Infelizmente, a miséria tem castigado a nossa gente e tem levado muitas pessoas a tomarem o caminho da imigração; se há alguma visão positiva desta dramática situação, se calhar bem poderia ser a possibilidade de relacionamento e convivência com pessoas doutras origens geográficas e culturais. Em situações muito complexas, nem sempre aquelas relações foram bem-sucedidas: com frequência, houve certa tendência a deitar as culpas dos nossos problemas nos “diferentes” sem pensar em que sempre fomos “iguais”. Mas, excepcionalmente, tem havido momentos históricos em que imigrantes de diversas nacionalidades e naturais dos países de acolhimento têm concordado na luta contra as causas originais dos problemas mais graves das classes populares. Alias, é muito meritório que algumas dessas situações se dessem em momentos muito dramáticos, nos quais os sentimentos mais elevados tiveram ainda assim mais força do que aqueles outros mais primários e negativos.
Esse espaço de convivência e conflito que é o mundo do trabalho foi, por vezes, o lugar onde homens e mulheres de diversas nacionalidades e línguas deram passos conjuntos para fazer um mundo algo mais livre e solidário do que o existente. Congratulamo-nos de que muitas vezes conseguissem algum sucesso nesse difícil, mas esperançoso caminho. Gostaria de aproveitar as portas abertas do Diário Liberdade para partilhar com toda a a gente algumas histórias da nossa memória comum, não com a intenção da recordação melancólica, mas com o íntimo desejo de que em algo ajudem a construir um futuro melhor para todos.
Acredito que há algum proveito em lembrar porque o povo brasileiro se ergueu na República Velha ao grito de “mata galegos”; saber quais foram os motivos que levaram o governo português a expulsar trezentos padeiros galegos nos finais do século XIX; conhecer algo mais da militância de imigrantes lusófonos entre o operariado galego, brasileiro ou português; pesquisar nas relações entre a militância antifascista dos nossos países na luta contra as ditaduras; averiguar como foi que operários brasileiros, galegos e portugueses organizaram dois congressos contra a I Guerra Mundial; comparar as consequências da febre do volfrâmio na Galiza e em Portugal; ou descobrir a história da União Galaico-Portuguesa. Estas e outras questões podem ser boas para tirar alguma lição da actividade das pessoas que há tempo viveram situações semelhantes às que nós vivemos hoje ou às que possamos viver amanhã.
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