E entreguei-nos em Presidência. Este é o poema:
Senhor Presidente:
Pola presente aqui
lhe envio umha planta e mais um poema.
O poema é breve,
a planta, originária do Brasil.
Dieffenbachia é o seu nome,
ainda que a gente lhe chama
Comigo-Ninguém-Pode.
Vem do Amazonas
e chegou a Europa como planta decorativa
de interior,
pola sua toleráncia às sombras
e a sua cor sempre viva.
Senhor Presidente,
debe saber, porém,
que a planta é tóxica,
que as células do caule e das folhas
contenhem oxalato de cálcio
em cristais aciculares
que se afectam a gorja
podem provocar mudez,
nos casos graves.
Por isso se chama em inglés
Dumbcain
ou Cana do mudo.
Tem muito poder.
E isto nom o estou a inventar,
nom é lenda nem mitologia,
merquei-na por três euros,
numha floristaria.
Debe saber tamém
que nos Estados Unidos
foi utilizada para punir os escravos:
enchiam-lhes a boca de folhas.
Muitos homes e mulheres ficárom
para sempre calados.
Esta planta deixou sem palavras
milheiros de persoas
que perdérom para sempre a fala.
Por isso quigem eu
enviar-lhe esta planta,
Senhor Presidente,
recordou-me a sua forma de ser.
E agora vai a despedida,
mas devo dizer-lhe antes
que creo na justiça poética,
que a água nunca deve estar fria
e o rego há de ser abundante.
Um saúdo desde
a raiz dum tojo verde.
Séchu Sende
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