1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (2 Votos)
Helena Embade

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Novas crónicas feministas

O terrorismo machista também se disfarça

Helena Embade - Publicado: Domingo, 02 Março 2014 17:09

Há várias semanas alguém me perguntava se um caso onde "só" houvo maus tratos era considerado terrorismo machista ou apenas se contabilizavam "as mortas".


Comentou-no com tal normalidade que nom soubem mui bem como reacionar; considerei positivo que se empregasse a palavra terrorismo, pensei que o de "mortas" seria um de tantos traspés linguísticos e limitei-me a dar a minha opiniom ao respeito. Mas o certo é que se hoje ainda lembro essa conversaçom é porque resume muitas cousas.

Às feministas culpabilizase-nos de ser demasiado pouco flexíveis (rigorosas), exigentes na terminologia (precisas) e pouco dialogantes (determinantes). Raro é o dia em que falando sobre qualquer tema nom recebemos algum desses qualificativos, mas se algo temos aprendido com o tempo é a nom deixar-nos condicionar por difamaçons pouco ou nada fundamentadas e a que nada desvie a nossa atençom do verdadeiro problema, pois pesse a quem lhe pesse temos as cousas bem claras.

Preocupa-me muito que ainda haja quem desconheça ou ponha em dúvida a relaçom existente entre os assassinatos machistas e a opressom à que estamos submetidas cada dia as mulheres. Com isto evidencia-se de umha parte a repercussom que tem o discurso oficialista de considerar os assassinatos factos isolados e de outra a importante tarefa que ainda temos por diante as feministas para mostrar a estreita linha que limita umhas agressons de outras e como a violência estrutural incide nas nossas vidas.

Ninguém dixo que esta tarefa fosse fácil, nem que vaiamos transformar imediatamente umha sociedade substentada em "valores" que som de todo menos favoráveis a umha igualdade real entre mulheres e homens, mas sim é certo que no dia a dia temos muitas oportunidades para incidir e fazer entender a quem temos ao redor os nossos motivos para rejeitar o sistema patriarcal e as consequências que tem em nós. É um ponto de partida assumível por qualquer que entenda e tenha um mínimo interesse por reverter a situaçom atual.

Passam os anos e seguem potenciando-se os argumentos que culpabilizam as mulheres da sua falta de precauçom, enquanto nem sequer se questiona que os homens nom recebam nem a mais mínima mensagem de educaçom em igualdade. Como se explica pois que no Entrudo, festa com as suas luzes e sombras, mas que se presupóm transgressora, haja tal brutalidade cara a mulher representada nos disfarces que nos quer vender o capitalismo? Isto rara vez é questionado, e quando se fai é simplesmente para desviar a atençom e converti-la numha problemática nossa, por improdentes, porque estamos "buscando algo" ou porque (palavras textuais escuitadas habitualmente) "vestir de zorronas é umha tática de ligue".

Estamos perante um exemplo claríssimo de violência contra as mulheres absolutamente normalizada, e de como a sociedade nom responde perante algo que está tam enraizado que nom supóm qualquer alarma que se fomentem ainda mais os roles, os espaços de poder masculinos, os estereótipos e a exaltaçom da utilizaçom do corpo das mulheres (e mesmo das crianças!!) como reclamo sexual. Em poucas palavras, que de algumha maneira lhes estamos fastidiando a festa questionando que somos algo mais que um pedaço de carne ao serviço dos aliados do patriarcado.

Nom podemos negar que o sistema patriarco-burguês utiliza umha estratégia muito efetiva, sabendo como dar forma ao seu discurso e introduci-lo de maneira transversal em todos os âmbitos da sociedade. É quem de convencer também a quem se supóm que tem certa consciência cara as desigualdades de género. O caso é que está conseguindo o conformismo e a submissom da sociedade, incluídas por suposto as próprias mulheres, que em muitos casos ainda nom aceitam que o machismo é umha problemática que está presente na sociedade e que nom é algo exclussivamente da esfera privada e que apenas afeta a umhas poucas.

O tempo nom vai pôr as cousas no seu lugar, nem vai ser o que cure todas as feridas. Nom é essa nem de longe a praxe feminista e revolucionária que devemos assumir nem promover. Nom temos nem um só minuto que perder à hora de denunciar todo o que colabora de maneira direta ou indireta com a nossa opressom. É tempo de tirar a venda dos olhos a mulheres e homens cuja implicaçom tem necessáriamente de ir além do evidente, como pode ser partilhar umha notícia nas redes sociais ou fazer ato de presença numha concentraçom contra o terrorismo machista. Sim, som cousas necessárias e que visibilizam a nossa luita no dia a dia, mas é imprescindível que formem parte de um todo, um conjunto organizado onde a coerência e a estratégia confluam para dar forma a algo que se é suficientemente sólido é imparável.

É um exercício de responsabilidade que as mulheres falemos, partilhemos, denunciemos, reclamemos, informemos, escrevamos, saiamos à rua, berremos, escuitemos... mas também, nom o esqueçamos, temos que reinventar-nos, adquirir certa perspetiva e dar um passo avante. Entre todas podemos derrocar o patriarcado, fazendo parte ativa, sem vitimismos, sem medos e com muita determinaçom.

A luita feminista nom pode esperar!

Helena Embade

Vigo, 1 de março de 2014


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.