Nos idos dos anos 70 e 80, um dos motes do debate ideológico da Guerra Fria tratava de costumes e padrões de comportamento. A direita vivia a apontar o dedo contra os regimes comunistas, acusando-os de que o "totalitarismo" comunista decidia e definia o que vestir, como pensar, o que comer etc.
Em suma, homogeneizava os comportamentos e o modo de ser de cada um.
O curioso é que foi justamente a indústria cultural do mundo capitalista (e, nesta, a da moda) que na prática padronizou modos e modas em relação ao vestir-se. Quem teve ou tiver a oportunidade de ir a shoppings noutros países (na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo) vai perceber plenamente a que me refiro: basta abstrair-se do biotipo e das línguas e centrar a atenção nas roupas, sapatos, tênis, ternos, blusas, calças, bermudas etc. Está todo mundo se vestindo igual. Igual, mesmo, desde os estilos comuns às estações, até aos tipos e cortes de roupas para homem e mulher. São verdadeiros exércitos usando fardas civis.
O casual, o chamado fashion, o formal etc, tudo e todos (até mesmo quem pensa contestar o capitalismo e o seu mundo da moda) exibem-se num triste amálgama que em mim sempre causou estranheza, pois, por exemplo, não deixa de ser esquisito ver homens setentões com bermudões até as canelas, ao lado de jovens de 20 anos trajando as mesmas roupas. Embora não ache que aqueles deveriam usar suspensórios para segurar calças de flanela (um estereótipo mundial do traje do homem idoso), nem por isso consigo enxergar naturalidade nesses costumes. Acho mesmo que essas fardas civis são, em si, um estereótipo que os estilistas do mundo ocidental e capitalista naturalizaram como sinônimo de "bom gosto".
No fim das contas, foi o capitalismo quem, além de padronizar pensamentos, padronizou os modos de se vestir.