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Narciso Isa Conde

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Marx atual

Narciso Isa Conde - Publicado: Terça, 05 Abril 2011 02:00

Narciso Isa Conde

A atualidade de Carlos Marx após transcorrido mais de século e meio de sua crítica ao capitalismo (a partir de uma visão científica do socialismo) e de sua proposta de sociedade comunista, relaciona-se com o fato de que a evolução do capitalismo ao longo deste período histórico, longe de restar méritos a seus contributos essenciais, tem-nos confirmado firmemente.


Propriedade capitalista, capital como relacionamento social, lei do valor, exploração do trabalho assalariado, mais-valía, reprodução simples e alargada, concentração da propriedade, polarização social, exército de desempregados, luta de classes e poder, o Estado como instrumento de dominação de uma classe sobre outra, alienação, crises cíclicas, revolução, emancipação social, internacionalismo burguês e internacionalismo proletário... não só são conceitos e categorias vigentes como ainda potencializadas, aumentadas, multiplicadas, metamorfoseadas em alta pela dinâmica do capitalismo como sistema de dominação integral.

Conceitos e categorias elevadas inclusive a níveis espetaculares com o surgimiento do imperialismo e sua evolução para uma espécie de super-imperialismo, pelo impacto dos novos padrões de agregado técno-científicos, as novas forma de alienação, a "financeirização" dos processos de agregado e a incorporação e subordinação a maior profundidade de outras forma de opressão (patriarcal, racista, adulto-central, ambiental, xenofóbica, militarista, guerreirista) e de certos relacionamentos pré-capitalistas de produção, junto a modalidades e mecanismos de alienação impensáveis no século XIX.

Marx foi não só um cientista social, mas também um visionário de alto calibre.

Concentração, lucros, sobre-exploração e exclusão.

A propriedade capitalista não só se concentrou nas esferas estritamente nacionais, como assumiu uma dimensão colossal e tem transcendido a escala planetária.

Os ganhos capitalistas multiplicaram-se até criar contraste abismais, o exército de desempregados já não está integrado exclusivamente peloos/as assalariados/as expulsados/as dos processos produtivos e distributivos, pelos avanços tecnológicos e as crises cíclicas, como também se agregam as mais diversas forma de desemprego aberto e encoberto, permanente e temporário, até conformar a uma enorme população excluída, na que abundam seres humanos que nem sequer puderam ingressar à escravatura assalariada clássica, gerações que nunca puderam ingressar ao proletariado industrial, comercial, bancário, nem às empresas de serviços; condenados todos/as a diversas forma de subsistência e sobre-exploração instáveis.

Restructuração e alargamento das forças do trabalho como contrapartida do capital

E enquanto o capital concentrou-se, seu contraparte alargou-se, dispersou e diversificou em grandes proporções. As forças sociais explodidas, super-exploradas, excluídas e oprimidas pelo capital são imensas e muito variadas, ultrapassando com cresce ao proletariado clássico.

Aqueles julgamentos de Marx sobre a tendência destruidora do capitalismo e em frente à tragédia humana provocada por esse modo de produção, esmorecem enquanto este sistema de dominação avança para sua senilidade, tornando-se a cada vez mais cruel, violento e predador:

"Finalmente -dizia então este genial pensador-, à medida que os capitalistas se vêem forçados, a explorar numa escala a cada vez maior os gigantescos meios de produção já existentes, se vendo obrigados para isso a pôr em jogo todos os mecanismos do crédito, aumenta a frequência dos terremotos industriais, nos quais o mundo só consegue se salvar sacrificando aos deuses do averno uma parte da riqueza, dos produtos e até das forças produtivas; aumentam, numa palavra, as crises. Estas são a cada vez mais frequentes e mais violentas, já pelo só fato de que, à medida que cresce a massa de produção e, portanto, a necessidade de mercados mais extensos, o mercado mundial vai se reduzindo mais e mais... Menos mercados novos que explorar". Mas o capital não vive só do trabalho. Este amo, simultaneamente distinto e bárbaro, arrasta consigo à cova os cadáveres de seus escravos, hecatombes inteiras de operários que sucumbem nas crises. (C. Marx e F. Engels, Obras Escolhidas, Tomo I, paq 177, Editorial Progresso, Moscou 1973)

O neoliberalismo potenciou todas as dinâmicas exploradoras, excludentes, poluentes, predadoras e destruidoras da grande propriedade privada capitalista e do Estado que o serve; fenômeno que na periferia dependente dos grandes centros capitalistas se expressa com especificidades dramáticas quanto aos sujeitos oprimidos e excluídos, e quanto à dimensão da tragédia social e humana.

Nestes países a luta de classes abrange sujeitos populares inexistentes no passado e incorpora temas globais e setoriais cruzados por ela, que resultam vitais para a emancipação plena dos seres humanos e a salvação do planeta.

Readequação e endurecimento do papel do Estado no meio da mega-crise do capitalismo imperialista.

Por outra parte, o papel do Estado na dominação, longe de desaparecer, assume modalidades nacionais e transnacionais mais efetivas para defender os interesses do capital corporativo e da grande propriedade privada.

Como nos diz Iñaki Gil de San Vicente:

"A tendência dos Estados capitalistas atuais vai em direção a poderes burocratizados fortes, a cada vez mais separados da vida parlamentar formal, com estreitas conexões internas com as organizações burguesas privadas, e crescentemente coordenados com e/ou supeditados a outros Estados mais poderosos e aos grandes gigantes financeiros transnacionais, que também estão unidos a corporações industriais" ("ESTADO E DOMINAÇÃO".- TEXTO ESCRITO PARA A CONVERSA DEBATE NO CSO LA TRABA, EUSKAL HERRIA 7-I-2011)

As crises previstas não cessaram como também não as reestruturações do sistema, mais quando as alternativas revolucionárias não dão certo. Mas ademais as grandes crises atuais vão para além das crises cíclicas de sobreprodução e das meramente econômicas e sociais, ou simplesmente financeiras.

As periódicas respostas do capitalismo a sua própria crise geram crise a cada vez mas estruturais, sistêmicas, multifacéticas (financeiras, econômicas, sociais, política- institucionais, ambientais, urbanistas, militares). Crise de existência da humanidade, crise que ultrapassam, não para o negar, uma parte os prognósticos de MARX.

"Nova crise", como afirma Iñaki Gil de San Vicente:

"Sofremos uma crise nova porque nunca a civilização do capital desenvolvia ao mesmo tempo tantas contradições irresolúveis e tantas forças destructivas. O capitalismo é como o bruxo que não pode controlar as forças infernais que conjurou, mas à custa de gerar maiores hecatombes futuras" ("A que crise nos enfrentamos?"- EUSKAL HERRIA 2011-III-6)

Ou em outras palavras uma mega-multi-crise. Uma "crise da civilização burguesa", como denomina o professor argentino Jorge Beinstein, a crise mundial em desenvolvimento:

"Encontramo-nos ante uma crise sistémica. Eu prefiro falar de crise de civilização, isto é da civilização burguesa que apresenta múltiplas feições: econômico-financeiro, ambiental, energético, alimentar, militar, e cujo motor se encontra no centro do mundo: os Estados Unidos. É uma crise global que vem sendo preparada desde faz umas quatro décadas. A decolagem da decadência do sistema pode ser estabelecido no lustro que vai desde 1968 a 1973 quando concluiu a prosperidade do pós-guerra. Estamos agora no começo do que muito provavelmente será um longo período de turbulências, marcado pela declinação geral do sistema". ("Crônica de uma crise anunciada".- Entrevista em "A Revista do CC" Edição 4, ano 2, dezembro 2008).

Advertências visionárias relativas ao super-Estado como negador da liberdade.

E se falarmos da experiência estatista como "alternativa" supostamente "socialista" ao capitalismo, não é difícil encontrar em múltiplos textos de Marx, Engel e Lenin a ideia de que a expropriação pelo Estado dos meios de produção e distribuição em mãos de capitalistas privados devia ser um passo para a socialização, para a prevalência do social e do interesse coletivo; e, em perspetiva, para a negação do Estado através de sua progressiva extinção.

Da mesma forma, os clássicos marxistas conceberam o estado de transição ao socialismo e ao comunismo como um conjunto de instituições sob controle da sociedade, garantia fundamental de liberdade.

"Liberdade consiste -Marx enfatizou- em converter o Estado de órgão que está acima da sociedade em um órgão completamente subordinado a ela, e as forma de Estado seguem sendo hoje mais livres na medida limitam a "liberdade do estado" (C. Marx.- Critica do programa de Gotha, Obras Escolhidas C. Marx / F. Engels, tomo III, pag. 22), Editorial Progresso, Moscou, 1974).

Marx entendia a "ditadura do proletariado" como a mediação na transição revolucionária do capitalismo ao socialismo, em tanto poder do proletariado para erradicar a herança capitalista e seu domínio de classe; como democracia proletaria, isto é, democracia socialista.

Em sua formulação teórica o conceito "ditadura do proletariado" não implicava um estado negador das liberdades, mas todo o contrário: um estado sob controle da sociedade, como recurso de liberdade. Referia-se à hegemonia social, à hegemonia de classe dentro de um processo preponderante democrático e participativo.

Daí suas elogiosas avaliações da "Comuna de Paris" e sua exaltação de suas alecionadoras essências democráticas: eleição, revogação, ausência de privilégios, controle social, auto-organização e poder popular.

Suas profecias rebatem a tese da suplantação do trabalho pelo conhecimento e da inexistência do capitalismo na pós-modernidade

Noutra ordem, àqueles que hoje falam de uma "sociedade do conhecimento" e de pós capitalismo dentro do capitalismo; que afirmam a suposta superação do modo de produção capitalista a partir da redução da exploração da força de trabalho pelo impacto da "quarta vaga tecnológica", o velho Marx respondeu de maneira contundente faz 150 anos através da voz profética dos "Grundrisse":

-"O tempo de trabalho direto -afirmou então- desaparece como algo infinitamente pequeno em relacionamento com o produto".

"O plus trabalho da massa -agregou- deixou de ser condição para o desenvolvimento da riqueza social, bem como o não trabalho de uns poucos cessou de ser para o desenvolvimento dos poderes gerais do intelecto".

O processo de avanço contínuo dos instrumentos de trabalho e do impacto da ciência na dinâmica capitalista -segundo Marx- vê o "ser humano produtivo" converter-se progressivamente num "regulatório do processo de produção", provocando ao mesmo tempo o "empequenecimento" do roubo do tempo do trabalho alheio, embora não assim o roubo do produto do mesmo.

Predisse assim o impacto modernizador da ciência nos processos produtivos e na redução progressiva do trabalho necessário, mas sempre "cabeça abaixo", potenciando as lógicas capitalistas da desocupação, o trabalho precário, a contratação aleatória e a demissão precoz. E assim foi.

Precisado tudo isto em relacionamento com a atualidade do pensamento de Marx é possível reafirmar o caráter imprescindível de sua criação teórica para abordar o relacionado com as transições revolucionárias ao socialismo em nossa América, tanto nos países de capitalismo neoliberal como no caso da evidente crise do estatismo burocrático que ocupa um lugar importante no transcendente debate que tem lugar na Cuba atual, dado o colapso desse tipo de modelo nos países da Europa Oriental e na URSS. (Março 2011, Santo Domingo).

Fonte: Kaos en la Red.

Tradução do Diário Liberdade.


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