único decisivo parece ser a resoluçom do contencioso armado e a denominada "normalizaçom política". A interaçom permanente entre o nacional e o social, que foi um dos segredos da força do primeiro independentismo socialista, está nestes momentos reduzida ao formulário teórico e à meritória açom do sindicalismo abertzale e de movimentos e coletivos específicos que se foram criando para encher vazios organizativos causados pola repressom, mas também por outras prioridades. Brutalidades inaceitáveis como os despejos, os despedimentos, o empobrecimiento crescente e até a miséria que começa a golpear, o desemprego estrutural especialmente na juventude e na mulher, etc, estas e outras ferocidades burguesas encontram umha resistência descoordenada e, o que é pior no longo prazo, sem umha precisa inserçom teórica e política no projeto de conquistar um Estado independente. Desta forma, enquanto se dam passos valiosos no nacional, o social permanece relativamente afastado. Nom faz falta dizer que a burguesia aproveita este vazio, esta fenda, para atacar sem piedade o povo trabalhador.

Entramos assim na terça e última questom, já que a esquerda abertzale é muito consciente deste desfasamento transitório que deve ser superado pola sua importáncia chave para a conquista dos objetivos históricos, e pola sua importáncia atual para elaborar umha política de aglutinaçom de amplos setores sociais atacados em diverso grau pola ocupaçom espanhola e interessados em criar um Estado basco. No duro contexto de longa duraçom imposto pola crise o princípio de realidade encontra a sua explicaçom teórica na criaçom desse amplo movimento liderado pola classe trabalhadora. Na história do pensamento marxista, tenhem-se dado nomes diversos às diferentes realizaçons deste movimento, destacando o de "revoluçom democrática nacional", na maioria das luitas de libertaçom nacional anti-imperialista. Um debate permanente sobre este particular surge quando se tem que precisar o ritmo revolucionário num capitalismo altamente industrializado, com as suas contradiçons tensionadas ao máximo, quando esta agudizaçom obriga as classes a se posicionarem nos extremos, olhando diretamente o problema do poder e da propriedade.

A opressom nacional incide aqui determinantemente, marcando a luita de classes interna ao povo ocupado com ritmos próprios. Nom entender este princípio de realidade levou o euromarxismo a estrepitosos fracassos. Os povos oprimidos, por sua vez, tenhem o risco de cometer um dos dous erros suicidas: acelerar a velocidade sem atender ao ritmo de acumulaçom, achando que pode dar o salto da revoluçom democrática nacional para a revoluçom socialista por simples voluntarismo idealista, o que conduz para umha chacina sangrenta; ou avançar com lentidom lánguida procurando nom atemorizar a mediana burguesia, dando-lhe tempo para se recuperar e contraatacar com o apoio imperialista, produzindo-se um banho de sangue ou estancando a luita de libertaçom nas marismas do pessimismo derrotista. Ambas as possibilidades já se dérom em muitos casos, e para as evitar foi imprescindível a existência de umha força revolucionária organizada e preparada. Na nossa história, a ETA tem sido decisiva neste sentido.

Fonte: Abrente nº 62 (Primeira Linha).


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