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José André Lôpez Gonçâlez

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O Grande Combate (IX): Um Contributo Imorredoiro

José André Lôpez Gonçâlez - Publicado: Sábado, 10 Abril 2010 01:00

 

José André Lôpez Gonçâlez 

Há que voltar muitas vezes às estrênuas e arrepiantes palavras de quem fora chefe da rede de espionagem soviética na Alemanha nazi, Leopold Domb-Trepper:


A revolução degenerada engendrara um sistema de terror e horror, na que eram escarnecidos os ideais socialistas em nome de um dogma fossilizado que os verdugos ainda tinham o descaramento de chamar marxismo.

E malgrado, dilacerados, mas dóceis, seguíramos esmiuçando a engrenagem que tínhamos posto em marcha com as nossas próprias mãos. Como rodas do mecanismo, aterrorizados até o extravio, convertemos-nos em instrumento da nossa própria submissão. Todos os que não se ergueram contra a máquina estalinista são responsáveis, coletivamente responsáveis dos seus crimes. Também não me eu liberto deste veredicto.

Mas, quem protestou na altura? Quem se ergueu para gritar o seu desgosto?

Os trotskistas podem reivindicar esta honra. Em semelhança do seu líder, que pagou a sua teimosia com um golpe de picareta, os trotskistas combateram totalmente o estalinismo e foram os únicos que o fizeram. Na época das grandes purgas, apenas podiam berrar a sua rebeldia nas imensidades geadas, aonde os conduziram para melhor exterminá-los. Nos campos de concentração, a sua conduta foi sempre digna e até mesmo exemplar. Mas as suas vozes perderam-se na tundra da Sibéria.

Hoje em dia os trotskistas têm o direito de acusar os que antanho coraram os aulidos de morte dos lobos. Que não esqueçam, porém, que possuíam sobre nós a imensa vantagem de dispor de um sistema político coerente, susceptível de substituir o estalinismo, e ao que podiam agarrar-se no meio da profunda miséria da revolução traída. Os trotskistas não “confessavam”, porque sabiam que as suas confissões não serviriam nem ao partido nem ao socialismo.[132]

Este magistral volume de Trotski [trata-se de A Revolução desfigurada] expõe com clareza não habitual a lide contra o descarrilamento da revolução operária, o duro combate contra a urgência burocrática por conduzir os comboios da emancipação para trilhos sem saída. Explica que a briga política desenvolvida vinha determinada por correlações de forças de classe desfavoráveis para a vanguarda proletária, ao passo que o autor cumpria a obriga de honesto e incansável revolucionário de ajustar as contas a tanto enleamento com uma seriedade e qualidade além do comum. Anos depois haveria escrever na Revolução Traída, súmula do seu pensamento, sobre a burocracia estalinista:

Temos definido o Termidor soviético como a vitória da burocracia sobre as massas. Tentamos mostrar quais as condições históricas desta vitória. A vanguarda revolucionária do proletariado foi absorvida em parte polos serviços do Estado e, pouco a pouco, desmoralizada, em parte destruída na guerra civil, em parte eliminada e esmagada. As massas, fadigadas e desiludidas, nada mais apresentavam do que indiferença polo que se passava nos meios dirigentes. Estas condições, por importantes que sejam, de modo algum bastam para nos explicar como a burocracia conseguiu elevar-se acima da sociedade e tomar nas mãos por muito tempo os destinos desta; a sua vontade seria unicamente, em qualquer caso, insuficiente; a formação de uma nova camada social deve assentar em causas sociais mais profundas.[133]

Enquanto, “o espectro da revolução acossava as noites de Macbeth-Estaline, que procurava se resguardar dele, aos olhos da classe operária e da juventude instruídas no culto à Revolução de Outubro, com a ajuda da matança e dos enfeites do crime, ao mesmo tempo em que se amparava proporcionando empregos públicos e privilégios a dezenas de milhares de candidatos. Estaline, fruto monstruoso e parasitário de um avanço não interrompido para a revolução mundial, «traía» a revolução ao batalhar, no nome dos privilégios que encarnava, o profundo movimento da revolução obreira mundial, tanto na URSS como nos países capitalistas”,[134] os povos soviéticos laiavam a morte de Lenine:

“Se Lenine vivesse!... Quantas vezes não terei escuitado semelhante queixa nos dias que passei na Rússia... Se Lenine vivesse –disseram-me— não se tivesse trançado a unidade do partido... Se Lenine vivesse, ele, que sabia antever os problemas e adiantar-se aos acontecimentos, não se houvesse deixado surpreender por estes conflitos que com tanta frequência estouram. Lenine dava a sensação de ser superior aos problemas. De dominá-los. Agora, ao contrário, são os problemas que dominam os homens.”[135]

A luita levada até  o derradeiro fôlego por Trotski contra o estalinismo para endireitar o calvário dos povos projectou uma labareda de fulgor tal que não perdeu intensidade sessenta anos após o seu assassinato. Rematando Trotski o 20 de Agosto de 1.940 a reação termidoriana rendeu, ao final, a mais alta homenagem ao marxismo ao tentar clausular a Revolução terminando com a sua vida.  

“Quem com os seus próprios olhos enxergou a Beleza 

Cedeu nos braços da morte.”[136]   

Não se pode entender, em nossa opinião, nem o Marxismo do tempo presente, nem a trágica história do século XX[137], sem conhecer a sério, a vida e a obra deste combatente incansável. É justamente no estudo sobre a sua vida e obra, num pretérito assaz complexo que traduze um presente bem enguedelhado, que se pode inaugurar um novo capítulo que afaste da barbárie o porvir da humanidade.

Este livro de batalha nas entranhas do monstro [trata-se do livro de Trotski, A Revolução desfigurada em: http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1929/rev_desf/index.htm], esforço imenso para pôr sobre os pés os alicerçados princípios do marxismo: o internacionalismo proletário, a democracia obreira e a autonomia das organizações dos operários defronte a qualquer movimento burguês, chamem-se como se chamar[138] é, simultaneamente, um poderoso latejo desde o passado para uma ação libertadora das espessas trevas da opressão e uma fulgente labareda arremessada ao futuro.

A humanidade ainda não chegou à descoberta do método epidural para o parto sem dor no domínio das transformações sociais. Procurar na abreviação dos sofrimentos para “que podam brincar os nenos ledamente”[139], como escrevera ainda não há muito um grande poeta galego, mais que útil, é urgente.

Anda um espectro pola Europa, polo mundo, o espectro do Comunismo, e nada nem ninguém poderá esconjurá-lo já.   

Notas: 

[132] El gran juego, pág. 68.

[133] La Revolución Traicionada, págs. 120-121.

[134] Pierre Broué, Los procesos de Moscú, pág. 258.

[135] Cómo se forja un pueblo, pág. 260.

[136] Wer die Schönheit angeschaut mit Augen, 

      Ist dem Tode schon anheimgegeben. 

                        (August von Platen)  

[137] É muito sobressalente o fato de que Trotski representava a encarnação vivente da revolução, não só para os bolcheviques leninistas também para a burguesia mais inteligente, consciente do que se estava a jogar.  Que em 1939 o embaixador francês Coulondre, tentasse persuadir Hitler argumentando que após uma guerra na Europa o vencedor só poderia ser Trotski, isto é o comunismo, não é uma anedota de importância menor.

[138]  (197) Mesmo que seja de libertação nacional, caros companheiros do B.N.G. e camaradas da U.P.G.

NOTA PARA OS LEITORES NÃO GALEGOS:

O B.N.G. (Bloco Nacionalista Galego), é uma organização nacionalista de esquerdas visando converter a Galiza num Estado confederado com o resto da Espanha polo mecanismo do Direito de Autodeterminação. Hoje governa, junto com o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), a Comunidade Autónoma da Galiza [este ensaio foi publicado em Maio de 2007, tenha-se em conta]. Na VIII Assembléia Nacional, celebrada na cidade de Ourense em 27-28 de Junho de 1998 ficou assentado: “Galiza, o âmbito nacional, é o espaço fundamental da ação política do BNG. Galiza constitui o território nacional onde conseguir a hegemonia política como fundamento da autodeterminação; a nação onde defender os direitos sociais, econômicos e culturais e exercer a cidadania, a liberdade e a ação solidária com os demais povos. A assunção do poder político em Galiza é a condição necessária da sua atuação plena nos espaços peninsular e europeu.

O Estado espanhol é ao mesmo tempo a instituição que nega a soberania que lhe pertence ao povo galego e o espaço político no que conquistar a liberdade nacional; hoje através da ação por um Estado pluri-nacional de tipo confederado, ademais de ser o território mais próximo, junto com Portugal, para o restabelecimento de relações políticas, econômicas e sociais. Com independência da estratégia e os objetivos de soberania pretendidos para Galiza como nação, as ligações existentes entre Galiza e o resto dos povos do Estado e a sua comum participação numa estrutura institucional autonômica, derivada da Constituição de 1978, configuram o marco da intervenção do BNG na política estatal”. (pág. 13 dos Relatórios da VIII Assembléia Nacional. Sem data nem lugar de edição).

A U.P.G. (União do Povo Galego), é um partido comunista inserido no BNG. Já desde o seu primeiro congresso (26, 27 e 28 de Agosto de 1977) definiu-se como: 

Artículo 1. A UPG é o Partido de vanguarda da classe obreira galega que defende objetivamente os interesses de todas as classes trabalhadoras do nosso país. A UPG é um partido patriótico, porque assume a luita de libertação nacional, na perspectiva da instauração de um Estado galego democrático e popular, que acabe com a colonização que padece o país, como passo indispensável para a instauração, mediante a ditadura do proletariado, do Socialismo no caminho da sociedade comunista.

Artigo 2. A UPG fundamenta a sua teoria e guia a sua ação no marxismo-leninismo, aplicando o materialismo dialéctico às condições concretas da Galiza (Primeiro Congresso, pág. 53, Edições Terra e Tempo, Galiza, Setembro, 1977).  

[139] António Avilês de Taramancos: Hai que matar a Supermán, em O tempo no espelho, pág. 188, Ediciós do Castro, A Corunha, 1982.


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