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Óscar Peres Vidal

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Em coluna

A luita é aqui e agora

Óscar Peres Vidal - Publicado: Terça, 13 Mai 2014 22:03

A encenaçom obscena do diálogo social que estamos a viver nas últimas semanas e que se iniciou com a reuniom mantida no passado dia 18 de março em Madrid entre Mariano Rajói, a ministra de emprego e segurança social, Fátima Bañez, os representantes do patronato CEOE e CEPYME e os sindicatos CCOO e UGT, supom a certificaçom de umha nova rendiçom por parte do sindicalimo espanholista e pactista com os interesses do capital, representados tanto polo governo como polo patronato.


O sindicalismo espanhol, e em especial os seus dirigentes, padecem um défice de credibilidade e referencialidade dentro da classe trabalhadora fruto de diferentes circunstáncias: os escândalos de corrupçom, a linha pactista e entreguista ou a sua imagem elitista, frente ao sofrimento de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, entre outros motivos. Isto, unido à necessidade do governo espanhol do Partido Popular de suavizar a sua imagem diante da opiniom pública, depois de dous anos de cortes sociais e laborais, pola proximidade das eleiçons europeias de 25 de maio, som o caldo de cultivo que tem como conseqûência umha nova venda dos nossos direitos.

Se a situaçom que sofre a classe trabalhadora galega é dramática e de urgência polos contínuos ataques e cortes que padecemos em todos os planos, e que se agudizárom desde a entrada da crise há mais de seis anos, esta converte-se em terrível quando vemos como sindicatos pactistas e corruptos acodem novamente a umha mesa de negociaçom para hipotecar o nosso futuro perante umha suposta urgência artificial que nom obedece a nengumha necessidade real da classe trabalhadora, e sim todo o contrário, negociando aspetos tam ”cruciais” como:

-A formaçom. Como sabemos, umha das maiores fontes de financiamento tanto por parte dos sindicatos como polas organizaçons do patronato, daí que pretendam fazer umha lavagem de cara ante os últimos escándalos de corrupçom que salpicavam uns e outros, com o roubo e utilizaçom fraudulenta de milhons de dinheiro público.

-A reforma fiscal, que podemos augurar que manterá umha tendência continuada nos últimos anos, consistente  em favorecer as rendas do Capital em detrimento das rendas do Trabalho.  Assim desde o ano 2000 ao 2012 as rendas do Trabalho diminuírom na mesma percentagem em que aumentárom as do Capital, que passárom de cerca de 45% até mais de 48%. Alem disto, há que lembrar que as rendas do Capital tributam quase 10% em média, enquanto que as rendas do Trabalho tributam por volta volta de 30%.

-As políticas salariais e de emprego no setor público e a moderaçom salarial. Todo parece indicar que querem continuar com os cortes tanto no emprego público como nos salários e ai ficam as diretrizes do FMI ou da Comissom Europeia, que através do comissário europeu de assuntos económicos e monetários, Olli Rehn, instou o governo espanhol a conter os custos laborais a través dumha moderaçom salarial. Lembremos que o último pacto de moderaçom salarial subscrito entre CCOO, UGT o governo e o patronato remonta ao ano 2012 e conclui em finais deste ano.

O desemprego juvenil e as pessoas desempregadas de longa duraçom, para o que incidirám nas velhas fórmulas conhecidas, subsídios para as empresas, contratos precários, menores salários, jornadas intermináveis… Em definitivo, mais perda de direitos para as trabalhadoras e trabalhadores.

Sem dúvida, é difícil de explicar, sem sentir vergonha e repugnáncia, que precisamente depois de dous anos mui duros de cortes tanto em direitos como em liberdades, que coincidem precisamente com a entrada do PP no governo do Estado espanhol em novembro de 2011, a soluçom passa polo “diálogo social”. Há que ter claro que a suposta saída á crise nom se vai dar em nengumha mesa dum escritório, e sim através da luita nas ruas, onde devemos encetar o caminho.

Muito mais terrível que todo isto, ao que desgraçadamente já nos tenhem afeitos, é quando vemos que o sindicalismo nacional e de classe carece de iniciativa à hora de liderar a mobilizaçom e a luita. Se bem existe umha clara diferenciaçom em relaçom ao sindicalismo espanhol e que se manifesta munha trajetória combativa, mobilizadora e contrária ao pactismo. Desde há tempo que o sindicalismo nacional e de classe perdeu a iniciativa mobilizadora que o caraterizou desde o seu nascimento. Semelha em parte que vive dessa imagem combativa até a década dos noventa e que pouco a pouco se foi diluindo, mostrando sintomas realmente preocupantes.

Possíveis causas da carência de iniciativa do sindicalismo nacional

Centrando-nos no caso da CIG, detetamos que muitos dos aspetos indicados seriam extrapoláveis a outras organizaçons nacionais, podendo ser assinalados os seguintes:

Desligaçom entre mundo obreiro e mundo sindical. Historicamente, os quadros sindicais procediam dumha tradiçom de combate e luita nas fábricas e nas empresas, quer dizer, obreiras e obreiros que destacavam polo defesa dos interesses dos seus companheiros e companheiras, e que num momento da sua vida confluíam no trabalho coletivo com o objetivo de luitarem contra as injustiças, a perda de direitos e a melhoria das condiçons de vida e trabalho. Na atualidade, e muito mais marcado depois da II Restauraçom Bourbónica e dos Pactos da Moncloa, favoreceu-se a institucionalizaçom do trabalho sindical. Assim mudou totalmente esta ligaçom, já que muitas e muitos dirigentes das centrais sindicais, maioritariamente eleitos fora do mundo do Trabalho para desenvolverem tarefas sindicais, se convertêrom em funcionários e funcionárias alheias às luitas obreiras que defendem. Se bem o simples facto de ser trabalhadora ou trabalhador nom implica ter consciência de classe, é mais necessário que nunca recuperar essa ligaçom entre o mundo obreiro e o mundo sindical. É fundamental que o movimento obreiro e sindical conte com quadros qualificados com contrastada reputaçom na luita obreira.

Falta de relevo geracional. Ligado ao anterior, existe sem dúvida um grande problema, já que nom há relevo dos quadros sindicais, se bem a situaçom é menos grave que no caso do sindicalismo espanholista de CCOO e UGT, parece-nos quando menos preocupante que existam tantas dificuldades em atrair umha mocidade a trabalhar nas organizaçons operárias, quando precisamente pola dramática situaçom que padece a juventude devia ser umha prioridade. Neste caso e ainda que se estejam a dar passos no caso da CIG para  potencializar a participaçom da juventude por meio das estruturas da mocidade tanto a nível nacional como comarcal, o modelo excessivamente dirigista e controlador com a juventude fai com que esteja abocado ao fracasso e que seja pouco atrativo para a mocidade.

Institucionalizaçom das centrais sindicais e independência económica. Esta situaçom chega a extremos totalmente escandalosos no caso do sindicalismo espanhol que representam CCOO e UGT, que som estruturas financiadas através do Estado por meio de subsídios diretos ou rendimentos provenientes da formaçom, além doutras formas de “colaboraçom”. Contodo, no caso do sindicalismo nacional e de classe, representado fundamentalmente pola CIG, também temos sintomas preocupantes. Nesta linha é fundamental o autofinanciamento como medida para rachar com o burocratismo ascendente que durante os últimos anos criou estruturas alheias, como as fundaçons, que som contraproducentes para luitar contra o sistema imposto e ficam encistadas nas centrais sindicais como elementos alheios e independentes.

Linha de intervençom diferenciada do sindicalismo espanhol. O sindicalismo nacional tem que traçar o seu próprio caminho fora do espanholismo. É certo que até agora se tem afastado da linha pactista e entreguista dos sindicatos espanhóis, e tem marcado em parte, com diferente êxito, linhas próprias de intervençom, como convocatórias de greves ou manifestaçons de forma unilateral. Porém, devemos afastar-nos de qualquer intervençom ou colaboraçom conjunta ainda existente, por mínima que for, pois é contraditório e confunde a classe trabalhadora fazer caminho com quem precisamente nos vende.

Escassa participaçom da classe trabalhadora na tomada de decisons. Os aspetos indicados anteriormente influem de forma significativa na falta evidente de participaçom nas centrais sindicais. Assim, e sem esquecer a responsabilidade individual de cada trabalhador e trabalhadora, o modelo sindical actual é tendente a umha paticipaçom mui escassa e nom se potencializa a incorporaçom das e dos militantes no trabalho sindical diário. O excessivo “profissionalismo”, fai com que sejam precisamente as pessoas liberadas as que tomem, na maioria dos casos, as decisons. Além disto, as legítimas “correntes” existentes dentro dos sindicatos, atuam nom em poucas ocasions como instrumentos de reproduçom das quotas de poder atingidas, esquecendo na maioria dos casos os objetivos político-sindicais, priorizando o controlo e o setarismo fronte a participaçom ou a defesa dos interesses das trabalhadoras e trabalhadores.

Falta de um roteiro. Se bem o sindicalismo nacional tem umha postura diferenciada do sindicalismo espanhol, tanto na combatividade como na resposta perante as agressons à classe trabalhadora, nom deixa de ser evidente a ausência de um roteiro claro, oferecendo simplesmente respostas compulsivas e descoordenadas frente aos diferentes ataques. Assim só umha resposta geral e organizada pode ser a soluçom para passar da defesa ao ataque, necessitamos unir as diferentes luitas que se estám a dar na Galiza neste momento, laborais, sociais, ecológicas… fomentando um plano de intervençom rupturista com o actual sistema capitalista e ligando-o com a construçom nacional.

Errática direçom política. Apesar de que existe umha pluralidade ideológica entre a filiaçom, parece também evidente que a maioria da direçom da central sindical tem estado nos últimos anos conformada por quadros ligados ao BNG, de tal maneira que a linha sindical se viu afetada por acontecimentos no plano partidário. As cisons sofridas ao longo dos anos e em especial na última década que desencadeárom luitas internas unido a umha linha errática mantida nos últimos anos com destaque da etapa do bipartido afetou sem dúvida a linha sindical, mais centrada em dar umha resposta em funçom dos interesses partidistas do BNG que em funçom da necessidade real da classe trabalhadora ante umha determinada agressom.

Se unirmos todo isto e ainda por cima lhe acrescentarmos o ataque furibundo que se está a fazer por parte dos meios de comunicaçom burgueses através dumha campanha de difamaçom que pretende desprestigiar em geral o movimento obreiro e sindical, obteremos resposta a esta falta de mobilizaçom e de iniciativa.

O caminho a seguir

Assim sendo, sabemos que o caminho a seguir nom é fácil, está cheio de entraves e precisa de muitos esforços, além de corrigir as dinámicas actuais. Devemos, mesmo sabendo das suas limitaçons em termos revolucionários, fortalecer as organizaçons sindicais nacionais, participando ativamente e defendendo um modelo de sindicato sociopolítico combativo e participativo que ligue a luita nacional com a de classe.

É necessário que o sindicalismo recupere as essências do mundo do Trabalho e o conceito da militáncia como valor mais ativo do movimento obreiro na Galiza, mais que una também as luitas de muitos coletivos e segmentos atacados e esquecidos como a mocidade, a imigraçom, as mulheres ou as pessoas desempregadas entre outras.

Frente às luitas parciais e setorais, devemos afondar em estabelecer pontes entres elas e radicalizá-las. A defesa da sanidade, o ensino ou os serviços públicos, tem que estar ligada com a defesa dos setores naval, pesqueiro e agropecuário. A luita ecologista e ambientalista em defesa das rias, em contra de ENCE, em contra das minicentrais ou da mineraçom selvagem, também devem estar ligadas com a luita de milhares de pessoas enganadas polas preferentes ou com as pessoas vítimas dos despejos. As luitas obreiras numha empresa na Corunha deve estar ligada com a defesa dos postos de trabalho nunha empresa em Ourense ou no Porrinho. Os cortes de liberdades, das pensons, das prestaçons por desemprego devem ter umha resposta conjunta com outras luitas, tal como as reclamaçons contra as subidas tarifárias da água ou da energia.

Sem dúvida, um dos maiores erros que estamos a cometer como classe e também como povo e dar umha resposta parcial aos ataques sofridos, sem unir as diferentes luitas, que tenhem umha mesma explicaçom, quer dizer, um sistema injusto, predador e assassino que se chama capitalismo e que está atrás de cada um destes ataques. E junto a isto torna fundamental e inadiável um movimento obreiro combativo que comece já a dar umha batalha de forma organizada e planificada com um objetivo claro: derrotar este sistema, que é sinónimo de miséria para a maioria da populaçom, apostando num sistema socialista.

Os ataques históricos que está a sofrer a nossa classe e o nossso povo necessitam umha resposta contundente e firme que motive os milhares de trabalhadoras e trabalhadores, de desempregadas, mulheres, imigrantes e jovens. Que podam ver claramente que existe umha alternativa ao modelo atual, sabendo que a luita é o único caminho que nos fica. Sem dúvida, é fundamental a convocatória dumha greve geral mas, tal como os ataques se estám incrementar, a nossa resposta deve ser também ascendente e diferente ao feito até agora. É urgente a convocatória dumha greve geral de 48 horas que seja o ponto de partida para um combate mais longo, para umha estratégia de luita permanente e encadedada.

Porque contra o capitalismo a luita é aqui e agora. Nom podemos esperar.


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