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Miguel Urbano Rodrigues

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Capucho e o concerto da direita

Miguel Urbano Rodrigues - Publicado: Sábado, 15 Fevereiro 2014 15:58

A insistência de alguns analistas em apresentar António Capucho como um social-democrata progressista que defendeu com Sá Carneiro «a matriz social-democrata do PSD» é ridícula.


O PSD nasceu como partido de direita e não obstante ter preparado o assalto ao poder com um programa adaptado com hipocrisia ao momento revolucionário cedo arrancou a máscara.

A expulsão de António Capucho pelo PSD desencadeou na direita um estrondoso concerto.

Uma minoria dos comentadores de serviço elogia a decisão por considerar que violou os estatutos do partido ao candidatar-se à Assembleia Municipal de Sintra por uma lista independente. A grande maioria critica a expulsão, elogia o ex-secretário-geral do PSD, e aproveita este pequeno incidente da política de copa e cozinha portuguesa para, extrapolando o tema, atacar os partidos políticos e, a desproposito, tocar a música do anticomunismo primário.

A insistência de alguns analistas em apresentar António Capucho como um social-democrata progressista que defendeu com Sá Carneiro «a matriz social-democrata do PSD» é ridícula.

O PSD nasceu como partido de direita e não obstante ter preparado o assalto ao poder com um programa adaptado com hipocrisia ao momento revolucionário cedo arrancou a máscara. Sá Carneiro foi com Mário Soares um dos principais arquitectos da contra-revolução portuguesa. Conspirou com Spínola e durante o seu breve governo intensificou a ofensiva contra as conquistas de Abril, empenhando -se em destruir a Reforma Agrária e deteriorar as relações com os países socialistas e as repúblicas africanas de expressão portuguesa.

Como seu colaborador íntimo e ministro em diferentes governos do PSD, Antonio Capucho apoiou sempre as medidas reacionárias do seu partido. De social-democrata somente exibiu uma máscara esburacada.

Neste empolamento do significado da expulsão do ex- dirigente do PSD e deturpação da sua intervenção na política, destacados analistas da direita acharam oportuno atacar os partidos responsabilizando-os pela gravíssima crise que atinge o país. Em algumas crónicas transparece o saudosismo da autoridade do Estado Novo, expressão muito na moda para designar e branquear o fascismo. Nessa seara de disparates reacionários, a expulsão de Capucho serve também para invocar o «stalinismo» e condenar «o centralismo democrático».

O episódio Capucho coincidiu aliás com o auge da ruidosa campanha de propaganda promovida pelo Governo de Passos & Portas. O lema é transformar o desastre em êxito. O discurso oficial repete agora incansavelmente que «a política de austeridade» salvou o Pais e as metas foram quase todas atingidas.

O ministro Pires de Lima, criador do «milagre português", Poiares Maduro, Marco António e Maria Luís Albuquerque destacam-se no elogio da destruidora obra governativa. O ministro da Defesa – que segundo o general Garcia Leandro confessa nada saber dos problemas da Defesa - participa também animosamente na campanha.

Não se limitam já a falar de «indicadores positivos» citando estatísticas falsas. A lucidez da estratégia do governo PSD-CDS surge-lhes como realidade tão óbvia que criticam com dureza os partidos que não reconhecem o «crescimento da economia».
Passos promove e agradece.

Essa indecorosa campanha de propaganda e desinformação conta aliás com a colaboração da maioria dos comentadores da TV. e dos colunistas dos principais jornais.

De repente trocaram tímidas críticas por elogios. Jornalistas como José Gomes Ferreira, Miguel Sousa Tavares e Nicolau Santos semeiam a confusão em sinuosos artigos e entrevistas ao alinharem com o discurso oficial sobre uma recuperação inexistente.
Isso acontece quando o desemprego aumenta, a emigração dispara e o governo aprova um decreto-lei para acelerar o despedimento de trabalhadores, tão ostensivamente inconstitucional que até e a UGT o criticou.
O folhetim desinformador sobre a expulsão de Capucho e a perversa campanha de autoelogio do governo não têm, porém, o poder de alterar a realidade.

A maré de lutas sociais continua a subir. Aumenta a cada semana o número de trabalhadores que participa no combate à engrenagem monstruosa que oprime e arruína Portugal.

Urge apressar o derrubamento deste governo de máscara democrática que é na prática uma ditadura do capital. Tal tarefa não é apenas necessária; é uma exigência da História.

Vila Nova de Gaia,15 de Fevereiro de 2014


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