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Guillermo Almeyra

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Primeiras conclusons das eleiçons na Argentina

Guillermo Almeyra - Publicado: Quarta, 02 Novembro 2011 01:00

Guillermo Almeyra

Cristina Fernández de Kirchner (CFK) sacou quase o 54 por cento dos votos em umhas eleiçons gerais (para nomear presidente, vice-presidente, senadores e deputados nacionais e provinciais, governadores das províncias e presidentes da câmara municipal).


É assim a primeira mulher que resulta reeleita presidenta. Na história das eleiçons presidenciais argentinas é também quem conseguiu o maior número de votos e a maior diferença em relaçom ao segundo (mais de 35 por cento dos sufrágios). CFK obtivo também em ambas Cámaras, com os aliados do seu partido, a Frente para a Vitória (RFPV), quórum próprio, a direçom das comissons que desejar e maioria, o qual vai permitir-lhe apresentar e fazer aprovar sem entraves as leis que considerar necessárias (até agora nom podia nem fazer aprovar o orçamento). Ganhou igualmente oito das novas governaçons em jogo, o controlo das legislaturas provinciais e de quase todas as presidências de municipios onde apresentou candidatos.

Embora tenha obtido todo isso graças ao apoio direto dos barons e notáveis da FPV, que som de direita, e à incapacidade e fragmentaçom da oposiçom apoiada pola maioria das classes dominantes e o capital financeiro internacional e os seus meios "noticiários", o triunfo eleitoral é sobretodo dela. Portanto, terá maos livres no seu governo e no aparelho partidário do mesmo modo que estes -submetidos agora ao seu arbítrio- terám o campo livre nas instituiçons. CFK submete portanto o partido, o governo e as instituiçons à sua vontade e a FPV manda por sua vez sobre o aparelho estatal; a Argentina formalmente parece assim umha Cuba ou Venezuela particular, sem declaraçons "socialistas" e com umha política internacional muito moderada em todos os terrenos, mas latino-americanista e unionista, integracionista.

Para entender melhor os resultados sem precedentes destas eleiçons convém ter em conta que o país experimenta desde há oito anos um crescimento económico rápido (de oito por cento desde 2010) que só é inferior ao da China e ao da Índia, o qual permitiu reduzir a desocupaçom, o trabalho "em negro", a miséria, subsidiar os consumos e serviços, investir e construir obras públicas.

Também há que considerar que todos os habitantes do país veem com preocupaçom a crise capitalista mundial e temem o seu possível propagaçom no país mediante umha crise no Brasil e no Mercosul, que dam por descontadas. Portanto no voto, bem mais que umha esperança num melhor futuro, há um poderoso e em massa elemento de conservaçom do conseguido nestes anos e de exorcismo da possibilidade de retroceder para o neoliberalismo mais cru. Além disso, o voto de CFK é interclassista e tem motivaçons opostas.

Os industriais e os grandes capitalistas, muito favorecidos polas políticas governamentais que lhes asseguram apoios de todo o tipo, suculentos subsídios aos serviços e os alimentos e paz social (mediante o controlo burocrático-corporativo dos sindicatos, que som em massa) votárom, por exemplo, pola continuidade e deixárom no ar os partidos de oposiçom, porque o governo propom desenvolver, por exemplo, um ambicioso plano industrialista que inclui a fabricaçom de um carro popular muito barato (o AIPA), feito com maioria de componentes argentinas e com design nacional e que poderia ser elétrico. Por sua vez, as classes médias urbanas, contentes com o boom da construçom e dos consumos unírom-se num mesmo voto cristinista às classes médias rurais, que jamais ganharam tanto e que por isso abandonárom a sua oposiçom de antano, quando estavam dirigidas polos sojeiros na luita contra as retençons às exportaçons de graos. CFK ganhou certamente nos setores operários, que conseguírom melhores salários, melhor nível de vida, mais trabalho e que temem perder o adquirido e ganhou também na maioria das classes médias do país, o qual explica os 54 por cento de votos. Todos os partidos da oposiçom, somados, tivérom por isso 10 por cento menos que o presidente reeleita.

CFK nom é Perón: nom tem um projeto e, sobretodo, nom se apoia sobre os trabalhadores organizados controlando um aparelho sindical corporativo e fazendo concessons salariais e de poder nas empresas. Esse peronismo morreu já em 1952, antes da fugida de Perón. O justicialismo, que o substituiu, desde há décadas nom passa de 30-33 por cento do eleitorado. Ora bem, CFK conseguiu 54 por cento. Quase metade dos seus votos nom som tradicionalmente peronistas: som kirchneristas, cristinistas e controla-os ela, nom a direita que controla os aparelhos estatal e partidário. Por isso imporá a sua vontade sobre estes aparelhos, tentando modificá-los ou substitui-los por um grupo ad hoc de jovens burocratas fiéis.

Os votos "extra" provenhem do descalabro da Uniom Cívica Radical, pola sua política gorila raivosa e a sua aliança com o capital financeiro, os sojeiros e a direita criminosa peronista, ou do afundimento do grupo de "Pino2 Solanas, dos setores mais pobres do movimento conservador que apoiam Mauricio Macri na capital, do setor "progressista" que seguia socialistas e comunistas (estes últimos tornárom-se kirchneristas-cristinistas sem recato algum).

Insistimos: nom triunfou o peronismo, apesar da retórica cansada de CFK e dos que ainda cantam a marcha que di "Perón Perón, que grande sos! vos combates o capital!". CFK manda sobre um aparelho que depende dela mas que nom lhe é fiel a ela nem a ninguém, apoia-se sobre umha maioria enorme que lhe dá força, mas que é irrepetível. Nom pode nem tentar apresentar umha mística nem um remedo de doutrina (a chamada "terceira posiçom" peronista que dava origem a tantas piadas). É a expressom de umha enorme e relucente bolha decorrente, por assim dizer, de dous vazios somados: a carência de umha esquerda apoiada em umha consciência de classe da maioria dos trabalhadores e explorados, e a fragmentaçom e esterilidade de umha oposiçom que nem pode dizer o que pensa porque ficaria ainda mais reduzida e feita pedaços. O cristinismo é um peronismo light e a sua hegemonia ideológica é, na realidade, a da versom crioula desse engendro chamado "progressismo" latino-americano, que consiste em umha mistura do extrativismo e o neodesenvolventismo com as políticas neoliberais, mas aplicadas polo aparelho estatal como grande ator no mercado nacional e mundial.

CFK assumirá agora e mais que antes o papel da Grande Decisionista, concentrando nas suas maos até a nomeaçom de um contínuo numha escola. Portanto, encontrará as resistências de quem desloque e as pressons das diversas camarilhas e "famílias" no governo e na FPV. Terá que ver pois quem nomeia na chefia de Gabinete e, sobretodo, em Economia, para ver se esse papel sobre as partes o tem também sobre os setores e as classes dominantes (UIA, Coordenadora Rural, setor financeiro) e se o seu novo poder lhe permite estabelecer um controlo de mudanças para evitar a fuga de capitais ou fazer votar o monopólio (ou ao menos o controlo) do comércio exterior, e daí fai no plano internacional para conseguir fundos para manter o crescimento, criar nova infraestrutura (sobretodo energética) e investir para manter o emprego sem endividar o país.

A direita peronista (Rodríguez Sáa, Duhalde, Narváez) é heterogénea, tem demasiados caudilhos enfrentados entre si e vai fragmentar-se. Alguns dos seus restos irám para a FPV e outros vegetarám. A Uniom Cívica Radical perdeu as governaçons, é mal, de longe, o terceiro partido e conserva ainda algumhas presidências de município nas capitais provinciais e alguns deputados, senadores e vereadores mas se está a murchar a olhos vistos. Hermes Binner, com o seu heterogéneo bloco (a Frente Ampla Progressista) embora nom seja da direita, mas um homem de centro ou centrodireita, será o candidato da direita tradicional neoliberal para a reconstruçom da mesma. Muitos "progressistas" pró-esquerdistas e intelectuais que acompanham CFK serám recusados quando esta, para manter a sua maioria, reforce o seu autoritarismo e gire para um acordo mais explícito com os industriais e com as finanças e, se a situaçom económica provocar tensons, recorra à repressom anti-obreira. Há ampla margem, pois, para a esquerda.

Se o FIT, deixada atrás a campanha eleitoral que lhe deu acesso a grandes camadas de trabalhadores, entendesse que ainda nom é a real Frente de Esquerda que fai falta porque a esquerda vai bem mais lá dos que som ou se dim trotskistas, se reforçasse os elementos que unem aos seus integrantes sem cair por isso em um doutrinarismo sectário, poderia dar um grande salto adiante. Para isso deveria abrir-se ao mesmo tempo à açom comum com outros setores nom trotskistas (como a Frente Darío Santillán, os diversos agrupamentos estudantis de esquerda, os setores da Juventude Sindical ou que votárom em CFK) propondo a luita por objetivos concretos. E deveria apresentar um programa de açom que parta das necessidades concretas dos trabalhadores e explorados, de propostas possíveis e críveis, para criar umha cultura de massas anticapitalista e para ajudar a todos a unirem a luita pola libertaçom nacional com o internacionalismo e o socialismo. Se o FIT se orientasse nesse sentido, dando um salto teórico e organizativo, o quase meio milhom de votos que o escuitou ou apoiou poderia será umha semente fértil e frutificar claramente no campo que se abriu para os próximos meses e anos.

Fonte e traduçom: Primeira Linha, a partir de La Jornada.


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