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Raphael Tsavkko Garcia

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Defenderei a casa de meu pai

ETA inicia entrega de armas para por fim a 55 anos de luta

Raphael Tsavkko Garcia - Publicado: Quinta, 27 Fevereiro 2014 20:09

Em vídeo divulgado pelo jornal basco Gara, dois operativos da organização armada entregam armas, munição e material explosivo


Em uma decisão histórica, a ETA deu mais um passo para por fim à sua atividade armada e no caminho de sua autodissolução após mais de 50 anos na luta pela independência do País Basco (ao menos 40 com o uso de armas).

Em vídeo divulgado pelo jornal basco Gara, dois operativos da organização armada entregam armas, munição e material explosivo a dois membros da Comissão Internacional Verificadora (CIV), Ram Manikkalingam y Ronnie Kasrils.

A CIV foi criada para verificar o cessar-fogo anunciado pela ETA em 2011 e para observar e auxiliar no fim definitivo de sua atividade armada. Compõem ainda o grupo Ronnie Kasrils, Fleur Ravensbergen, Aracelly Santana e Chris Maccabe.

No vídeo online no site Naiz.info é possível observar dois dos verificadores comprovando que o material sob uma mesa eram os mesmos e na mesma quantidade que o inventário oferecido pelos membros do grupo armado em uma sala carregada de simbolismos. Em um lado o símbolo da ETA e ao fundo um quadro de "Guernica", de Pablo Picasso, que retrata o bombardeio sofrido pela cidade basca durante a Guerra Civil Espanhola pelas mãos de Franco e Hitler.

Desde o cessar-fogo anunciado pela ETA em 2011, a organização tem dado passos consistentes no caminho da paz, abrindo mão de seu direito de se defender mesmo quando atacada por forças de segurança espanholas e francesas, buscando o diálogo com atores bascas e internacionais e, neste momento, iniciando seu processo de desarme.

Segunda a CIV, em abril de 2013 a ETA teria entrado em contato com os verificadores para os informar de que estaria disposta a entregar suas armas e, em setembro do mesmo ano, informou que o processo se iniciaria em janeiro de 2014, data do vídeo divulgado em 21 de fevereiro.

A quantidade de material entregue pela organização foi considerada pequena por muitos, "um ato de propaganda" comentou o diretor do jornal El Mundo, Casimiro García-Abadillo, mas uma das análises possíveis é a de que a organização buscará depor suas armas aos poucos, intercalando com diálogos e tentativas de negociação, de forma lenta e consistente buscando passar uma imagem de controle.

Para Ram Manikkalingam, porém, o compromisso da ETA com o processo é visível e irreversível, tendo paralelo com outros processos semelhantes.

Por outro lado, setores "espanholistas" continuam a afirmar que não veremos outras entregas de armas como esta, que não passou de uma cortina de fumaça por parte da ETA, que poderia ainda tacar com as armas remanescentes (por mais que não haja um ataque há anos) ou que o ato não seria suficiente, dado que para certos setores apenas a submissão completa do grupo e o reconhecimento de que toda sua luta não passou de um erro, sobrando ainda críticas aos verificadores, que não teriam a "confiança" da Espanha para atuar.

Para o PNV, o Partido Nacionalista Basco que governa hoje o País Basco, a entrega de uma quantidade pequena de armas é insuficiente, ainda que um passo positivo. Esta é a visão de Paul Rios, coordenador da Lokarri, organização que acompanha e participa do processo de paz. A organização, em comunicado, destacou que se iniciou "um grande momento de oportunidade em que todos e todas devem atuar com responsabilidade para aproveitar esse importante avanço no processo de consolidação da paz e convivência", marcando três pontos principais do informe, sendo eles o desarme unilateral, o desarme total e o desarme verificado.

É preciso recordar que efetivamente o governo espanhol não reconhece a legitimidade da CIV, assim como tem se recusado a participar de qualquer processo de diálogo e paz em que se insira a ETA e não signifique a humilhação dos membros do grupo e o repúdio à sua luta. A recente entrega de armas pouco deve fazer para mover o governo Espanhol na busca de uma solução para o conflito.

Todo este processo é resultado do trabalho da CIV, da Lokarri e de outros coletivos e movimentos bascos, mas acima de tudo, é resultado de um processo irreversível dentro do seio da esquerda nacionalista basca, cujo setor político tem se reunido em torno das coalizões Bildu, EH Bildu e Amaiur (nomes diferentes em diferentes níveis estatais, mas que representam as mesmas agrupações políticas).

O processo é, ainda, capitaneado por Arnaldo Otegi, antigo líder do Batasuna, partido ilegalizado em 2003, que permanece preso ha 5 anos exatamente por sua tentativa de unificar a esquerda Abertzale e de dialogar com a ETA para que esta pudesse se dissolver.

O processo passa pelo reconhecimento do dano causado, pelo reconhecimento das vítimas causadas por todos os lados e pela busca de uma via pacífica para a independência do País Basco. Junto a isso, em declaração recente, o Coletivo de Presos Políticos Bascos (EPPK, na sigla em basco) reconheceu a validade do sistema legal espanhol, um passo necessário para que os presos espalhados pelo Estado Espanhol possam pedir individualmente para que sejam deslocados para perto de casa.

Enfim, diante das negativas insistentes da Espanha de aceitar qualquer canal de diálogo, as forças nacionalistas bascas iniciaram de forma unilateral um processo de diálogo, convidando verificadores internacionais e comissões de especialistas, junto a organizações da sociedade civil, para que os bascos pudessem resolver, entre eles, o conflito que já custou a vida de milhares de bascos submetidos à torturas brutais, prisões políticas e exílio.


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