1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (1 Votos)
Amy Goodman

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Democracy now!

Esperança e resistência nas Honduras

Amy Goodman - Publicado: Sábado, 18 Junho 2011 15:12

Amy Goodman

Apesar de Zelaya já não ser presidente, o seu retorno é uma grande vitória para o movimento de resistência ao golpe.


Enquanto os Estados Unidos comemoravam o Memorial Day com um fim de semana de três dias, o povo hondurenho vivia um acontecimento histórico: a volta do Presidente Manuel Zelaya, depois de 23 meses de exílio forçado à base de bala, no que representou o primeiro golpe de Estado na América Central dos últimos 25 anos. Apesar de Zelaya já não ser presidente, o seu retorno é uma grande vitória para o movimento de resistência ao golpe. O governo que se instaurou após o golpe de Estado, sob o comando do Presidente Porfírio "Pepe" Lobo, é cada vez mais repressivo. No fim de Maio, uma comissão de 87 membros do Congresso dos EUA enviou uma carta à Secretária de Estado, Hillary Clinton, exigindo a suspensão da ajuda às forças armadas e polícia hondurenhas.

Fui a única jornalista norte-americana no voo que levou Zelaya de volta às Honduras. Perguntei-lhe como se sentia sobre o seu iminente regresso. "Cheio de optimismo, fé e esperança. O diálogo e a acção política são possíveis sem armas. Não à violência. Não a golpes militares. Golpes de Estado nunca mais".

Quando aterrou nas Honduras, Zelaya ajoelhou-se e beijou o solo. Foi recebido por dezenas de milhares de pessoas que o ovacionaram enquanto agitavam a bandeira rubro-negra do movimento que surgiu após o golpe: a Frente Nacional de Resistência Popular, "a resistência", liderada agora pelo ex-presidente. A sua primeira parada aconteceu numa aglomeração de pessoas em frente ao monumento em memória do jovem Isis Obed Murillo, de 19 anos de idade, que foi assassinado uma semana depois do golpe de 2009, quando Zelaya tentou pela primeira vez voltar ao país. Murillo encontrava-se entre as dezenas de milhares de pessoas que esperavam o retorno do ex-presidente no aeroporto. Na ocasião, os militares bloquearam a pista de aterragem e dispersaram a multidão disparando balas de chumbo, que mataram um adolescente.

A partir de então, a violência e a impunidade tornaram-se moeda corrente. Camponeses, jornalistas, estudantes, professores e qualquer outra pessoa das Honduras que se atreva a discordar expõe-se à intimidação, prisão e assassinato. Pelo menos 12 jornalistas foram assassinados no país desde o golpe, segundo o Comité para a Protecção dos Jornalistas. Muitos camponeses também perderam as suas vidas. Na semana passada, estudantes secundaristas que protestavam contra a demissão de professores e a privatização da educação foram atacados violentamente pela polícia a tiros e com gás lacrimogéneo.

No discurso que pronunciou no acto de boas-vindas, o Presidente Zelaya disse: "A presença de vocês nesta tarde demonstra o apoio da comunidade internacional, que não derramou sangue em vão porque estamos de pé em luta, mantendo as nossas posições. Resistência pacífica, companheiros. Resistência é hoje o grito de vitória do retorno a Honduras de todos os direitos e garantias da democracia hondurenha".

O actual governo das Honduras aceitou permitir o regresso de Zelaya para conseguir a readmissão do país na Organização de Estados Americanos numa tentativa de se livrar da condição de pária que ganhou na América Latina em virtude do golpe.

Pária na América Latina, mas não nos Estados Unidos. Apesar do Presidente Barack Obama inicialmente qualificar o derrube de Zelaya como um "golpe", o governo norte-americano logo abandonou o uso do termo. Mas não há outra palavra que descreva o acontecimento. No domingo, falei com Zelaya em sua casa, de onde me contou o que ocorreu.

Era por volta de cinco da manhã do dia 28 de junho de 2009, quando soldados hondurenhos encapuzados invadiram a sua casa após dispararem contra a porta dos fundos.

"Ameaçaram-me dizendo que iam disparar. E eu disse-lhes: 'Se tem ordem de disparar, dispare. Mas saiba que está a disparar contra o Presidente da República, e você é um subalterno'. E eles não dispararam. Apenas me submeteram a acompanhá-los ao veículo, assim, com a roupa de cama. Aterrámos na base militar norte-americana de Palmerola, onde reabasteceram o avião. Houve movimentos fora da aeronave, eu não sei com quem falaram. Ficámos ali por quinze ou vinte minutos. E depois a Costa Rica. O resto é público".

Em última instância, o mais importante para as Honduras não é a volta de Zelaya, mas sim a volta da democracia. Zelaya estava a conseguir apoio popular para políticas públicas significativas, como o aumento de 60% do salário mínimo; um plano para assumir o controle da base aérea norte-americana de Palmerola com o objetivo de utilizá-la como aeroporto civil no lugar do perigoso Aeroporto Internacional Toncontin; planos de distribuir terra a camponeses; e se unir à ALBA, o bloqueio cooperativo regional criado para diminuir o domínio económico dos Estados Unidos. No dia em que o sequestraram, Zelaya realizaria uma consulta popular para perguntar à população se queria uma assembleia nacional constituinte para avaliar possíveis reformas da Constituição. Esse, explica Zelaya, foi o motivo pelo qual o derrubaram.

A Secretária de Estado Clinton e o seu amigo íntimo Lanny Davis, que leva adiante um poderoso lóbi a favor do regime golpista, exerceram forte pressão a favor da legitimação do governo de Lobo, apesar de um telegrama interno do próprio Departamento de Estado sob comando de Clinton ter como título "Assunto urgente: O caso do golpe nas Honduras". O telegrama recentemente publicado pelo WikiLeaks afirma que o golpe foi claramente ilegal.

Quando me dirigia ao aeroporto para tomar o meu voo de volta deste fim de semana histórico nas Honduras, topei com um grupo de professores que estavam em greve de fome há um mês em frente ao Congresso hondurenho. Eles, tal como uma ampla rede de grupos da sociedade civil hondurenha, ao tempo em que celebram o retorno de seu presidente derrocado, têm claras as suas exigências, que contam agora com o apoio de 87 membros do Congresso norte-americano: que se ponha fim à violência e à repressão em Honduras.

Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Fernanda Gerpe para espanhol. Texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto, e revisto por Bruno Lima Rocha, para Estratégia & Análise


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.