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Leonardo Boff

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Em coluna

Nem o pessimismo capitalista e nem o darwinismo social

Leonardo Boff - Publicado: Sábado, 27 Março 2010 00:08

 

Lenoardo Boff

Que fazer quando uma crise como a nossa se transforma em sistêmica, atingindo todas as áreas, e mostra mais traços destrutivos que construtivos?


O modelo social montado nos primórdios da modernidade, assentado na magnificação do eu e em sua conquista do mundo pela acumulação privada de riqueza, não pode mais ser levado avante. Apenas os deslumbrados acreditam ainda nesse projeto que é a racionalização do irracional. Não podemos crescer indefinidamente porque a Terra não suporta mais. Esse modelo não deu certo pelas perversidades sociais e ambientais que produziu. Por isso, é intolerável que nos seja imposto como a única forma de produzir.

A situação emerge mais grave ainda quando esse sistema vem sendo apontado como o principal causador de crise ambiental generalizada, culminando com o aquecimento global. A perpetuação desse paradigma de produção e consumo pode, no limite, comprometer o futuro da biosfera e a existência da espécie humana.

Como mudar de rumo? É tarefa complexíssima. Mas devemos começar. Antes de tudo, com a mudança de nosso olhar sobre a realidade, olhar esse subjacente à atual sociedade de mercado: o pessimismo capitalista e o darwinismo social.

O pessimismo capitalista foi expresso pelo fundador da economia moderna, Adam Smith (1723-1790). Observando a sociedade, dizia que ela é um conjunto de indivíduos egoístas, cada qual procurando o melhor para si. Acreditava que esse dado é tão arraigado que não pode ser mudado. Só nos resta moderá-lo. A forma é o mercado, no qual todos competem, equilibrando os impulsos egoístas.

O outro dado é o darwinismo social raso. Pela tese de Darwin, hoje vastamente questionada, no processo da evolução das espécies, sobrevive apenas o mais forte e o mais apto a adaptar-se. No mercado, os fracos serão sempre engolidos pelos mais fortes. É bom que assim seja, dizem, senão a fluidez das trocas fica prejudicada.

Há que se entender corretamente a teoria de Smith. O que fez foi traduzi-la teoricamente no seu livro "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"(1776) e justificá-la. Havia, na época, um processo perverso de acumulação individual e de exploração desumana da mão de obra.

Hoje não é diferente. As três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores a toda a riqueza de 48 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas; e 257 pessoas acumulam mais riqueza que 2,8 bilhões, o que equivale a 45% da humanidade. O resultado é que mais de 1 bilhão de pessoas passa fome e 2,5 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza. No Brasil, 5.000 famílias possuem 46% da riqueza nacional.

Professor de ética, Smith acreditava que o mercado poderia controlar os egoísmos e garantir o bem-estar de todos. Pura ilusão! Foi reducionista: ficou só no egoísmo. Esse existe, mas pode ser limitado pela cooperação. O ser humano só sobrevive dentro de relações de reciprocidade. Egoísmo e altruísmo convivem. Mas o egoísmo faz todos serem inimigos uns dos outros.

Mudar de rumo? Sim, na direção do "nós", da cooperação de todos com todos e na solidariedade universal. Com altruísmo e compaixão, os fracos não serão vítimas da seleção natural. Interferiremos, criando condições para que vivam e continuem entre nós. Pois cada um é mais que um produtor e um consumidor. É único no universo, portador de uma mensagem e membro da grande família humana.


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