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Xurxo Martiz Crespo

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Em coluna

L Aniversário da tomada do 'Santa Maria' 1961-2011

Xurxo Martiz Crespo - Publicado: Sábado, 22 Janeiro 2011 01:00

Xurxo Martínez Crespo

Esta é a primeira carta escrita por Xosé Velo ao comandante Soutomaior. Enquanto Velo sobe ao Santa Maria com um cartão de mestre da Escola de Oficiais da Venezuela (não tinha passaporte venezuelano nem espanhol), Soutomaior sobe com a sua documentação legal e com o seu nome verdadeiro: José Fernández Vázquez.


Concedido o asilo político no Brasil, o comandante Jorge de Soutomaior solicita o asilo sob este nome e apanha um avião com a sua documentação verdadeira para Caracas. No Brasil ficarão muitos dos comandos do DRIL, não só Velo e o seu filho Vitor, como também o próprio filho de Soutomaior, Federico.

O status de refugiado político impedia a realização de actividades políticas ou de angariação de fundos, eis a razão pela qual Velo tenta que Soutomaior angarie na Venezuela.

A realidade é que depois do assalto, semanas depois do asilo no Brasil, o Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL) estava totalmente esfarelado devido, entre outras causas, às divergências entre Xosé Velo e Henrique Galvão e à falta de fundos com que podia contar o DRIL no Brasil, país com uma inexistente comunidade antifranquista ou republicana exilada.

O exílio de Xosé Velo no Brasil servirá para tentar dar um conteúdo ideológico ao DRIL e a redação, por parte de Velo, da Declaração de Princípios de 1 de Julho de 1961, assim como das Instruções para comandos e oficiais de comandos do DRIL.

"Caro amigo: os homens do DRIL que não são todos os que estão e ainda não estão todos os que são, demonstramos com factos em várias oportunidades que os caminhos da liberdade não estão feitos, há que fazê-los ao andar. O DRIL também demonstrou e seguirá demonstrando que a luta assumirá características mais violentas e mais espetaculares e mais eficazes que as ações realizadas até agora.

Esta última operação, na qual pusemos todo quanto tínhamos que pôr, apesar de não dar todo o rendimento que dela estávamos à espera devido a determinadas causas, foi suficiente expressiva do que se pode fazer ainda pela via dos orçamentos estreitos e mais que estreitos, estreitíssimos. De qualquer maneira, e ainda quando alguém se aproveitou(1) do que, mais que ele, fez o DRIL, conseguiu-se tirar definitivamente o sono aos ditadores ibéricos, erguer o nosso nome, o do DRIL, sobre a surdez e a cegueira do mundo e provocar em Angola uma insurreição que só irá findar com a independência desta colónia. Aguardemos mais coisas. Há que acreditar no DRIL. Aí parece que não funcionam bem os companheiros (2). Eu, pessoalmente, estou com as minhas dúvidas sobre a sua eficácia, sobre a eficácia de alguns(3). De um modo muito particular vou-te pedir duas coisas:

Uma é que tentes organizar bem o grupo de Puerto Ordaz sem te importares nada com o que não vierem a fazer Caracas ou outra localidade. Fá-lo com plena liberdade tentando conseguir, como for, 10.000 ou 15.000(4) bolívares, o mais rápido possível. Se puderem estar reunidos antes do dia 5 do mês de Maio(5), estarás a dar ao DRIL um altísimo serviço e estaremos a produzir factos de mais impacto que o do SANTA LIBERDADE. Pede-os emprestados se não puderes de outro modo. Que se responsabilizem contigo 4 ou 5 colegas, tentando que não seja nenhum deles velhos "drilistas" caraquenhos, para que o grupo de Puerto Ordaz possa brilhar por ele próprio e se eu não posso vir, já te farei saber como podes seguir em contacto comigo. Se não te fora possível mandar o dinheiro que possas reunir em dólares, serve em bolívares, ou noutra moeda qualquer. Confirma-me por cabo se posso contar com a tua ajuda e em que prazo, para não perder tempo em esperanças. Se for positiva a tua resposta (6), espera que te indique onde e como tens que fazer a remessa, pois se não conseguir ir, como pensava e era preciso, tenho que ir a algum outro lugar da América do Norte em breve prazo, antes de atravessar o oceano definitivamente para que neste ano Franco compreenda de uma vez que já não pode resistir a vontade do DRIL.

Agora, mais do que nunca, precisamos dinheiro, para cobrir a fase que não se pôde cumprir com o Santa Maria. O tempo urge para tirar a organização da pobreza que não nos deixa trabalhar como, sem dúvida, sabemos.

As perspectivas operativas são mais do que magníficas, podem ser definitivas. Só é preciso que todos ponham da sua conta o possível e o que puder parecer impossível. Nós, que agora somos muitos mais e imenso melhor dispostos para grandes ações, já demonstramos que se pode ter confiança no que, sem dizer, anunciamos.

Ao DRIL só o atrasaram os escassos recursos económicos, mas não o pára já nem Deus. Há que acreditar nesta nova e vigorosa organização porque tem vocação de gigante e em seguida vai derrubar a Franco e o franquismo e todas quantas componendas puderem imaginar os politiqueiros.

Fico à espera do teu cabograma e da tua carta. Escreve-me assim:

Yara Velmos

Rua Teixeira da Silva(7) 621

Bairro Paraiso

S. Paulo (Brasil)

Dá-me um endereço seguro ao qual te possa escrever e melhor ainda dois endereços para assegurar a chegada da correspondência. As coisas importantes iriam sempre aos dois endereços,

Abraços drilistas do teu amigo e companheiro. Junqueira de Ambía (Xosé Velo).

Notas:

(1) Refere-se a Henrique Galvão

(2) O jornalista carnotano Julio Formoso, encarregado de comunicação do DRIL, das famílias dos comandos durante o sequestro e das relações do Diretório com os políticos venezuelanos, Formoso trabalhava no Ministério de Minas e mantinha uma posição de confronto com Velo.

(3) De Julio Formoso principalmente

(4) 3.500 dólares estado-unidenses

(5) De 1961.

(6) A resposta foi negativa.

(7) Nesta rua de São Paulo fica na actualidade, 2011, a Livraria Folhas Novas.


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