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Paulo Marçaioli

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Batalha das Ideias

“A Comuna de Paris” – Vladimir I. Lênin

Paulo Marçaioli - Publicado: Segunda, 28 Setembro 2015 00:00

Resenha do Livro – “A Comuna de Paris” – Vladimir I. Lênin – Ed. Kiron – (org. Gilson Dantas).


A Comuna de Paris despertou e desperta a atenção de todos os militantes e estudiosos das lutas dos trabalhadores pelo seu pioneirismo. Trata-se do primeiro levante em que os trabalhadores, ainda que organizados de forma incipiente enquanto classe (em sua maioria artesãos e pequeno burgueses), tomaram de assalto os céus, expulsaram a burguesia francesa de Paris para Versalhes e tomaram medidas políticas que assombram pelo seu caráter revolucionário ainda nos dias de hoje como a dissolução da polícia e a constituição do povo em armas e mesmo medidas administrativas radicais como salários dos representantes da Comuna equivalente ao salário de um trabalhador comum, de 6000 Francos, além do estabelecimento de mandatos revogáveis a qualquer instante.
 
Diante de toda esta relevância para o movimento operário, muitos escreveram e analisaram o movimento, a começar por Marx e Engels que em 1871, quando Paris ergue-se contra o governo Francês e sua classe dominante instalados em Versalhes, redigem artigos desde a Associação Internacional dos Trabalhadores, depois reunidos em livro em “Guerra Civil na França”.
 
Inicialmente, Marx encarava com reservas a possibilidade de um movimento revolucionário vitorioso em França, onde as forças políticas predominantes desde a Comuna eram os Blanquistas e os Proudhounistas, estes últimos associados à I Internacional. Blanqui era uma liderança política bastante prestigiada, porém propugnava uma política de assalto e tomada do poder por um grupo de vanguarda, um conjunto de líderes determinados que substituiria, como direção, a vontade das massas. Proudhon, mais próximo das ideias de Marx, defendia o cooperativismo e mesmo métodos pacíficos de transformação social.
 
Esta edição “A Comuna de Paris” conta com textos de Lênin entre 1905 e 1919.
 
Em “A Comuna de Paris e as tarefas da ditadura democrática” (1905) há uma polêmica partidária. Trata-se de uma discussão sobre a participação dos revolucionários dentro do parlamento burguês. Como será recorrente, o futuro dirigente da revolução russa extrairá lições daquela experiência histórica em França:
 
“Antes de mais nada, ensina-nos que a participação de representantes do proletariado socialista com a pequena burguesia num governo revolucionário é perfeitamente admissível por princípio e absolutamente obrigatório em determinadas condições. Ensina-nos, além disso, que a verdadeira tarefa que a Comuna teve de cumprir foi, acima de tudo, o exercício da ditadura democrática e não socialista, ou seja, a aplicação de nosso “programa mínimo”. Por último, esta informação recorda-nos que, ao tirarmos ensinamentos da Comuna de Paris, não devemos repetir os seus erros (não tomaram o Banco de França, não empreenderam a ofensiva contra Versalhes, não elaboraram um programa claro) mas os seus passes práticos que tiveram êxito e que apontaram  caminho certo”.
 
Destacamos que alguns dos erros táticos do movimento seriam apontados já antes por Marx e Engels como fontes de ensinamento. Os communards poderiam ter tomado e nacionalizado o Banco de França criando uma forte pressão política para a negociação e contra o massacre perpetrado dois meses depois do início do movimento. A hesitação no plano militar fez com que Thiers, que acabara de perder a guerra com a Prussia, negociasse a soltura de seus soldados aprisionados na guerra com o fim específico de tomar Paris.
 
Os demais textos foram escritos ora por ocasião do aniversário da Comuna ou especificamente em discussões sobre a teoria de transição, que surgem em capítulos do “Estado e a Revolução” (1917), um livro decisivo em que Lênin esboça uma Teoria da extinção do estado concomitante à tomada de poder pelos trabalhadores:
 
“Ora, e, uma vez que é a própria maioria do povo que reprime os seus opressores, já não é necessária uma “força especial” para a repressão. É nesse sentido que o estado começa a extinguir-se. Em vez de instituições especiais de uma minoria privilegiada (funcionalismo civil privilegiado, comando do exército permanente) a própria maioria pode realizar diretamente as funções do poder político, e quanto mais a própria realização das funções do poder do Estado torna-se de todo o povo, menos necessário se torna esse poder”. 
 
Estima-se em 30 mil mortos ao fim de confronto e centena de milhares entre presos e deportados. Paris foi afogada em sangue numa matança jamais vista, o que revelava como o ódio de classes em muito superava o maior dos chauvinismos. Da Comuna de Paris a esquerda em todo mundo retirou o símbolo da bandeira vermelha que remete ao igualitarismo, à luta por uma sociedade não mais desigual ou não mais cingida em classes sociais, à sociedade comunista.  Pelo seu pioneirismo e seus mártires, merece ser saudada e, mais importante, estudada, pelas diversas lições que nos deixou.

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