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Camilo Nogueira

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Em coluna

Cego espanholismo

Camilo Nogueira - Publicado: Terça, 20 Abril 2010 00:00

Camilo Nogueira

Este Governo Galego não deixa de surpreender-nos.


Agora fixo-o o Conselheiro da Presidência, acordando em Valladolid junto com o seu homólogo de Castela e León a criação de uma macro-região a três com o Norte de Portugal, seica para conseguir fundos europeus para um programa transfronteirizo destinado a impulsionar os serviços de emergência e o intercâmbio de experiências na automoção, a educação, a investigação científica e tecnológica e dinamizar conjuntamente actividades socioeconómicas e culturais. A Junta secunda assim uma ideia defendida em 2009 polo Presidente daquela Comunidade Autónoma, Juán Vicente Herrera, depois de uma viagem a Lisboa procurando “encontrar fórmulas de cooperação em tempos de crise”.

A decisão do Governo Galego presidido por Alberto Rodríguez Feijóo revela de novo que carece de uma visão da Galiza como entidade política em si mesma, com o que isto supõe para a função das instituições autonómicas nos projectos económicos e culturais e nas relações exteriores, tanto mais quando se trata de Portugal. Este Governo esquece que existem instituições, que necessitam ser consolidadas e fortalecidas, como a Comunidade de Trabalho entre o Governo Galego e Comissão de Coordinação e Desenvolvimento Regional do Norte de Portugal e o Eixo Atlántico que integra dezanove cidades dos dous territórios (claro que das galegas praticamente nenhuma é governada polo PP). Ignora que a acção conjunta com Castela e León não agrega nada nas relações com a nação vizinha e mesmo desvirtua às relações especiais que estabeleceram a Galiza e Portugal depois da entrada conjunta na Comunidade Européia e do esvaecimento da absurda fronteira do Minho e a Raia Seca.

Para o Conselheiro galego compreender o alcance económico destas relações bastava com que antes da reunião vallisoletana tivera lido, uma semana antes, o Jornal de Notícias de quatro de Abril. Levaria sabido que Portugal exporta “mais para a Galiza do que para os Estados Unidos”, sendo a Galiza a primeira Comunidade Autónoma, por riba de Catalunha e Madrid, entre as importadoras de produtos portugueses e ocupando o terceiro lugar entre as exportadoras, usurpando-lhe Madrid o segundo lugar ao ser-lhe atribuida à Comunidade do Manzanares, por causa do domicílio social de Endesa e União Fenosa, a exportação da energia eléctrica produzida no Minho, o Sil e nas beiras do Eume e do mar Ártabro. As cifras dessa relação comercial aparecem com toda a sua importância se se tem em conta as povoações respeitivas, ocupando a Galiza destacadamente uma primeira posição que se integra, por outra parte, no carácter especialmente exportador da sua economia. As cifras de Castela e León, como as das também fronteiriças, Andalucia ou Extremadura, ficam bem longe das galegas.

Definindo-se por um cego espanholismo e não polo galeguismo e a racionalidade institucional, o Governo Galego despreza a singularidade cultural, linguística, social e económica das relações com Portugal que não supondo nengún obstáculo para os encontros que se estabeleçam com outras CCAA não deve ser confundida com as demais. Se se concebe a Galiza como uma nação no mundo e não como uma simples província do Estado espanhol, para a governar não se pode ignorar o que supõem na Península e na União Européia o território e a dimensão demográfica da faixa galego-portuguesa, frente ao Atlántico.

Mágoa que a Junta se vencelhe a posições ideológicas que -corregindo mesmo os múltiplos títulos com que se definiam os seus empoleirados Reis Católicos- levam a historiadores do tempo constitucional a afirmar que “no final do século XV o território de Castela compreendía Galiza, Astúrias, as Províncias Vascongadas, Leão, ambas Castelas, Extremadura, Múrcia e a Andaluzia Ocidental, aumentando com a incorporação do reino muçulmano de Granada” (sic).

A respeito de Portugal, em lugar de jogar em Valladolid sem pedir-lhe permisso à cabeça, e sem prejuizo da boa vicinhanza com Castela e León, não estaria demais que os conselheiros empregassem o tempo que lhes prestou a sociedade galega em fazer ainda mais pontes na fronteira do Minho -como no Sena em Paris disse há anos quando quase não havia o de Tui e Valença-, melhorar as comunicações na Raia Seca, cara Trás os Montes e o Douro, construir a sempre adiada linha de alta velocidade Vigo-Porto e potenciar as relações sociais, económicas ou universitárias existentes, descorrendo a cortina que impede enxergar que a língua própria da Galiza é também a de Portugal, quando imos aprendendo que para ir a Sevilha o melhor caminho é o português e que a rota cara o centro da Europa e outros continentes, como sabem os nossos empresários, não passa por Madrid.

Fonte: Vieiros.


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