Ao longo dos séculos, muita gente já viveu o próprio final do seu tempo histórico depois de passar a vida clamando que o fim do mundo, o apocalipse, era pra já, estava logo ali na esquina do tempo. Na cabeça desses, por credulidade ingênua ou pretensa convicção "baseada nas Escrituras", o Apocalipse de João de Patmos é uma realidade tão próxima quanto a conta da luz e da água, que devemos pagar com urgência, antes que o "Zé do Corte" venha nos visitar.
Há muito, nesse fenômeno, de instrumentalização do puro sentimento religioso, manipulado por "profetas" do quanto pior, melhor.
O que me admira é que muitos desses pregadores (alguns fanatizados por uma interpretação literal do livro bíblico), transformam-se em arautos do horror, mas parecem se esquecer de viver sua religião e religiosidade para anunciarem que devemos viver um dia de cada vez, fazendo o melhor possível para o próximo e a nós próprios.
Já nos bastam os apocalipses nossos de cada dia, com seus horrores de fome, violência, guerras, traições, ganância e inveja.
Para quê viver desse escapismo pregoeiro de uma "acerto de contas" de um Deus supostamente irado e vingativo, pronto a queimar a criação cheia de pecados? A quem interessa disseminar essa ideia de Deus e de um tempo de horrores onde, pelo jeito, no julgamento, sobrarão pouquíssimos para contar a história, no eterno ou na Terra?
Na verdade, Cristo, em qualquer tempo que vier, estará antes preocupado não com quem vive a olhar os céus em busca de sinais de fogo, mas com quem vive, desde o coração, em busca de fazer o bem ao próximo.