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Tomás González Ahola

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Utopias e outras realidades

Olhar atrás e adiante

Tomás González Ahola - Publicado: Quinta, 04 Março 2010 17:14

Tomás González Ahola

Olhar atrás e adiante, fantasias distópicas e realidades utópicas

Looking Backward was written in the belief that the Golden Age lies before us and not behind us.

Edward Bellamy. Looking Backward 2000-1887, if Socialism Comes 


Se qualquer de nós tivesse que citar uns poucos livros que marcárom a sua infáncia, adolescência e primeira juventude, é muito provável achar-se com que umha boa parte deles pertencem ao que dum jeito genérico podemos definir como “fantasia”, entendendo este termo como toda aquela literatura que fala de mundos imaginados, sejam estes passados, futuros ou alternativos. De facto, ainda que a dia de hoje os subgéneros da fantasia estejam considerados como literatura “popular”, quer dizer, fóra do cánone marcado polo elemento institucional do sistema literário-cultural, nom se pode negar que muitas das obras mais lidas e vendidas do mundo ainda a dia de hoje pertencem ou quando menos tributam ao mundo do fantástico. Um bom exemplo é o de J.K. Rowling, que é a autora que mais vende no Reino Unido e que sucedeu no seu posto ao genial Terry Pratchett, que segue a ter a honra de ser o autor mais roubado nas livrarias inglesas. 

É comum, ou polo menos o era até há pouco, que entre as leituras que convertem os jovens-adultos em leitores habituais estejam alguns clássicos como A história interminável de Ende, ou O senhor dos anéis de Tolkien, mas também é certo que umha narraçom capaz de gerar hábito de leitura também é criadora de opiniom, de ideologia, de formaçom inteletual e moral, e que umha ou outra recomendaçom pode levar a que um adulto em potência assuma como naturais e mesmo próprias umhas ou outras ideias.

Se analisamos dum ponto de vista ideológico essa fantasia que todos conhecemos, resultará muito doado chegar à conclusom de que os valores que destila som, quando menos “imobilistas”, ou mais ainda retrógrados. Por exemplo se tomamos a obra cánone do subgénero da fantasia heróica, O senhor dos anéis de J.R.R. Tolkien, e todos os seus miles de herdeiros literários acharemos-nos com páginas carregadas de racismo, exaltaçom da monarquia e o  patriarcado, anticomunismo, belicismo, e assim umha longa lista (dito isto com todos os meus respeitos por um dos melhores narradores ingleses de todos os tempos). Desse jeito será normal que umha pessoa formada na leitura com esta classe de textos chegue a naturalizar e mesmo a defender a monarquia, o papel passivo da mulher na sociedade, ou a superioridade da civilizaçom ocidental.

Tolkien, C.S. Lewis e os seus epígonos constituem um grupo muito importante na fantasia que som aqueles que olham para atrás na procura da Idade de Ouro, mas considerar todo um género como ideologicamente retrógrado a causa de algumhas das suas figuras mais prominentes seria simplificar demasiado umha realidade bem complexa, além de injusto com muitos outros autores que nom só nom seguem estas linhas mestras, senom que às vezes mesmo se enfrontam de face a elas.

Escolhim para começar este artigo essa citaçom da principal obra de Bellamy porque acho que é muito significativa em vários aspectos. Por umha banda, Bellamy é um desses autores que a dia de hoje quase ninguém conhece, mas que se um repassa a sua biografia, descobrirá que o impacto do seu Looking Backward na sociedade, no pensamento e na literatura da sua época foi o dum autêntico cataclismo, muito maior do que foi o de Tolkien por exemplo, mas a dia de hoje serám contadas as pessoas que lhe recomendem a sua leitura a um moço. Por outra banda, esta citaçom resume dum jeito magnífico a oposiçom com essa outra literatura fantástica de escapismo medieval e de retrocesso, já que diz que a idade de ouro nom está atrás, no passado, senom adiante, no futuro, um futuro que ele e outros simpatizantes do socialismo utópico vaticinavam brilhante, igualitário e justo. Em terceiro lugar, se um le ou polo menos conhece algo sobre esta obra entenderá o jogo das “olhadas”: a novela conta a história dum homem jovem que fica dormido em 1887 por umha hipnose induzida e esperta no ano 2000, numha sociedade modelada pola perfeiçom do socialismo, umha autêntica utopia. Deste jeito, a olhada retrospectiva da história nom é para um mundo feliz e impossível de alcançar no passado, senom para um presente (1887) escuro e nefasto, marcado pola exploraçom do trabalhador sob o modelo do capitalismo industrial do XIX, que se vai transformar na verdadeira idade de ouro chegado esse futuro (2000) ao qual chega o protagonista.

Agora bem, é Bellamy umha rara avis dentro do panorama do fantástico? Absolutamente nom. Entre os mais destacados autores da fantasia pré-tolkiniana pode-se citar por exemplo a William Morris, a George Griffith, a H.G. Wells, ou a Jack London, e na obra de todos eles destacam ideias como a luita de classes, a utopia socialista ou a revoluçom proletária, o que em muitos casos se ve confirmado pola militáncia política de vários deles. O caso de Jack London é bastante paradigmático, já que é um autor lido e recomendado “a meias” para os jovens, com o que em qualquer biblioteca pode-se achar um exemplar de White Fang ou de The Call of the Wild, mas nom é tam singelo achar um de The Scarlet Plague ou de The Iron Heel, que som obras capitais para entender o aspecto revolucionário da fantasia.

Na fantasia pós-tolkiniana ocorre mais do mesmo, e pessoalmente nom cansarei de recomendar a leitura de qualquera obra de Ursula K. Le Guin, figura fundamental na chamada “ficçom científica social”, ou de Michael Moorcock, que se enfrentou de face aos cánones do género, chegando a comparar O senhor dos anéis com Winnie de Pooh.

Mas, porquê o que adoita transcender do ámbito do fantástico pertence quase sempre de esse modelo de moralidade quase cristá e de cavaleiros andantes, sejam do passado, do futuro ou de há muito tempo numha galáxia muito afastada? Se calhar essas outras vozes críticas e às vezes geniais que falam da transformaçom nom som de tudo cómodas para os criadores de opiniom, esses mesmos, amos e senhores do mercado literário, que se esforçam por fazer crer à maioria que a fantasia é só literatura para crianças, de segunda classe, ou carente de qualquer reflexom séria sobre a realidade.

Ao começo falava do úteis que som estes livros para “criar pensamento” entre os jovens, mas a fantasia é algo mais que literatura infanto-juvenil. As características específicas do género convertem-na em umha ferramenta ou em umha arma de imenso valor, já que alguns subgéneros específicos como o da utopia, o da ficçom científica social ou o da distopia, som por definiçom magníficos campos de experimentaçom para investigar, divulgar e debater sobre esse outro mundo que é possível, sobre as chaves do cámbio, da revoluçom e do futuro que queremos criar, sob a ideia de que a Idade de Ouro está diante de nós e nom detrás.

 


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