1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (1 Votos)
Séchu Sende

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Em coluna

13 colherinhas numha caixinha negra

Séchu Sende - Publicado: Segunda, 28 Março 2011 03:01

Séchu Sende

Luísa tem umha colecçom mui especial.


De colherinhas. Dentro dumha caixinha forrada com veludo negro. Mostrou-mas na sua casa.

-Nom tenho demasiadas, afortunadamente. E digo afortunadamente porque cada vez que consigo umha é como se medrasse a minha tristeza... às vezes, outras, a raiva. Já perdim a conta delas, tenho-as nesta caixinha negra, olha. Vês, som colherinhas pequenas, prateadas, todas som diferentes.

Contei-nas. Brilhavam. Havia doze colherinhas.

-Esta foi a primeira, -dixo Luísa colhendo umha-. A mim encantava-me jogar de nena com ela e um dia dixo-me minha avoa, recordo-o perfeitamente, dixo: Esta colher agora é tua. Coida-a bem e limpa-a com limom, que é de prata. Recordo-o como se fosse hoje: Esta colher... agora é tua. Esta colher... dixo. Guardei-na como um tesouro até hoje. Despois minha avoa puxo-se a pelar umha laranja.

Luísa tem duas nenas. Umha de cinco anos, Inês, e outra de dez meses, Maruxa. Saímos dar umha volta e entramos num bar, na Rua do Príncipe. Pedimos duas cervejas. Maruxa começou a chorar no carrinho e Luísa colheu-na no colo.

- Tem fame, dixo.

Sacou um tarrinho do bolso, mostrou-lho á nena, que deixou de choromicar, e dixo-lhe:

- Hoje preparei-cho de laranja e pera.

E dixo-me a mim:

- Nunca levo colherinha no bolso.

Ergueu-se e achegou-se à barra com a nena no colo.

- Olá, poderia deixar-me umha colherinha?

A camareira dixo: Que?

- Umha colher, -repetiu Luísa..

- Que?, -repetiu a camareira. Teria uns trinta anos.

- Umha colher, repetiu.

- Eh?, repetiu a camareira.

- Umha colher, -repetiu Luísa sinalando com o dedo umha colherinha que havia sobre a barra um pouco mais alá.

- Ah!, exclamou a camareira.

Luísa voltou com a colher e dixo enfadada, indignada:

- Outra para a colecçom.

E dixo:

- É triste que haja alguém que nom te entenda no teu próprio país quando pides umha simple colher.

E dixo:

- Por isso é triste a minha colecçom, porque medra com a ignoráncia da gente... E dá-me raiva.

Quando Maruxa acabou a pera com laranja e nós, as cervejas, Luísa guardou a colherinha no bolso, paguei e marchamos. Na rua Inês prendeu-se da mao de sua mae e dixo-lhe:

- Mamá, sabes, vou começar umha colecçom de garfos.

 

Fonte Original: Galiza Confidencial


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.