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Raphael Tsavkko Garcia

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Defenderei a casa de meu pai

A Não-violência enquanto tática, uma visão histórica e o caso palestino – Parte 2

Raphael Tsavkko Garcia - Publicado: Sábado, 04 Setembro 2010 09:47

Raphael Tsavkko

O Oriente Médio e o conflito permanente.


Chegando ao Oriente Médio, podemos notar que a resistência pacífica dos habitantes das pequenas vilas de Bil'in, Nil'in ou outras resultou em ganhos efetivos, mas locais, limitados e longe de satisfatórios para toda a população. O ganho, na verdade, é moral, mais que material, o que de nada serve quando o inimigo costumeiramente dá as costas para o Direito Internacional, para a ONU e para a opinião pública mundial.

O documentário da brasileira Julia Bacha, Budrus, nos dá uma visão panorâmica e privilegiada da primeira vila Palestina a efetivamente se valer da tática de não-violência para vencer o exército israelense. O que fica claro do filme é que a vila escolheu este caminho principalmente pela completa falta de opções. De população reduzida, desprotegida e frágil, não havia qualquer alternativa senão a de protestar pacificamente e esperar pelo apoio de ativistas israelenses e internacionais - o que aconteceu.

De resultado, conseguiram mudar o traçado do Muro da Vergonha, mas, no geral, foi uma vitória tímida frente à toda ocupação e assentamentos nos territórios palestinos. Enquanto tática, funcionou, mas a não-violência dificilmente traria os mesmos resultados que a dura resistência do Hezbollah contra Israel durante a ocupação do sul do Líbano e na guerra de 2006.

Apenas para ilustrar, podemos trazer o caso basco para um rápido debate. Mesmo nos períodos de trégua da ETA, a violência estatal continuou à toda. Não importava que a tática do momento fosse a negociação e a deposição das armas, a resposta da Espanha era sempre a mesma, mostrando a inutilidade da não-violência enquanto tática no caso específico e também que a não-violência não pode ser tomada como filosofia.

O Hamas jamais teria chegado até onde chegou se não usasse um misto de filantropia islâmica, de ajuda humanitária e de respostas violentas e provocações contra Israel. Até 2004 - data do último atentado suicida perpetrado pelo Hamas -, a tática em voga era a do uso de homens-bomba contra Israel por cada Palestino morto. à época, os ataques forçaram Israel a negociar e tiveram o resultado de elevar a presença do grupo entre os Palestinos, de mostrar que a violência israelense não seria tolerada sem respostas
e, acima de tudo, em fazer afundar os Acordos de Oslo de 1993 - no que foram bem sucedidos.

Conclusão

A não-violência é, enfim, uma tática, e como tal deve ser analisada conjunturalmente, cada caso é um caso. Usada de forma exclusiva dificilmente surtirá efeito mais do que local ou transitório. Contra a violência de um Estado, de um grupo, dificilmente apenas a não-ação, ou a greve, ou a desobediência civil irão resultar em algo totalmente satisfatório.

Até mesmo a Flotilha humanitária para Gaza, que tinha objetivos totalmente pacíficos, acabou envolta em um conflito - desigual - entre israelenses fortemente armados com fuzis, sub-metralhadoras e armaduras e ativistas "armados" com facas e bastões. Mesmo
que a tática no momento fosse a da não-violência, no fim fogo foi combatido com fogo e o número de mortos poderia ter sido ainda maior a contar pela vontade israelense de dar um exemplo. Contra um inimigo violento, a primeira tática é tentar desarmá-lo, o que por si só é uma forma de violência e, não resultando em nada, deve-se buscar defender a própria vida usando as armas que se tem no momento. Nem toda situação é propícia para uma ação ao estilo Gandhi.

Os mortos no confronto, aliás, acabaram por dar uma visibilidade à causa e ao movimento em si que não seria possível sem as mortes dos ativistas. Apenas comparemos a Flotilha com o Rachel Corrie, navio que foi abordado por Israel dias depois sem qualquer violência. Quantos ouviram falar deste navio e qual foi a reação internacional?

A violência desmedida de Israel foi denunciada, filmada e divulgada e horário nobre para todo o mundo e ficou provado o caráter do Estado que é responsável pelo primeiro genocídio do século XXI e mais longo até então.

A resistência é um direito legítimo e toda tática deve ser empregada em seu momento certo sem que, porém, qualquer uma das táticas - seja o uso de homens-bomba ou a não violência - se sobressaia ou se torne uma ideologia e ponha, assim, tudo a perder.


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