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Iñaki Gil de San Vicente

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Bildu na voragem capitalista

Iñaki Gil de San Vicente - Publicado: Quinta, 28 Julho 2011 02:00

Iñaki Gil de San Vicente

Bildu irrompeu na luita sociopolítica num momento caraterizado por umha crise global, "nova" no sistema capitalista, que devemos separar analiticamente em quatro subcrises ou crises parciais: umha, a mundial capitalista; outra, a europeia; além disso, a estatal espanhola e, por último, a específica basca. Equivoca-se quem menospreze alguma delas e, sobretodo, quem nom as interrelacione como subcrisis inseres em umha totalidade superior.


Também erra quem reduza esta crise só ao estritamente económico e político, sem entender que som todos os pilares do capital os minados internamente. Por último, comete um grave erro estratégico quem achar que o capitalismo entrou numha nova fase histórica na que as suas forças repressivas, o seu complexo industrial-militar, a crescente autonomia do capital financeiro, e as fraçons mais reacionárias e brutais da burguesia imperialista ocidental cederám pacífica e submissamente a sua propriedade e o seu Estado às classes e povos explorados.

Os três erros básicos aqui expostos nom som novos na história das luitas sociais, mas agora nom podemos estender-nos neste problema crucial, pois que queremos e devemos estudar o contexto e as perspetivas de Bildu dentro desta realidade mundial objetiva e inquestionável, refletindo sobre alguns dos problemas mais sérios aos quais tem de fazer frente. Dentre vários, só temos espaço para estudar quatro:

A primeira reflexom trata sobre a crescente gravidade da situaçom à qual tenhem de se enfrentar as eleitas e eleitos de Bildu nas instituiçons sob a sua responsabilidade. A crise em Hego Euskal Herria nom vem dada só pola sua dependência política, em todos os sentidos, do Estado espanhol, que também, como ao mesmo tempo polo efeito duplo da crise endógenas de umha economia industrializada muito dependente do mercando europeu e mundial, sobretodo na média e alta tecnologia, e da titánica resistência das forças conservadoras -UPN, PP, PSOE e PNV- para tomar medidas globais que acelerem umha saída justa e progressista. Ao invés, estas forças assumem conscientemente a direçom estratégica do capital financeiro-industrial da euro Alemanha e os seus aliados. Assumem-na tanto porque tenhem os mesmos interesses de classe como porque tenhem medo ao efeito cumulativo que tenhem as pequenas conquistas sociais sobre a consciência social e nacional do povo trabalhador. Dada a gravidade da crise, tenhem muita importáncia as pequenas mas palpáveis vitórias sociais que podem obter mediante a luita municipal, sindical, foral, etc, e mediante os seus efeitos estimulantes nos movimentos populares e em toda a série de coletivos e grupos. As forças conservadoras e reacionárias conhecem perfeitamente esta dinámica e, apesar das suas diferenças, nom estám dispostas a ceder nas reivindicaçons fundamentais.

À resistência que já está a encontrar Bildu se soma a relativa falta de formaçom de muitos dos seus eleitos e eleitas. Referimo-nos à formaçom adequada à gravidade da crise e da resistência do imperialismo espanhol e colaboracionista. Desde depois que sim tem muita gente formada na política autárquica e foral, mas há que ver até que ponto está já mentalizada teórica e politicamente das características da "nova" crise global do sistema. Umha cousa era luitar numha cámara municipal com recursos económicos ou com capacidade de recuperar depois de umha queda provisória de arrecadaçons, e outra muito diferente é saber que existe umha dívida municipal cronificada de maior ou menor tamanho, no meio de um retrocesso da capacidade arrecadatória. A política progressista que quer aplicar Bildu vai enfrentar-se logo à carência de recursos e à oposiçom reacionária. O voluntarismo valente serve num primeiro momento, mas mais cedo que tarde será urgente a necessidade de umha formaçom teórica e política adequada.

A dureza deste choque irá em aumento conforme a política social se reforce com umha outra política nacional basca ofensiva dirigida a recuperar direitos democráticos cerceados e perseguidos; com outra política cultura e lingüística que procure a recuperaçom e avanço do Euskara; com outra política ecologista e de qualidade da vida que limite o consumismo, e assim um longo et cétera. Na medida em que Bildu e a totalidade da esquerda abertzale fagam questom desta luita, aumentará polo lado espanholista e colaboracionista a dureza da sua oposiçom e dos seus contra-ataques. Nom pode ser de outro modo, porque a crise global reduz cada vez mais os possíveis espaços de negociaçom e pacto, obrigando cada bloco a reforçar as suas posturas se quiger seguir sendo fiel aos seus objetivos, ou se nom pode ceder mais. Há poucos anos existia umha muito superior margem de manobra municipal e foral porque havia mais dinheiro público, mais economia produtiva e a dominaçom espanhola nom precisava peremptoriamente aumentar a extorsom económica. Agora aquela fase de vacas gordas acabou e as arcas estám cada dia mais cheias de teias de aranha. É nestas condiçons que se confirma a tese marxista de que a política é a economia concentrada.

A segunda reflexom trata sobre as dificuldades mais profundas que surgem quando se desenvolve o ponto anterior. Falamos da necessidade inevitável de estabelecer negociaçons com as empobrecidas "classes médias" e pequena burguesia nas vilas, e com a burguesia nas Deputaçons. A dinámica política vista na reflexom primeira é impossível sem estes contatos. Ainda existem muitos trabalhadores assalariados que se consideram "classes médias", e muitos auto-empregados e autónomos, profissons liberais, etc, que se consideram pequena burguesia ou burguesia. Nas vilas sobrevivem com maior ou menor dificuldade muitos lojistas e comerciantes, pequenos negócios e serviços de reparaçons, etc. Desde meados do século XIX o marxismo acertou ao definir corretamente as dúvidas, temores e indecisons timoratas que ofuscam a fragmentária consciência destes coletivos, e a necessidade de integrar na luita revolucionária. Umha leitura atualizada dos quatro primeiros congressos da Internacional Comunista achega-nos sugestons muito valiosas no atual contexto de auge do neofascismo e da reaçom em toda a Europa.

Numha naçom oprimida isto é ainda mais óbvio. É sabido que o PNV e UPN tenhem um dos seus bastions mais sólidos nesta gente. Vam usá-las como "aríetes populares" contra Bildu. Desativar esta tática, atraí-los e impedir que girem à direita e à extrema-direita é umha necessidade para aumentar a solidez do povo trabalhador. Embora seja muito improvável que estes setores girem ao neofascismo, sim é seguro que o nacionalismo espanhol tentará endurecer o fanatismo imperialista das suas bases sociais, as mesmas que aplaudem as vitórias do futebol espanhol, por dizer o mínimo. O Estado mobilizará os seus recursos sujos, manipuladores e intimidadores, já o fai, para aparentar que "derrota democraticamente" a esquerda abertzale, a Bildu. Fazer do independentismo o projeto popular além de legítimo, sobretodo e fundamentalmente hegemónico em Euskal Herria é umha das tarefas estratégicas decisivas para derrotar a tática de pinça entre o colaboracionismo e o nacionalismo espanhol.

A terceira reflexom trata sobre a inexorabilidade do contra-ataque espanhol, que tem a sua economia intervinda de facto, embora ainda nom de jure, polo imperialismo. A flamante independência nacional espanhola ficou reduzida a muito poucos ámbitos porque na realidade é um "protetorado económico", é umha economia que depende do exterior. Apesar de todas as mensagens de tranqüilidade que se enviam ao capital financeiro mundial e ao imperialismo, é sabido que a economia espanhola está a sofrer um derrubada produtiva causada, entre outras razons, pola debilidade da sua burguesia industrial que durante o longo franquismo crescia sob o domínio dos grandes bancos, nom podendo assim desenvolver-se como em outros Estados agora bem mais sólidos. Historicamente a burguesia espanhola quase nom se preocupou com o desenvolvimento tecnocientífico industrial, preferindo os lucros imediatos embora muito inseguros e de curta duraçom, ao planejamento para criar umha economia potente. Nom podemos estender-nos agora nesta decisiva questom -o fracasso ou a extrema debilidade da revoluçom burguesa no Estado espanhol-, mas sim mostrar como a crescente debilidade produtiva espanhola multiplica as necessidades de explorar as classes e os povos oprimidos para compensar o retrocesso na hierarquia imperialista.

É esta realidade objetiva, que se apresenta sob a forma de um nacionalismo imperialista exacerbado, que determina que se imponha a fraçom mais reacionária do bloco de classes dominante, a representada polo PP. Mas nom se trata só do choque geral e abstrato entre o nacionalismo espanhol e a identidade basca, mas também do confronto prático, diário e social de classe entre a opressom espanhola e a libertaçom basca. Dado que Bildu é a expressom pública da ascensom de massas do sentimento nacional basco progressista e independentista revolucionário, por isto mesmo, agudiza-se a irreconciliabilidade entre o imperialismo espanhol e a emancipaçom basca já que, no essencial, o que está em jogo nom é outra cousa que a propriedade privada espanhola sobre a zona de Euskal Herria que ocupa. Dado que Bildu se constituiu na primeira força no ámbito municipal, isto é, no nível do poder institucional mais próximo e direto do povo trabalhador, por esta imediata proximidade, a açom de Bildu é umha das mais perigosas para o capitalismo. As outras duas perigosas som a luita sindical e a luita dos movimentos populares e sociais. Existe, portanto, umha força de massas, popular e operária, na qual Bildu ocupa um local decisivo na sua área.

A quarta reflexom trata sobre como a crise e o retrocesso do euroimperialismo em escala mundial acelera o desenvolvimento deste choque de contrários. A implacável ditadura do capital financeiro-industrial esmaga a liberdade dos povos, e nom só dos oprimidos, nas também dos que tenhem Estados muito fracos, como o grego, o português, o irlandês, etc. Contra as forças centrífugas inerentes à financiarizaçom, erguem-se as forças centrípetas dos povos explorados que sentem na sua carne a traiçom das suas burguesias. Esta dinámica já demonstrada teoricamente desde a metade do século XIX, é agora mais atual do que nunca. As luitas dos povos explorados polo euroimperialismo é já luita de classes e ao mesmo tempo luita de libertaçom nacional de um "novo" tipo ali onde ditos povos som formalmente independentes mas estám prática e economicamente encadeados ao euroimperialismo.

Membros da esquerda abertzale levam advertindo desde o Tratado de Maastrich de 1992 que a lei de centralizaçom e concentraçom de capitais -que junto à da sua perequaçom é o segredo último da atual quarta reordenaçom europeia-, provoca o aparecimento de novas opressons nacionais que se somam às clássicas. Naçons formalmente livres, como a grega, que tenhem o seu Estado "independente" padecem no entanto a dominaçom do capital financeiro transnacional. Esta realidade facilita a tomada de consciência das naçons que nem sequer temos um Estado próprio, e reforça-nos no nosso objetivo de o conseguirmos quanto antes, mas nom um Estado débil, covarde e vendido ao capital financeiro, mas consciente de si, como é o caso da Islándia. Aqui a tarefa de Bildu aparece no seu pleno sentido já que pode e deve ser um médio de avanço ao Estado basco, caso contrário defraudará o povo trabalhador.

Publicado no Voz Própria nº 24


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