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Pedro Monterroso

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O diabo revisitado

Guerra Global para palermas - como eu (que se põem a pensar)

Pedro Monterroso - Publicado: Quarta, 18 Novembro 2015 13:56

A questão de Paris, e das mortes em Paris, tem o protagonismo que tem, em relação à Síria, ao Líbano, ou ao Brasil, não por acaso mas pelo que esta cidade representa na história do Ocidente. Também, não por acaso, a medição do sofrimento medido em cântaros de lágrimas expelidas por terceiros é muito mais expressiva.


Comparar quantativamente as lágrimas choradas pelas pessoas de Paris, ou pelas pessoas de Beirute é justificável e compreensível. Achar o resultado da medição hipocrisia social é uma indução simplista. Do que aqui se trata, não é realmente do número de pessoas que morrem aqui ou ali, mas da vulnerabilidade com que se defronta Paris. Infelizmente toda a gente espera que o Líbano seja mais vulnerável, razão pela qual, quando se apela a rezar-por-paris, #PrayForParis não se está a pedir para rezar pelas pessoas, mas pela ideia, e a consequente materialização da mesma, e pelo que esta cidade representa para o mundo tal como ele é, ou veio a ser como é.

12248887 10154225950221509 1478173644 nA penetração belicista nesta capital e o ataque aos seus cidadãos por corporações globais ligadas ao petróleo, sob o nome de Estado Islâmico, numa estratégia que pareceu ser de guerrilha armada, tem como fim a conquista e a toma do império ocidental desde o centro, daí que o alarido dos média não é apenas alto, mas também repetitivo, frenético.

Há que entender que, o que aconteceu em Paris, é a consequência de uma nova guerra global que já começou há algum tempo com a invasão do Afeganistão e do Iraque e que tem muita gente cientificamente creditada (lembro-me, a título de exemplo, de Boaventura Sousa Santos ou de Noam Chomsky) que tem vindo a alertar para tal distopia e que, copiosamente, são apelidados pelos "fazedores" de opinião dos jornais do costume como esquerdistas radicais e, portanto, simploriamente engavetados pelo grande público, de modo que a sua sensatez é tida como politiquice ideológica, o que convém aos grandes interesses à volta do petróleo e da exportação de armas.

A relevância dada a Paris em menos prezo de outros lugares, tem a ver com isso mesmo, com o menos preço de outros lugares no jogo das conquistas globais. Lembram-se do Monopólio e do preço da Rua Augusta e do Rossio, que custavam 3.500, e 4.000 escudos respetivamente, sendo estas as cidades mais caras? Pois bem, Paris será, no monopólio das cidades europeias, uma destas ruas. Porque Paris é a cidade da luz, um dos berços do conceito Ocidente e um dos fortes do capitalismo europeu. Por estas e tantas outras razões está em Paris gente de todo o mundo que busca uma vida de segurança e de sonho que, talvez os europeus não saibam, mas é sonhado nos outros 3 cantos do mundo. Quantos venezuelanos, guatemaltecos, vietnamitas, norte-coreanos, não sonham viver nessa Europa velha, que conquistou o mundo e o moldou às suas necessidades? Na verdade, as massas admiram sempre os mais fortes e a Europa é, ainda, na sua imagem, essa força junto com os EUA. Recordo-me de uma conversa que tive com um boliviano, quando cheguei a Berlim pela primeira vez, que, apesar de ser advogado lá no seu país, estava à procura de um trabalho qualquer por lá. Eu perguntava-lhe ingenuamente o porquê dessa decisão, se na Bolívia poderia ter outro estatuto e quem sabe até ganhar mais dinheiro. Sabem qual foi a resposta dele? Que tinha vindo para cumprir o sonho Europeu. Eu, à época, pensava que só existia o sonho americano.

A Europa, tem uma responsabilidade na história que nós ignoramos porque estamos dentro dela, e porque dentro dela a propaganda política é muito forte. A Europa tem um papel central na ideia de construção da civilização ocidental que construiu a chamada globalização mais a mal, do que a bem (aqui entro num domínio muito pessoal da opinião, que daria azo a um outro texto). Entrar em Paris a matar, infelizmente, não é o mesmo que entrar em Beirute, por muito hipócrita que pareça, não é que os seres humanos não sejam igualmente valiosos. Não. É que Paris é antes de tudo a construção de uma ideia e um dos fortes da globalização e tomar o forte, representa a toma do império. Dá para compreender porquê que as lágrimas são mais pesadas por Paris?


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