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Afonso Mendes Souto

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Umha vista de olhos

Língua e luita de classes na Galiza do século XXI

Afonso Mendes Souto - Publicado: Quarta, 21 Julho 2010 02:00

Afonso Mendes Souto

Qual é a relaçom que existe entre a língua galega e a luita de classes? Dito de outra forma, qual é a relaçom existente entre o idioma e a classe que domina a Naçom do ponto de vista político, económico e social?


Cumpre abordarmos antes de mais umhas ideias que rompem com a assunçom do idioma como um elemento essencialmente subjectivo e sentimental, colocando-o ao nível de elemento fundamental e objectivo que fai com que a burguesia oriente a língua galega face os seus interesses, controlando e limitando o seu aparelho legal e difusom social com a finalidade de perpetuar o seu quadro simbólico-material de acumulaçom e expansom de capital.

Nem é preciso dizer que o galego é a língua própria da Galiza, única para as relaçons de todo o tipo de todas as classes sociais desde a gestaçom do idioma até a integraçom na Coroa de Castela e posteriores marcos políticos de dominaçom da Galiza até chegarmos ao dias de hoje. Sabemos que é desde a "doma e castraçom da Galiza" que o idioma vem invertendo os seus usos e possibilidades sociais. Porém, mesmo hoje em dia a língua galega está directamente relacionada com a classe trabalhadora, mas nom só, também é usada por burguesia rural -nom apenas com usos rituais ou enganosos- e por umha relativamente recente nova burguesia mesocrática que em ocasions pode defender de algum jeito o idioma. Também é evidente que o espanhol tem já muita presença entre a classe trabalhadora, sobretodo a mais jovem, a das cidades galegas e na imensa maioria das e dos imigrantes que venhem à Galiza para vender a sua força de trabalho.

Foi graças ao sindicalismo nacional e de classe que o resto do sindicalismo galego começou a fazer as suas reivindicaçons na nossa língua, hoje, isto é umha realidade consolidada a excepçom de algum caso de sindicalismo mais minoritário. O mesmo aconteceu no ensino graças a ERGA.

Dado que a contradiçom principal que existe na Galiza é a de classe, daí derivam o resto, quiçá seja possível que se poda construir umha Galiza independente como aconteceu na Irlanda, ainda dos 26 condados, e como aspiram a criar outras naçons sem estado que tenhem as suas línguas próprias extintas ou em vias de extinçom como é o caso da Escócia. Mas a nova fase do conflito língüístico na Galiza nom é por acaso.

Para compreender as atitudes especialmente beligerantes contra o galego dos últimos anos quiçá tenhamos que escapar do pensamento antagónico ao nosso, quer dizer, nom é que sintam o espanhol apenas como algo próprio e em perigo na Galiza, quiçá tenhamos de ver esta questom em chave de defesa da naçom espanhola pola sua parte e observar do mesmo modo os conflitos que ameaçam a sua integridade, especialmente no País Basco e nos Países Cataláns, para além, é claro, das conquistas históricas da esquerda nacionalista galega. Nom se deve considerar em nengum caso o bipartido como um governo que se movesse nestas chaves perigosas para a identidade espanhola, já que nestas duas expressons políticas encontramos, ainda que de forma desigual, espanholismo e direitismo.

Antes de mais, gostava de desmentir um tópico muito recorrente entre muitas e muitos das/dos que defendem o galego. Trata-se da afirmaçom "o espanhol é umha língua imperialista". Nom há línguas imperialistas nem línguas proletárias, só as utilizaçons que se dam às línguas é que as convertem em ferramentas para construir uns modelos de sociedade ou outros. Para pôr três exemplos que desmintam o anterior, temos a classe trabalhadora castelá, andaluza ou a de Porto Rico, que com as suas variantes do espanhol tenhem esta língua como própria para a sua classe trabalhadora, embora também no Estado seja o espanhol o idioma que se utilize como ferramenta contra as demais. Portanto, nom é certo que existam línguas operárias e burguesas ou imperialistas. Esta utilizaçom do espanhol, e a escolha de certos traços dialectais, no Estado, atende apenas à localizaçom da capitalidade em Madrid. Se por razons históricas a capitalidade tivesse sido por exemplo Compostela e a linhagem galega de reis fosse a que agisse como a Coroa de Castela, diríamos hoje que o galego é umha língua imperialista? O caso é que nom deveríamos.

Outro mito de que ainda nos custa afastar-nos é o que exprime a ideia do idioma galego como elemento rural. Umha das conseqüências do modo de produçom capitalista é a aglutinaçom da populaçom arredor da indústria e logo da cidade, cada vez mais, e se bem é certo que hoje é o rural onde se fala mais galego também o é que o rural está sendo despovoado e isto nom deve ser álibi para deixar de reivindicar o idioma, mas polo contrário, é dever conseguirmos que estas migraçons internas nom perdam a língua e também o é luitar por direitos lingüísticos que fagam com que as pessoas espanhol-falantes vejam no galego um sinal de identidade útil com o que abrirmos novas vias de comunicaçom no mundo.

Acho interessante continuar a desenvolver a ligaçom entre a língua galega e a luita de classes através de dous pontos concretos:

1 - A quem pertence a língua galega? E que interesses tem cada classe na língua?

Na prática, o idioma pertence às galegas e galegos que nascêrom com ele de forma espontánea e assim quigérom e querem que continue a ser e àquelas pessoas que polo contrário fôrom educadas em espanhol e decidírom a escolha do galego para praticar justiça lingüística e desenvolver-se na Galiza no idioma de seu.

No entanto, como vimos antes, o galego encetou no seu dia o código de quem exige a tranformaçom da Galiza em chave nacional, de esquerda e antipatriarcal, nom só, mas sim fundamentalmente.

Também vimos que o galego nom é idioma único entre trabalhadoras e trabalhadores nem o espanhol entre a burguesia. Já sem entrarmos em questons de diglossia ou da pressom que em cada contexto pode exercer um idioma ou outro na hora de que classe trabalhadora ou burguesia falem galego ou espanhol.

Em todo o caso, o evidente é que o galego é ferramenta ideológica para a classe trabalhadora e o espanhol para a burguesia que na Galiza pretende continuar a desenvolver o projecto nacionalista espanhol.

Todo nacionalismo tem uns símbolos de construçom nacional desde a sua apariçom com o Romantismo: bandeira, território e língua som fundamentais. O nacionalismo espanhol -Zapatero, Rajói ou Feijó som nacionalistas espanhóis ou ao serviço do nacionalismo espanhol- utilizam, portanto, o espanhol como algo simbólico e material que sirva de elo entre as pessoas que habitam no Estado.

Embora o galego tenha certa legislaçom que a reconhece, o certo é que esta nom se cumpre, o que fai com que cada vez haja menos falantes. Ainda que desde finais da década de 70 e princípios da década de 80 pouco se tenha avançado em direitos para o galego, só graças aos últimos ataques ao idioma vemos umha resposta sem precedentes quase à altura dos ataques. O movimento popular está dirigido por pequena-burguesia, por conseguinte, a resposta também está limitada. Estamos perante umha nova fase de conflito lingüístico na Galiza, iniciada durante o bipartido por sujeitos direitistas como o PP, Galicia Bilingüe ou La Voz de Galicia. O governo do bipartido nem soubo nem pudo reagir. Nom pudo porque umha luita plena e coerente na defesa do galego deve ser umha luita anti-sistémica.

A burguesia tem limitado o galego e as suas possibilidades para que prevaleça o status quo e podemos chamar burguesia àquela minoria que acumula a maior parte do capital galego, à pequena-burguesia tecnocrata da RAG ou à mesocrática funcionarial que na hora da verdade tanto fai o que se faga com o idioma enquanto puder escrever e falar galego no seu posto de trabalho ou com outros fins sociais.

2 - A alternativa reintegracioinista

O reintegracionismo é umha fantasia pequeno-burguesa? Nom, ao invés, é umha ferramenta de duplo fio e elemento simbólico-material objectivo que pode fazer perigar a relaçons económico-sociais na Galiza e o território espanhol como marco político-jurídico da naçom espanhola e o que esta representa.

Falávamos de que talvez seja possível umha Galiza independente sem galego, acrescentamos agora que quiçá também o seja num galego com "enhes". Porém, no estádio actual da luita de classes parece difícil que se dê umha situaçom revolucionária que poda permitir a ruptura com Espanha. De todos os jeitos, isto som hipóteses e sobre estas o tranquilizador e esperançoso é que neste país quem fala e age em chave revolucionária tem prática reintegracionista, embora todo aquilo que é reintegracionismo na Galiza nom fale nem aja em chave revolucionária, para além do que a proposta tem em si.

Como digo, o reintegracionismo nada tem de ideia ou fantasia pequeno-burguesa. Para já, cumpre dizer que é umha proposta científica, já que propom a recuperaçom da grafia histórica e do estudo do português para contrastar com os espanholismos que temos na língua assim como recurso ou viveiro de neologismos e tecnicismos que nos venhem dados de série polo espanhol.

Além do mais, o reintegracionismo consiste em procurar umha comunicaçom que podamos ter com os países de fala portugesa por todo o mundo, seria a procura de um contributo cultural que nos é negado politicamente para conhecermos expressons culturais de outros países e podermo-nos realizar no nosso idioma noutras latitudes. Isto nem nos foi permitido nem se nos vai permitir. Alguém acha viável que um/ha cantor/a galego/a triunfe em galego por todo o Estado? Nem a realidade política e cultural, nem a invisibilidade de umha alternativa a isto fam com que o pensemos.

O reintegracionismo também superaria o caos lingüístico que existe na Galiza, palavras, expressons, aprendizagem de umha normativa científica com maior facilidade seria umha realidade que nom se pode fazer hoje com os dicionários e gramáticas da pequena-burguesia galega. Mesmo estas contradiçons lingüísticas fam com que militáncia independentista questione palavras ou expressons que o reintegracionismo assume e que basicamente para muitas destas pessoas o reintegracionismo seja utilizado ou adoptado, sem querer, apenas como algo simbólico que rompe com o elemento espanhol. Mas o reintegracionismo é muito mais do que isto e a arma que implica tem muito mais potencial.

Que aqui leiamos livros ou revistas em português ou que nos movamos em qualquer outra chave cultural que se nos ocorrer no mundo da lusofonia pom em risco o mercado da burguesia espanhola, o que se oferece para consumir perderia negócio na Galiza, iria abrir-se um espaço cultural novo. A nossa ferramenta seria o idioma galego-português, por fim língua extensa e útil, nom espanholizada e iria mover-se no novo espaço cultural como algo acessível, por cómodo, para o novo público lusófono, a fronteira cultural estaria fragmentada, o referente cultural seria um outro e isto nom interessa à burguesia. Com certeza que a burguesia poderia participar do negócio, mas nom é só a questom cultural a que está em debate. A contradiçom principal nom é a nacional, nem a lingüística, nem nengumha outra que nom seja a de classe, que na Galiza adopta a forma de libertaçom nacional. O pequeno-burguês é o contrário, assumir a luita nacional deixando para depois a questom de classe, ou priorizar o cultural ou o Status Quo sobre o que aqui se expom. A língua e a cultura estám mutiladas, espanholizadas, limitadas. O motivo disto é que o que está em jogo é o quadro simbólico-material de acumulaçom e expansom de capital que se chama Espanha, a superaçom, passa polo sujeito revolucionário e a orientaçom política e cultural deste movimento.

Fonte: Primeira Linha (Abrente).


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