Não sendo uma surpresa, tanto o pedido da intervenção externa como o apoio do PSD a esse pedido, principalmente a partir do momento em que começaram a surgir na imprensa notícias dando conta que algumas empresas estatais (nomeadamente as de transportes ferroviário e rodoviário urbano e suburbano) não tinham dinheiro para pagar os próximos salários, é de registar:
a) que o governo só tomou essa decisão depois dos banqueiros portugueses, um após outro, terem começado a anunciar que os seus bancos tinham decidido deixar de financiar o Estado e a exigir que o governo recorresse à "ajuda" externa;
b) que mais uma vez se provou que Sócrates é um charlatão. Depois de ter dito aos quatro ventos que jamais pediria "ajuda" externa, bastou o pronunciamento dos banqueiros para de um dia para o outro mudar de opinião. O que mostra quem de facto manda no país;
c) que para os trabalhadores isto é o pior que lhes poderia ter acontecido. Com a intervenção do Fundo Europeu e do FMI, tudo aquilo que de péssimo preconizava o PEC IV, agora será pior. A intervenção externa significa muitos mais despedimentos na função pública, maiores reduções salariais e nas prestações sociais, e a privatização de tudo o que no sector público seja rentável.
A "ajuda" externa reclamada pela finança e a grande burguesia portuguesa não se destina a salvar o país, mas a impedir que a gigantesca divida externa portuguesa possa vir a ser renegocia e reestruturada. A garantir que os bancos credores vão receber o "seu" dinheirinho e respectivos juros. Com o pedido da intervenção do Fundo europeu e do FMI deu-se um passo para o qual já não há recuo.
O que do ponto de vista político vai ter graves consequências. Se como temos dito, os governos portugueses há muito que o deixaram de o ser e não passam de meras comissões executivas da União Europeia, a partir de hoje nem isso. O seu poder de decisão será menor que o de um governador colonial. E o circo parlamentar não mais será que mero pró-forma.