O correspondente do El País, Oppenheimer, desconhecedor, segundo vemos, da história do Estado espanhol, assegura: «A vitória do SNP causou impacto em Espanha pelo seu paralelismo com las ânsias independentistas de parte da população basca e catalã. Mas há enormes diferenças. O Reino Unido foi forjado há quatro séculos com o acesso de Jacobo VI da Escócia ao trono de Inglaterra e selou-se com a fusão voluntária dos seus parlamentos um século depois, em 1707. Não há um complexo mapa de 17 autonomias com diferentes graus de ambição de autogoverno. É o pobre, não o rico, que quer ir embora. E a identidade nacional de escoceses e ingleses não está em questão.» .
Desconhecia a voluntariedade da «fusão» dos escoceses, pois revendo a história vemos outra coisa, mas o Estado espanhol, a sua ideia de centralismo e homogeneização forçada procede de 1716, posterior à britânica, com o Decreto de Nueva Planta (DNP) de Felipe V, no qual se proibia legislar, utilizar qualquer língua na Administração que não fosse o castelhano, e se aboliam foros, liberdades e a potestade legislativa dos diferentes povos e nações de Espanha. Erroneamente, recua-se esta abolição e implantação à força da língua e legislação castelhana até aos Reis Católicos. Isto é verdade no caso da Galiza, por parte da rainha Isabel; catalães, valencianos, aragoneses, maiorquins, bascos (1)... mantiveram esta independência até o DNP e não, como comummente se acredita, até ao casamento de Isabel e Fernando.
O complexo mapa de 17 autonomias não deixa de ser um invento do centralismo espanhol reconvertido em democracia em 1977 para desvirtuar precisamente o legítimo anseio de autogoverno de catalães, galegos e bascos. Assegurar que as competências transferidas provêm de Madrid é esquecer que foram previamente proibidas nos seus lugares de origem. E assegurar que a Escócia é a pobre (tendo o petróleo do Mar do Norte) e Inglaterra a rica, é uma afirmação muito aventurada.
A identidade nacional de catalães, galegos e bascos está em questão pelo Estado espanhol, as suas leis e os seus partidos (PSOE-PP), que consideram que a existência de outras nações diferentes da espanhola desvirtuam a nacionalidade espanhola. São os espanhóis que não aceitam a existência legal de outras nações no Estado, sem que as outras duvidem da existência dessa mesma nação espanhola na qual não se vêem incluídas, precisamente por não serem reconhecidas.
O teórico roteiro confederal da Escócia, proposto por especialistas neste artigo com Inglaterra e Gales, não deixa de ser um malabarismo de palavras que não reflete nem o que é uma federação nem muito menos uma confederação, que nunca nasce de uma descentralização administrativa (como o que se pretende que acreditemos no caso de bascos, catalães, galegos ou escoceses).
E repetitiva a leonina defesa do Governo espanhol em todos os foros internacionais segundo a qual bascos e catalães têm a maior quota de autogoverno de toda a Europa.
Eu, seguindo a resposta de Arzalluz ante tal asseveração, asseguraria que a maior quota de autogoverno é a independência.
Nota
(1) A guipuscoanos, biscainhos e navarros nom afetou a implantação do DNP, pois ainda mantiveram os seus Foros, inclusive em tempos da ditadura franquista, em alguns âmbitos como o económico.
(2) 'prói' < do verbo galego 'proer' ('fazer comichão')