Concedido o asilo político no Brasil, o comandante Jorge de Soutomaior solicita o asilo sob este nome e apanha um avião com a sua documentação verdadeira para Caracas. No Brasil ficarão muitos dos comandos do DRIL, não só Velo e o seu filho Vitor, como também o próprio filho de Soutomaior, Federico.
O status de refugiado político impedia a realização de actividades políticas ou de angariação de fundos, eis a razão pela qual Velo tenta que Soutomaior angarie na Venezuela.
A realidade é que depois do assalto, semanas depois do asilo no Brasil, o Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL) estava totalmente esfarelado devido, entre outras causas, às divergências entre Xosé Velo e Henrique Galvão e à falta de fundos com que podia contar o DRIL no Brasil, país com uma inexistente comunidade antifranquista ou republicana exilada.
O exílio de Xosé Velo no Brasil servirá para tentar dar um conteúdo ideológico ao DRIL e a redação, por parte de Velo, da Declaração de Princípios de 1 de Julho de 1961, assim como das Instruções para comandos e oficiais de comandos do DRIL.
"Caro amigo: os homens do DRIL que não são todos os que estão e ainda não estão todos os que são, demonstramos com factos em várias oportunidades que os caminhos da liberdade não estão feitos, há que fazê-los ao andar. O DRIL também demonstrou e seguirá demonstrando que a luta assumirá características mais violentas e mais espetaculares e mais eficazes que as ações realizadas até agora.
Esta última operação, na qual pusemos todo quanto tínhamos que pôr, apesar de não dar todo o rendimento que dela estávamos à espera devido a determinadas causas, foi suficiente expressiva do que se pode fazer ainda pela via dos orçamentos estreitos e mais que estreitos, estreitíssimos. De qualquer maneira, e ainda quando alguém se aproveitou(1) do que, mais que ele, fez o DRIL, conseguiu-se tirar definitivamente o sono aos ditadores ibéricos, erguer o nosso nome, o do DRIL, sobre a surdez e a cegueira do mundo e provocar em Angola uma insurreição que só irá findar com a independência desta colónia. Aguardemos mais coisas. Há que acreditar no DRIL. Aí parece que não funcionam bem os companheiros (2). Eu, pessoalmente, estou com as minhas dúvidas sobre a sua eficácia, sobre a eficácia de alguns(3). De um modo muito particular vou-te pedir duas coisas:
Uma é que tentes organizar bem o grupo de Puerto Ordaz sem te importares nada com o que não vierem a fazer Caracas ou outra localidade. Fá-lo com plena liberdade tentando conseguir, como for, 10.000 ou 15.000(4) bolívares, o mais rápido possível. Se puderem estar reunidos antes do dia 5 do mês de Maio(5), estarás a dar ao DRIL um altísimo serviço e estaremos a produzir factos de mais impacto que o do SANTA LIBERDADE. Pede-os emprestados se não puderes de outro modo. Que se responsabilizem contigo 4 ou 5 colegas, tentando que não seja nenhum deles velhos "drilistas" caraquenhos, para que o grupo de Puerto Ordaz possa brilhar por ele próprio e se eu não posso vir, já te farei saber como podes seguir em contacto comigo. Se não te fora possível mandar o dinheiro que possas reunir em dólares, serve em bolívares, ou noutra moeda qualquer. Confirma-me por cabo se posso contar com a tua ajuda e em que prazo, para não perder tempo em esperanças. Se for positiva a tua resposta (6), espera que te indique onde e como tens que fazer a remessa, pois se não conseguir ir, como pensava e era preciso, tenho que ir a algum outro lugar da América do Norte em breve prazo, antes de atravessar o oceano definitivamente para que neste ano Franco compreenda de uma vez que já não pode resistir a vontade do DRIL.
Agora, mais do que nunca, precisamos dinheiro, para cobrir a fase que não se pôde cumprir com o Santa Maria. O tempo urge para tirar a organização da pobreza que não nos deixa trabalhar como, sem dúvida, sabemos.
As perspectivas operativas são mais do que magníficas, podem ser definitivas. Só é preciso que todos ponham da sua conta o possível e o que puder parecer impossível. Nós, que agora somos muitos mais e imenso melhor dispostos para grandes ações, já demonstramos que se pode ter confiança no que, sem dizer, anunciamos.
Ao DRIL só o atrasaram os escassos recursos económicos, mas não o pára já nem Deus. Há que acreditar nesta nova e vigorosa organização porque tem vocação de gigante e em seguida vai derrubar a Franco e o franquismo e todas quantas componendas puderem imaginar os politiqueiros.
Fico à espera do teu cabograma e da tua carta. Escreve-me assim:
Yara Velmos
Rua Teixeira da Silva(7) 621
Bairro Paraiso
S. Paulo (Brasil)
Dá-me um endereço seguro ao qual te possa escrever e melhor ainda dois endereços para assegurar a chegada da correspondência. As coisas importantes iriam sempre aos dois endereços,
Abraços drilistas do teu amigo e companheiro. Junqueira de Ambía (Xosé Velo).
Notas:
(1) Refere-se a Henrique Galvão
(2) O jornalista carnotano Julio Formoso, encarregado de comunicação do DRIL, das famílias dos comandos durante o sequestro e das relações do Diretório com os políticos venezuelanos, Formoso trabalhava no Ministério de Minas e mantinha uma posição de confronto com Velo.
(3) De Julio Formoso principalmente
(4) 3.500 dólares estado-unidenses
(5) De 1961.
(6) A resposta foi negativa.
(7) Nesta rua de São Paulo fica na actualidade, 2011, a Livraria Folhas Novas.