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Marcos Lopes

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Livros e mais

Decrescimento, crise, capitalismo

Marcos Lopes - Publicado: Domingo, 01 Agosto 2010 02:00

Marcos Lopes

Acabou de publicar em Estaleiro Editora o seu último livro Carlos Taibo. Decrescimento, crise, capitalismo é um texto sobre a insustentabilidade do modelo produtivo capitalista, sobre a proposta do decrescimento e sobre as saídas políticas à crise ecológica.


A mudança climática e a chegada do pico de Hubbert (o nível máximo de extraçom de petróleo, a partir do qual a produçom começará a descer, e que se prevê acadar antes de 2030) som as duas evidências da insustentabilidade dum modelo que está a destruir o planeta. A inviabilidade de manter os actuais níveis de consumo, mesmo aprofundando no desenvolvimento das energias nuclear e renováveis, conduz à necessidade inevitável de decrescer. Som estas conclusons as que fam necessário o desenvolvimento dumha teoria do decrescimento, que começa a tomar corpo a começos da presente década. Taibo assume neste ensaio as reivindicaçons decrescimentalistas, embora o seu pensamento tenha importantes matizes que cumpre salientar.

"O ser humano transforma os recursos em resíduos de maneira mais rápida daquela que o planeta mostra, no que diz respeito a reconverter novamente esses resíduos em recursos". Eis umha definiçom de insustentabilidade. Mas convém falar do "ser humano" ou de "alguns seres humanos"? Taibo introduz, mediante o conceito de pegada ecológica, umha descriçom gráfica da natureza do capitalismo que aclara esta questom: se o resto do planeta adoptasse o consumo de, por exemplo, madeira que tenhem atualmente os Estados Unidos, fariam falta duas vezes mais hectares que as disponíveis no planeta. O decrescimento deve, pois aplicar-se nos países do "Norte desenvolvido".

O combate do imaginário crescimentalista do capitalismo começa por pôr em questom o seu sistema de medida. Atualmente, a riqueza dum país mede-se polo PIB, um índice que ignora o capital natural, a distribuiçom da renda ou a qualidade democrática do sistema político. Simplesmente semelha que um país é mais rico quantas mais cousas tem nas sua lojas. Mas seria Brasil, por exemplo, mais rico se deforestasse por completo a Amazónia, ainda que o seu PIB se incrementasse espetacularmente? Ou, num exemplo do próprio Taibo: as despesas em saúde de Cuba eram, em 2006, de 236 dólares por habitante, mais de 20 vezes menores que as dos Estados Unidos (5.274 dólares/habitante). Nesse ano Cuba ocupava o posto 16 na lista de países cujo sistema de saúde oferecia melhor atençom à sua populaçom, enquanto os USA ocupavam o 72. Com umha aportaçom ao PIB 20 vezes maior, a indústria médica estadounidense lograva piores resultados que a ilha. O desenvolvimento de sistemas de medida que recolham aspectos como os citados anteriormente antolha-se básico. Se jogamos com as suas regras, mui provavelmente perderemos.

Resulta interessante também a reflexom sobre a saída à crise, na que o autor identifica quatro dimensons: financeira, ecológica (derivada da mudança climática), energética e finalmente social, que se revela brutal nos países do Sul. Neste ponto o autor reflexiona sobre as políticas internacionais das grandes potências, em concreto dos USA. Evidentemente, a luita por acadar o controlo das matérias primas energéticas leva anos marcando ditas políticas, de clara natureza imperialista. Bota-se de menos umha análise mais pormenorizada sobre a incidência desta crise energética nas sociedades ocidentais, onde a carestia do petróleo nom permitirá o deslocamento da exploraçom a longas distáncias, polo que nom parece arriscado prever um aumento nas desigualdades sociais. O controlo desta situaçom polo sistema fai supor um incremento na repressom e recorte das liberdades sociais. Remata o capítulo com umha frase que acho mui reveladora: "Um velho lema, 'socialismo ou barbárie', está hoje de maior atualidade que em nengum outro momento da história".

Precisamente, destaca especialmente no ensaio do Taibo a ligaçom que este estabelece entre movimento operário e ecologia, no capítulo 14 do livro. Baste umha cita: "Somos muitos os que, depois de abraçarmos esse discurso [o do decrescimento], seguimos a pensar que aquilo no que trabalhamos desde há muito tempo continua a ser a prioridade maior: fundir o mais lúcido que proporciona o movimento operário de sempre com a irrupçom de novas questons, e entre elas as vinculadas com a certificaçom de que os limites meio-ambientais e de recursos do planeta configuram um problema principal".

De fato, acho que existe um importante risco em converter esta proposta, a do decrescimento, numha moda ecologista de fácil assunçom por parte do sistema. Nom resulta difícil imaginar dentro duns anos o discurso do decrescimento incorporado aos partidos do sistema, para justificar qualquer outra política. Nom incorporam agora o discurso da reduçom e da reciclagem, embora as políticas energéticas sejam cada vez mais insustentáveis?

Di Cornelius Castoriadis que "a ecologia é subversiva porque pom em questom o imaginário capitalista que domina o planeta. Rejeita o motivo central que assinala que o nosso destino consiste em acrescentar sem parar a produçom e o consumo". Eu mesmo diria mais, que as práticas que nom enfrentem de maneira radical o capitalismo nom podem chamar-se ecologistas. É tarefa da esquerda recuperar a radicalidade destas propostas, junguindo-as a umha visom internacionalista e a luitas coletivas, longe das propostas individualistas destinadas a calmar a consciência das classes médias.

O livro remata com umha crítica à irracionalidade das políticas dos Governos espanhol e galego, incidindo especialmente no AVE. Entanto mediante o Plan E o governo espanhol fináncia a substituiçom de lámpadas de resistência por novas de baixo consumo, defende a implantaçom dum meio de transporte como o AVE, que consome a 300 km/h nove vezes mais que a 100 km/h. Na Galiza, ningum do partidos sistémicos se atreve a pô-lo em questom, ainda quando a maioria de paradas sejam eliminadas para substituí-las por um transporte de elite, para a minoria da populaçom, e que segue a nos desvertebrar como país.

A proposta do decrescimento dá para muito mais que as 140 páginas do livro, e ficamos com vontade de ler mais. Sobre todo dumha concretizaçom que nos permita passar de propostas mais gerais a outras aplicadas à realidade nacional na que vivemos. Se calhar tema para outro livro. Por agora, um ensaio para refletir sobre a irracionalidade do modelo produtivo capitalista e do modo de vida que nos quer impor.


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