Mas isto é em países mais avançados do que o nosso. Aqui ainda não chegou essa inovação. Nenhuma organização se lembrou ainda de convocar os homens dos diferentes colectivos, associações e comités para uma discussão sobre a relação entre esses mesmos movimentos, a percepção da masculinidade e a dominação patriarcal. Isto é, ainda não se reconheceu que as atitudes machistas se reproduzem também no seio dos movimentos sociais.
Hoje a maioria dos homens minimamente esclarecidos manifesta-se moralmente contra a violência machista e esse é sem dúvida um êxito do movimento feminista. Mas a violência masculina não tem uma expressão apenas ‘física’, a ‘igualdade legal’ não eliminou a desigualdade e a discriminação quotidiana.
Os comportamentos patriarcais continuam a revelar-se nas relações afectivas, familiares, laborais, etc. e também nas lutas, actividades e práticas sociais, em que o combate ao patriarcado nunca se coloca como tarefa comum e imediata, como se fosse um problema exclusivo das mulheres e a elas entregue para resolução. Tais resistências têm a ver com o receio machista de perda de privilégios e não encontram qualquer justificação lógica, visto que se sabe perfeitamente que, sendo uma característica intrínseca ao capitalismo, as práticas patriarcais só perderão ímpeto quando forem atacadas de frente e assumidas como objectivos a combater no âmbito programático geral.
Será preciso dar mais esse passo que consiste em pôr os homens diante da reflexão que ainda não socializaram: que fazer nas relações quotidianas, nos colectivos, nas lutas sociais e económicas, para evitar que as relações patriarcais continuem a reproduzir-se? Como acabar com a cumplicidade com o sexismo? Como integrar os activistas no movimento pela igualdade, ao lado das mulheres e contra a opressão machista?