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Aníbal Garzón

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Traição de Chávez à esquerda internacional?

Aníbal Garzón - Publicado: Quinta, 05 Mai 2011 02:00

Aníbal Garzón

"Uma pluma machuca mais que um fuzil", e sabe-o bem o governo colombiano.


O 23 de Abril o jornalista Joaquín Pérez Becerra iniciava a sua viagem da Suécia a Caracas, passando pelo aeroporto de Frankfurt (Alemanha). Pérez é de origem colombiana, residente com asilo político na Suécia desde 1994 depois de sobreviver o genocídio que sofreu a União Patriótica, sendo ex-vereador da formação no município de Corinto (Departamento de Valle del Cauca). Não tiveram a mesma sorte mais 4000 militantes assassinados pelo estado colombiano, entre eles a sua mulher. Com duras experiências vividas o jornalista não deixou de trabalhar na Suécia pelos Direitos Humanos fundando junto a exilados e solidários suecos a Agência de Notícias Nova Colômbia (Anncol) em 1996. O trabalho de Anncol era informar sobre o desinformado pelas corporações; o terrorismo de estado colombiano, paramilitarismo e parapolítica, valas comuns, os falsos positivos, deslocações, mas tinha um alto preço, Pérez por segurança teve que renunciar à sua nacionalidade colombiana. Anncol não deixou de sofrer ameaças. Em 2003 o embaixador colombiano na Suécia, Francisco Sanclemente, acusou sem provas a Agência de apologia do "terrorismo" como órgão da guerrilha das FARC.

Pérez viajou à Venezuela várias vezes durante 2009 e 2010 para diferentes eventos como comunicador social. Como ia pensar que esta seria possivelmente a sua última vez? Um dia antes do seu voo, Santos, segundo declarações próprias, ligo para Hugo Chávez por telefone e informou-lhe da petição de capturar Pérez no aeroporto de Caracas para extraditá-lo a Colômbia, acusado de propagandista das FARC na Europa. Segundo Santos, Chávez "não hesitou" e cumpriu com a petição, deteve e deportou Pérez, jornalista de esquerdas que sofrerá as infra-humanas condições carcelárias colombianas como 7500 presos políticos mais.

Desde a investidura de Santos como Presidente no passado mês de agosto e o reestablecimento de relacionamentos entre a Colômbia e a Venezuela, rompidas depois de Uribe acusar Chávez de dar refúgio a "terroristas" das FARC, o Presidente venezuelano foi hipnotizado pela nova estratégia do governo colombiano, passando do belicismo uribista -Hard Power- à diplomacia de Santos -Soft Power-. Nos últimos meses Venezuela deportou sete "terroristas" colombianos das guerrilhas marxistas do ELN e as FARC. Mas algo mais há por trás. Em março de 2010, as autoridades venezuelanas não deixaram entrar ao país Walter Wendelin, responsável pela associação internacionalista basca da esquerda independentista (ASKAPENA) -legal naquele momento- que já esteve na Venezuela em um foro realizado pelo governo em dezembro de 2009. Foi expulso a Espanha sem existir reclamação judicial. Chávez também queria contentar as autoridades monárquicas espanholas após o famoso conflito "Por que Não calas?". Em janeiro de 2011 Chávez louvou pessoalmente o Rei espanhol, para além do diplomático, afirmando que "O Rei é, como dizem os espanhóis, um tipazo, e é um bom amigo" [1]Que espanhóis dizem isso do Rei, os constitucionalistas, fascistas e dereitosos, os que repremem o povoo catalão, basco, operários, camponeses? Faz favor, Presidente Chávez, não fale do que pensamos os cidadãos do Estado espanhol!

Podemos entender que os relacionamentos internacionais são um jogo de interesses, mas tudo tem um limite se for sujo, se violar princípios internacionais e se destroçar a vida de militantes de esquerda.

Jogo sujo

Para o governo venezuelano um dia podes ser etiquetado como luitador social, e ao outro podes ser um terrorista, segundo os seus interesses pragmáticos. Durante o governo de Uribe, Pérez era considerado pela Venezuela como fundador da Associação Bolivariana de Comunicadores criada em Caracas em dezembro de 2008, mas agora na época de Santos é etiquetado de prófugo. O estado venezuelano utilizou dois campos de jogo sujo sobre a detenção e deportação de Pérez a Colômbia.

O primeiro campo foi a comunicação. Enquanto o governo de Chávez denuncia constantemente a desinformação que sofre por grandes corporações -sobretudo a partir do golpe de estado mediático em abril de 2002- formando estudantes com a guerrilha comunicacional contra a manipulação ou fundando meios de comunicação comunitários ou alternativos como o canal Telesur, acaba utilizando a mesma estratégia tergiversando o caso de Pérez. O Ministro de Comunicação e Informação Andrés Izarra escreveu em Twitter, "capturado na Venezuela colombiano requisitado com código vermelho da Interpol por terrorismo"[2]. Mais tarde o Ministério do Poder Popular para Relações Interiores emitiu um comunicado afirmando que "foi detido no Aeroporto Internacional Simón Bolívar de Maiquetía, o cidadão de nacionalidade colombiana Joaquín Pérez Becerra, com cédula de cidadania número 16.610.245, quando tentava ingressar ao país em um voo comercial procedente da cidade de Frankfurt, Alemanha"[3]. A mentira é visível, o jornalista não é cidadão colombiano senão que renunciou à sua nacionalidade como refugiado político e passou a ser cidadão sueco.

E por segundo campo está o direito internacional. Tudo e "justificar" que a INTERPOL perseguia Pérez com "código vermelho", por que as autoridades suecas ou alemãs não detiveram o jornalista e sim o fez a Venezuela para o enviar à Colômbia? As autoridades suecas confirmaram que o governo venezuelano nunca informou da detenção do cidadão e jamais permitiram que o seu cónsul em Caracas, Tommy Strömberg, se reunisse com Pérez dantes de ser extraditado. Assim, a chancelaria sueca iniciou uma investigação para comprovar se a Venezuela violou convénios internacionais, deportando à Colômbia um cidadão sueco. Segundo o jurista e professor Juan Carlos Vallejo, de origem colombiana que também se viu obrigado a fugir do país, afirmou que "estamos frente a um atropelo aos convénios internacionais sobre Direitos Humanos e Diplomáticos, à Convenção de Genebra, ao Pacto de San José de Costa Rica e à Convenção de Viena sobre diplomacia".[4] Venezuela violou princípios do Direito Internacional porque se se detiver Pérez por suposta demanda da INTERPOL, que não está confirmada, deve ser enviado onde está refugiado e nacionalizado, a Suécia e não a Colômbia, onde saiu e anulou a sua origem legal para salvar sua vida.

Uma esquerda desiludida

Organizações progressistas, tanto na Venezuela como a nível mundial, não se deixaram manipular pelos meios venezuelanos e consideram uma traição de Chávez a entrega ilegal de Pérez ao estado terrorista colombiano. Mais de trinta associações junto ao Partido Comunista de Venezuela -sócio do partido de Chávez, o PSUV- em uma reunião de emergência solicitaram ao Presidente uma explicação por não respeitar o Estado Democrático Social de Direito e de Justiça, consagrado na Constituição venezuelana, inclusive afirmando membros das Juventudes Comunistas que isto começa a parecer ao Plano Cóndor dos anos 70. Na quinta-feira 28, centenas de votantes chavistas manifestaram-se em frente à Chancelaria em "repúdio à entrega do camarada Pérez".

Parece que o direitismo internacional de Chávez inicia ruturas internas no Processo Bolivariano. Ou estás com sócios do império ou estas com os povos? Fica-lhe muito ao comandante venezuelano que aprender de Fidel Castro para ser um revolucionário. Na X Cimeira Iberoamericana de 2000 no Panamá, Fidel opôs-se a assinar uma declaração conjunta que apresentou o Presidente espanhol Aznar para condenar o "terrorismo" basco da ETA. A justificativa foi singela e salvável. Assinava a condenação se todos condenavam o terrorismo dos Estados Unidos que padeceu a Revolução desde o seu triunfo em 1959. Fidel exprimiu assim a sua solidariedade com a luta dos povos reprimidos e oprimidos inclusive com um custo de perder relacionamentos com o governo ultradireitista espanhol. Por que Chávez não demandou ao golpista Pedro Carmona exilado na Colômbia contra a petição de Santos sobre Pérez? Prefere estar mais perto do governo que do povo colombiano. Proletários do mundo, Pensem duas vezes viajar à Venezuela! Embora continuemos sendo chavistas!


[1] http://www.rpp.com.pe/2011-01-15-chavez-o-rei-de-espana-é-um-tipazo-e-espero-que-visite-caracas-notícia_327576.html

[2] http://www.telesurtv.net/secciones/notícias/91952/venezuela-captura-a-colombiano-requisitado-por-a-interpol-com-boleta-vermelha-por-terrorismo/

[3] http://www.lapatilla.com/site/2011/04/23/capturam-a-cidadão-colombiano-requisitado-por-interpol/

[4] http://www.aporrea.org/ddhh/n179807.html

Traduzido para galego pelo Diário Liberdade do texto original em espanhol.

Fonte: Kaos en la Red.


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