Querer atirar com Lenine para o caixote do lixo da história embrulhado numa folha A4 é tão ridículo que não mereceria comentário. Mas ainda assim…
Esse teórico da revolução, escreveu quarenta e dois volumes que revelam a genialidade do seu pensamento revolucionário marxista, dirigiu a maior revolução proletária vitoriosa da história, levou ao poder, junto com outros revolucionários, a classe operária e as massas oprimidas da Rússia, ajudou a construir o primeiro estado democrático revolucionário que derrubou e eliminou as classes burguesas. Inspirou a luta épica de centenas de milhões de trabalhadores de todo o mundo. Conclamou os revolucionários de todo o mundo através da Internacional Comunista à luta pela revolução mundial.
Morreu aos 54 anos, quando grandes tormentas espreitavam o mundo novo que acabara de vêr a luz do dia.
Morreu o génio da revolução sem poder contribuír com a sua inteligência e lucidez admiráveis, para fazer frente e ajudar na resolução de novos problemas teóricos e práticos. Ainda assim, os seus legados são tão grandes e universais, que continuam como fonte inspiradora para quem queira lutar para pôr fim ao capitalismo, este sistema execrável que ora se mascara de democrático social e progressista, ora de neoliberal, e quantas vezes de fascista, mas sempre um verme devorador das energias, do trabalho criador e dos sonhos de centenas de milhões de trabalhadores, seres humanos que vivem e morrem enriquecendo a minoria parasita.
A revolução, (provou-o a história na Rússia), é a prova maior da daléctica onde se mistura a negação da negação com a separação dos contrários, e se perspectiva uma nova qualidade. Podemos observar na natureza o evoluír deste processo e a sua tremenda violência, por exemplo, no nascimento e morte de estrelas e galáxias. Leis inexoráveis pôem em movimento a mecânica da substituíção do velho pelo novo, e o mundo caminhando para novos estádios.
As mesmas leis se aplicam às sociedades humanas em que a divisão em classes aprofunda os antagonismos, ao mesmo tempo que infigem profundos e incontáveis sofrimentos á maioria, numa acumulação constante de iniquidades. Contradição que é solúvel pela obtenção de uma nova qualidade através de um processo revolucionário. São as leis da revolução.
Lenine que provou na prática querer transformar o mundo, a primeira de todas as suas prioridades foi a construção de uma arma de tal forma eficáz que estivesse preparado para vencer a grande batalha de classe que é a revolução. Essa arma chama-se Partido Comunista.
Um organismo vivo, temperado nas lutas económicas e políticas das massas trabalhadoras, das mais exploradas, o proletariado e o campesinato. Partido que não excluíu nenhuma forma de luta de massas, e incluíndo a luta parlamentar, mas sempre com o objectivo de combater a burguesia e dar a perspectiva de que os explorados devem ambicionar o poder e não se limitar às reivindicações democráticas.
Ao tomarem o poder em 1917 na Rússia, as massas encontraram grandes dificuldades para o seu exercício. Tendo numa primeira fase colaborado com o governo provisório parlamentar, cedo ficou claro que este se preparava para retomar o caminho burguês utilizando os sacrifícios de milhões de explorados em proveito da minoria exploradora.
Que fazer então? Entregar o poder, ou tomar o poder?
Depostas que foram as classes reaccionárias, a resposta criadora foi dada pela maioria dirigida pela sua vanguarda, o Partido Comunista Bolchevique que deu seguimento à revolução através do poder dos Sovietes. Poder amplamente democrático porque participado por todas as classes revolucionárias interessadas no progresso histórico.
A questão central de toda a revolução é a questão do poder de estado, resolvida de forma inigualável pelas massas trabalhadoras de toda a Rússia Soviética, porque, a maioria dos revolucionários estava de acordo com a tomada do poder, a maioria do prletariado e das outras classes oprimidas estavam de acordo com a tomada do poder, as classes intermédias vacilantes estavam dispostas a entregar o poder aos burgueses, a revolução via-se ameaçada de sucumbir aos interesses do imperialismo. A correlação de forças era favorável ao triunfo da revolução. As palavras de ordem dos comunistas foram aceites pela maioria: Paz, Pão e Terra.
E a revolução triunfou! Que grande coragem e lucidez a de Lenine!
O que se passou na União Soviética após a morte de Lenine só oportunistas sem escrúpulos podem atribuír-lhe.
Hoje como então, as classes pequeno-burguesas vacilam, e perante elas abrem-se os caminhos ínvios da capitulação. Compôem elegantes programas económicos onde não faltam os conceitos de justiça, igualdade, dignidade e democracia. Anunciam governos de esquerda, e rupturas democráticas, como alternância ao capitalismo desenfreado e em profunda crise. Oferecem até no futuro, partilhas de poder e pluri-partidarismos democráticos.
Oferecem as ovelhas ao lobo para que este se torne seu amigo e mude de instintos.Tudo conversa fiada.
Quais são as classes em Portugal interessadas em pôr o imperialismo a andar daqui para fora?
Quais são as classes interessadas em dar fim ao capitalismo nacional e internacional?
Quais as classes que precisam de terra para trabalhar?
São as classes intermédias (as tais das pequenas e médias empresas) ou as centenas de milhares que saboreiam os belos ordenados patrocinados pelo estado ou pela próximidade às administrações das empresas?
Aqui vai a resposta das classes interessadas em fazer cheque-mate ao capital e à sociedade burguesa.
…“e no fundo, o resto, a quem cabe a tarefa de fazer andar o carro e para os quais não há bónus - assalariados de todo o tipo, operários, empregados, desempregados, precários, “donas de casa”…
São oito décimos da população, mas como as suas vozes não têm direito a fazer-se ouvir, há quem não dê por eles.” [1]
É com estes que será feita a revolução em Portugal e por todo o mundo.
Mas, afinal, o que fazer com Lenine se no mundo dos nossos pequeno burgueses de “esquerda”não há lugar a uma revolução? É lógico que está a mais e só estorva.
Creio que Lenine saberia muito bem o que dizer a tão atarantados conservadores.
Nota
[1] Francisco Martins Rodrigues in Anti-Dimitrov.