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Manel Márquez

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Em coluna

Por que Kadafi perdeu a batalha da ''informação''?

Manel Márquez - Publicado: Terça, 13 Setembro 2011 02:00

Manel Márquez

Antes de entrar a analisar o porquê da derrota líbia no terreno da informação, conviria esclarecer que o que nós chamamos informação ou jornalismo de qualidade, não é útil ao imperialismo e ao capitalismo, eles precisam apenas propaganda.


Para o capital não existe informação, só existe a propaganda que serve a seus interesses ou as informações verazes úteis para referendar aquilo que eles postulam em um momento histórico determinado.

Devemos reconhecer que Kadafi, o Estado libio e suas instituições o tinham muito difícil. De um lado, por seu errática política de alianças que o levou a pactuar e estabelecer relacionamentos com países nada recomendáveis para um povo que quer ser livre e independente. E por outro, seu "caos" ideológico que significava manter uns princípios e os contrários em curtos espaços de tempo. O que convertia seu regime político em uma forma de governo que dificilmente poderia ser qualificada como democrática, e não com os parâmetros ocidentais ou burgueses, não, mas nos populares e progressistas.

Mas não aprofundarei neste tema, já se falou o suficiente do mesmo nestes dias de violência, destruição e de quebra dos direitos humanos por parte de uns e outro, mas fundamentalmente por parte da OTAN, que converteu um conflito local em internacional com a escusa da defesa da liberdade. E para justificar que a intervenção canalha da OTAN não é mais que uma escusa, basta ver como a repressão sofrida pelos povos de outros países por parte de outros governos criminosos não ocuparam nem um segundo nas discussões da organização militar do capital. Nem certamente umas linhas nas páginas dos meios de propaganda do capital, por exemplo, o Barein.

Mas analisemos como se tem gestado a derrota midiática propagandística de Kadafi, Líbia e seu governo. Afirmar: Que estamos na "Quarta guerra mundial", como já fizemos em outras ocasiões, de forma figurada, mas com uma metáfora que explica bem a situação julgo que é útil. Esta batalha é ideológica e livra-se nos meios de comunicação e agora já nas redes sociais, e tem como objetivo o controle da opinião pública mundial. Como já temos explicado, quando a imensa maioria da opinião pública está sob o controle de uma determinada posição política, é indiscutívelque a tomada do poder por parte de seus representantes é questão de tempo. Se essa posição beneficia os interesses do capital, o organismo internacionais e os países que defendem os interesses destas corporaciones capitalistas, porão em andamento os mecanismos necessários para convencer de forma relativamente simples a minoria que detem o poder. Se esta recorresse ao uso da violência ficaria desacreditada ante seu próprio povo e a opinião pública internacional. A intervenção militar encoberta ou descoberta serão a alternativa. Evidentemente da batalha midiática passa à guerra convencional se for preciso, como ocorreu na Líbia e parece que acontecerá na Síria.

Agora, se o processo de mudança beneficia os setores populares as possibilidades de que o mesmo triunfe são bem mais complexas, para não dizer difíceis, há temos o caso da Tunísia ou o do Egito. Onde o povo derrota as ditaduras e estas se resistem com o apoio do imperialismo a pôr em marcha as mudanças pelas quais o povo lutou e que queria.

Mas vejamos que falhou na Líbia. Kadafi não foi capaz de gerir a revolta, em especial a que se produziu em Bengasi e sua forma de atuar contra o povo resultou absolutamente contraproducente. Sempre foi a reboque das ações da oposição e não foi capaz de tomar em nenhum momento a iniciativa, sentando em uma mesa os discordantes e propondo um debate nacional aberto. Se isso se nos diz que não era possível, não há nada que discutir, isso significa que a ligação entre a sociedade e o governo era já inexistente. A derrota do governo era questão de tempo. Isto foi habilmente aproveitado pelas forças do capital, com o objetivo de tomar conta do petróleo e as riquezas da Líbia. Se Kadafi tivesse feito isto teria sido capaz de mostrar ante a opinião pública mundial que ele não queria a guerra que é a primeira regra que há que seguir para ganhar. Desta maneira, o único responsável pelo conflito seriam seus adversários e a batalha pelo controle da opinião pública poderia ter ido a seu favor.

Os meios de comunicação ou propaganda do capital serviram fielmente os interesses do imperialismo, mas os que não o fizeram tinham difícil a defesa de Kadafi e seu governo, já que este aparecia como o beligerante o intransigente e o que massacrava seu povo quando este se manifestava. Assim o entendeu a opinião pública, aliás as manifestações a favor de Kadafi não existiram e as contrárias à intervenção da OTAN na Líbia foram escassas.

Para os meios era fácil, a complexa personalidade de Kadafi favoreceu apresentá-lo como um excêntrico e um tirano desequilibrado, com informações, umas vezes, absolutamente falsas e outras nitidamente certeras. Suas roupas, suas medalhas, seur óculos, suas pose, suas manías, seus amigos (Berlusconi, Aznar...), sua guarda feminina pessoal, foram exploradas até o aborrecimento. Daí, a convertê-lo em um louco perigoso, só faltava a repressão violenta sobre os opositores durante as manifestações e revoltas. Esta foi magnificada, exagerada, e reconstruída midiaticamente (há inclusive informações que se demonstraram como absolutamente falsas) o que foi definitivo para dar impulso à intervenção militar. As atrocidades cometidas pelos insurgentes ficavam silenciadas nos meios do capital (hoje já se fizeram públicas algumas, claro agora que a guerra já está ganha) e as outras magnificadas. A derrota estava servida, não há quem possa vencer o imperialismo e sua organização militar (OTAN). No máximo, impedir que controlem um território, como ocorre no Afeganistão, mais nada. A opinião pública entendeu que a OTAN ia salvar o povo Libio. Como dizer que a isto que não!

Mas quais eram os fins da guerra? A democracia ou o petróleo? Acho que hoje em dia todo mundo sabia e sabe que é o petróleo, como o foi no caso do Iraque. Começo a pensar que o imperialismo já tem uma parte da opinião pública mundial de seu lado, se tem padrão as intervenções militares com fins "humanitários", justificou-se reiteradamente que o petróleo é um recurso que não pode ser acaparado por ninguém e que deve fluir livremente aos mercados pois, se não, o mundo cairá no caos mais absoluto. Mas claro, enquanto, nada se diz dos recursos financeiros ou tecnológicos que são guardados nos países ricos em mãos das multinacionais (incluídas as chinesas) e de seus gestores. Parte da população dos países ricos e ocidentais já não vêem com tão maus olhos estas intervenções, mas se se lhes dá um verniz democrático liberalizador e de defesa dos direitos humanos. Mais em um mundo multipolar onde os interesses da Europa não coincidem sempre com os dos EUA, ou estes com os da China ou Rússia e esses a sua vez nada tem que ver com os dos países produtores de petróleo, por exemplo.

Um mundo dividido e subdivido pelos interesses do capital, que se faz complexo e difícil de gerir, mas que as diferentes forças imperialista são capazes de manejar para o seu interesse, por enquanto, sem levar para a destruição, embora não saibamos durante quanto tempo.

Neste caso, os que defendemos a solução pacifica e mostramos o nosso desprezo para o uso da força por parte de todos os contendentes, fomos riscados de ilusos ou traidores ao serviço do imperialismo. Que podemos dizer? A nossa mostra de prudência, o fato de não nos mostrarmos favoráveis a nenhum dos bandos, questionarmos as informações "propaganda" converteu-nos em traidores para uma minoria que segue sem entender que o mundo mudou muito e muito depressa e que as velhas teorias derrotadas não voltarão jamais e que o repensar o socialismo é uma obrigação moral para qualquer pessoa de boa vontade e que tenha como único objetivo o bem-estar dos seres humanos e dos povos do mundo.

Agora a Síria está a ser testada, haja ou não ingerência estrangeira, a situação é similar, a pergunta que cabe se fazer é: Que erros cometerão uns ou outros na batalha mediática ou da propaganda de guerra que determinem seu triunfo ou derrota?

Seja qual for o resultado, esperemos que o povo sírio e suas classes populares não sejam as derrotadas.

Fonte: Kaos en la Red.

Tradução: Diário Liberdade.


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