Desgraçadamente, a convocatória desta manifestação vem precedida das pequenas desavenças tradicionais entre formações sempre magnificadas e desacougantes pelo limitado do contexto no que se produzem.
Não duvido que em todas as organizações existem elementos que racionalizam a divisão, que afastam a unidade cara à um horizonte indeterminado ou que singelamente têm uma nula vontade de converger nalguma iniciativa de utilidade para o país. Porém, quero pensar que a preocupação nacional e social que caracteriza estas organizações exige-lhes uma responsabilidade significativamente maior do que convocar uma manifestação unitária anual.
Uma responsabilidade que adquire caráter de urgência porque assistimos a um deterioro evidente da vida política e social da Galiza. A crise virou a escusa perfeita para a burguesia manter ou acrescentar o montante do excedente bruto de exploração a custa da proporção do PIB destinada a salários. Naturalmente, com a complacência do Estado espanhol: a presente reforma laboral será, com certeza, uma boa ajuda.
Os setores mais novos da sociedade, formados ao abeiro da constituição de novos cámpus e faculdades e escapando dum setor primário em perigo de extinção e dum setor industrial sacudido pelas reconversões, seguem sem encontrar um sítio no país. Os diferentes governos autonômicos acharam muito interessante multiplicar a oferta formativa sem que esta derivasse numa modernização do sistema produtivo que permitisse absorver o crescente volumem de licenciados e licenciadas. No seu lugar, dirigiram a economia galega cara aos serviços não ligados à produção; quer dizer, cara a setores como o da distribuição ou as grandes superfícies, setores caracterizados pela escassa qualificação, pela temporalidade e pela ocupação precária. É assim que as novas gerações de galegos e galegos que na atualidade revolucionam a vida cultural do país, a literatura, a música ou a ciência, abandonam a Galiza em massa pela divergência entre as expectativas geradas na sua formação e as oportunidades existentes na nossa terra.
Neste senso, a autonomia galega leva 30 anos demonstrando a sua incapacidade para dar resposta aos principais problemas da nação; mesmo aqueles que justificavam a sua criação. É assim que a nossa língua vive momentos críticos. Durante este tempo subsistiu apesar da nula defesa dos sucessivos governos autonômicos. Agora deve subsistir apesar da aberta hostilidade do governo galego.
A nossa sociedade não necessita as nossas guerras civis. A nossa sociedade necessita gente que resolva os seus problemas. E se é certo que não estamos em condições de intervir nos grandes cenários da política galega, não é menos certo que nada impede que comecemos a trabalhar desde a base com vistas a construir um projeto crível a meio prazo. Do contrário, a gente seguirá a conformar-se com opções que demonstraram não ser uma alternativa.
Cumpre que as organizações da esquerda independentista criem uma estrutura unitária estável para o trabalho local. Cumpre implicar-nos duma vez por todas nos comícios municipais, sem esperar resultados imediatos, mas sem cessar no trabalho constante de participar nos âmbitos que afetam primariamente aos nossos e às nossas compatriotas.
Desta maneira, acho necessário um grande acordo nacional entre as forças que podem protagonizá-lo: EI, Nós-UP, MpB e a FPG. As diferenças podem ser importantes, mas esse mesmo senso da responsabilidade que lhes leva a convocar esta manifestação unitária, far-lhes-á estar à altura circunstâncias. Nisso confio.