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Afonso Mendes Souto

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Umha vista de olhos

Algumhas facilidades e vantagens da norma AGAL para neofalantes

Afonso Mendes Souto - Publicado: Domingo, 16 Junho 2013 14:12

Um dos tópicos que se costumam verter sobre o reintegracionismo é o de que muitas das pessoas utentes das suas normativas nom as empregam com correçom.


Sem esquecermos que muitas das que usam a norma RAG também cometem erros, e muitos, por falar nisso, podemos dizer que há bastante de certo em tal afirmaçom. A explicaçom mais importante é a do apartheid histórico que se fai sobre o reintegracionismo, o que implica, como umha das desvantagens, nom poder ser umha normativa aprendida no ensino oficial. Em qualquer caso, o importante é saber como superar os obstáculos que fam do idioma umha língua anormal, à parte de noutros ámbitos, na forma e nos usos individuais.

Portanto, longe de gerar frustraçons, podemos afirmar que escrever com grafia galego-portuguesa é fácil e dá benefícios, que nom fornece a galego-castelhana, na hora de adquirir mais competências idiomáticas.

Umha década como utente da AGAL e de professor e corretor desta norma, figérom com que apreciara deficiências gerais, tanto no galego de quem redige os textos, quanto também entre o meu alunado. Contodo, também pudem verificar vantagens inerentes a esta escolha normativa. Polo que quero achegar algumha reflexom em chave positiva que coincide, grosso modo, com as exprimidas polo Estudo Crítico (1983).

A AGAL fornece vantagens em distintos planos como o da acentuaçom ou o da fonética.

Acentuaçom:

Este é um motivo de conflito na hora de escrever com a grafia histórica, chateia bastante, no entanto, a facilidade do seu uso nom corresponde com o resultado final que se pode observar em muitos textos.

Para já, cumpre sabermos que em galego-português poupamos acentos. Isto é graças a umha premissa de que podemos partir para aprender as regras de acentuaçom:

As palavras agudas acabadas em –l, -r, -z, –om, -ons, –i e –u, seguidas ou nom de consoante, nom se acentuam (papel, morrer, feliz, camiom, naçons, comum ou maravedi). Agora só temos que pensar em regras de oposiçom, portanto as graves com esta finalizaçom sim se acentuam (míssil, éter, fôrom, táxi ou álbum). Ainda cumpre acrescentar as acabadas em –x e –ps que também se acentuam (tórax, bíceps), mas cuja finalizaçom nom se dá em palavras agudas.

O mesmo, mas ao invés, é que acontece com as finalizadas em –a, -e, seguidas de –s, -m ou –ns e -o(s): ananás, bebé ou só frente a banana, leme ou manco. Isto é, como as agudas sim se acentuam, por oposiçom, as graves nom o fam.

Para o caso das esdrúxulas dizer que todas levam acento gráfico, só que neste grupo há que incluir palavras “graves” acabadas em ditongo crescente que, ao invés que no espanhol, sim se acentuam, como o adjetivo “séria”, que frente ao condicional do verbo ser “seria”, nom se acentua. Assim que palavras que se pronunciam como esta nom levam acento (Maria, dormia, queria, etc).

As palavras monossilábicas adaptam-se a estes princípios (três) quando tónicas e nom levam acento, logicamente, quando átonas (“de” preposiçom)

A isto há que somar algumha norma a mais como a dos advérbios acabados em –mente, ou hiatos como “baú”, diacríticos como “dá” (verbo) ou “da” (contraçom), distinguir onde pode haver confusom como “pais” ou “país”, vogais tónicas antes de “-nh-” como “bainha” ou “moinho”, etc.

A única dificuldade, que como veremos a seguir nom é tal, mas polo contrário é umha ajuda para outras questons, é o acréscimo de mais dous acentos: o grave (`) e o circunflexo (^).

Umha leitura correta da acentuaçom do galego-português há-nos servir, em parte, para contribuir a reintegrar-nos no seu sistema lingüístico, e a afastar-nos do que o espanhol nos está a proporcionar na hora de pronunciar siglas, como ONU ou OVNI, ou topónimos estrangeiros, como Ansterdám ou Etiópia.

Fonética:

Neste ponto podemos estar a falar do que provavelmente seja a maior vantagem da AGAL, graças à sua acentuaçom galego-portuguesa. As pessoas neofalantes podem saber, numha alta percentagem qual é o vocalismo tónico das palavras da língua. Isto nom é assim por exemplo em “dez”, “levam” ou “mulher”, em cujas sílabas tónicas encontramos vogal aberta, mas sim em palavras como “céu” que AGAL acentua mas nom a RAG (ceo). Isto será válido, por suposto, até que o reintegracionismo nom elabore umha proposta ampla de ortofonia e prosódia, que contradiga as explicaçons, doravante expostas, e à margem das já apresentadas polas instituiçons lingüísticas próximas à oficialidade e, portanto, do isolacionismo lingüístico.

No entanto, é presumível que esta hipotética (mas necessária para ganhar prestígio, marcando caminho, e dissipar dúvidas neste campo) proposta reintegracionista nom deveria ficar muito afastada de outras gramáticas ou dicionários de pronúncia como o Regueira (pode que o principal manual referente hoje da fonética galega). Porém, semelha que cada vez que se especula com esta possibilidade encontramos certas diferenças, como na metafonia final de –o, onde, por exemplo, para Regueira (2010) a sílaba tónica de “novo” tem, sobretodo, timbre aberto. Nom obstante, por exemplo, para Freixeiro Mato (1998) ou para o interessantíssimo artigo de Rodrigues Gomes (2000) “Ortofonia e pronúncia padrom galegas”, o timbre, neste caso, é fechado pola influência do –o final. Também Carvalho Calero advertiu na sua gramática sobre a influência de metafonia por –o, detetando fechada a vogal tónica, um bocado ou completamente, segundo a zona. Facto que o Regueira nom nega, mas nom parece favorecer.

Sendo assim, na vogal tónica devemos fechar “corunhês” ou “vês” (de ver), daí o circunflexo, mas abrir “através” ou vés (de vir), daí o acento agudo. Por “a” ser, basicamente, um fonema central de abertura máxima foi que a AGAL optou por desestimar o acento circunflexo em palavras como “câmara”, segundo o luso-brasileiro, e apostar em nom harmonizar neste caso e colocar um acento que represente em todo o momento a abertura do “a” (cámara).

Se repararmos nos paradigmas dos verbos irregulares, podemos ver que no “e” do tema de perfeito apenas há acento agudo (dérom, quigérom, pugérom, etc), frente aos regulares, que levam circunflexo (bebêrom, rompêrom, cosêrom, etc), polo que devemos concluir o timbre aberto dos irregulares e fechado dos regulares. Isto, se calhar, pode ajudar a lembrar que os irregulares, em todo o tema de pretérito, tenhem timbre aberto (soubemos, figermos, dixesse, etc).

Infelizmente, no vocalismo átono nom temos assaz ajuda visual, e palavras como “beleza”, “votar” ou “esquecer” tenhem timbre aberto na sílaba pretónica. Isto fai com que a abertura destas vogais sejam indetetáveis sem o ouvido ou sem ajuda gramatical.

Também podemos observar certas contradiçons inevitáveis como na terminaçom –ência, grafada polo reintegracionismo com acento circunflexo, por harmonizar com o luso-brasileiro, mas que se pode realizar com timbre aberto ou fechado.

Umha outra contradiçom, que umha vez desvelada nom deveria causar problemas, vê-se em palavras que por etimologia som grafadas com “o”, em oposiçom à norma RAG, mas que a sua pronúncia é com “u” (“tossir”, “engolir”, “cobrir”, etc), embora a RAG aqui nom tenha um critério coerente (“anduriña” frente a “cogomelo”, por exemplo). Assim como palavras onde a tendência popular é de fazer síncope (oferecer> pronunciado “oferecer”). Todavia, há umha presa de palavras que sim ajudam em AGAL e nom em RAG, como “muito”, “luita”, “escuitar”, etc. Este tipo de palavras pronunciam-se com “o” fechado ou diretamente com “u”, segundo a zona, polo que a escolha com “u”, coincidente com a forma portuguesa evita pronúncias que já se dam na língua, entre neofalantes, como “moito” ou “loita” com timbre aberto. Contodo, esta regra nom funciona em palavras como “múmia”, que segundo o Regueira, por exemplo, é sílaba tónica com “o” aberto.

Quanto ao acento grave da contraçom “à(s)” (a+a) só devemos saber que a sua pronúncia é átona e prolongada e átona sem mais em “àquela(s)/àquele(s)/àqueloutro” .

O isolacionismo também utiliza argumentos foneticistas para se justificar, do tipo: ou escrevemos “ó” ou a gente pronuncia [´ao]; ou, se nom escrevemos “come-lo caldo” a gente nom pronuncia o “l” que aparece na fala depois de “r” ou ”s”, etc. Para a primeira afirmaçom chega com responder que com aprender umha só vez a sua pronúncia correta nom é necessário colocar 40 “ó” num texto. Ainda que parece que a tendência desta forma, frente a “ao” é a de desaparecer por harmonizaçom com o luso-brasileiro. Quanto à questom da segunda forma do artigo e à vantagem que a RAG fornece para a pronúncia de “l” quando “r,s”antes de vogal (come-lo caldo), podemos dizer que o galego-português nom a tem, mas em verbos que o isolacionismo escreve como “rompelo”, AGAL escreve “rompê-lo”, separando verbo e pronome e introduzindo o acento indicador do timbre da vogal. Neutralizando assim umha vantagem com a outra. Este, já agora, é um dos erros mais habituais entre principiantes, isto é, confundir o isolacionista “dice-lo segredo (verbo + artigo + substantivo)” com o galego-português “dizê-lo (verbo + pronome)”.

Em 2010, a Comissom Lingüística da AGAL, deu um passo valente ao incorporar ao caso galego as atualizaçons que o acordo ortográfico previa em 2009 para o Brasil e 2010 para Portugal.

Sempre pensando na nossa particularidade decidiu-se revisar, entre outras questons, o encontro de consoantes nos grupos cultos cc(cç), ct, pc (pç). Nom obstante o certo é que isto ainda está a causar problemas na escrita; nem todo o mundo sabe desta atualizaçom e, aliás, falha-se na hora de aplicá-la. Mas o certo é que a exceçom de em palavras como “técnico”, “adaptar”, “facto” (nom confundir com “fato” sinónimo de “traje”) ou outras que já tinham vocalizado como “teito”, decidiu-se que a primeira consoante cai quando nom se pronunciar na prática, isto é, na maioria dos casos. Cumpre saber que neste contexto as vogais “e, o” costumam ser abertas, salvo nalguns casos como “teito” ou “excelente”, com pronúncia fechada no segundo caso polo [ks] (nom confundir com palavras do tipo de “exótico”, com timbre aberto por [k´s]).

Estas som só algumhas vantagens e facilidades que, umha vez interiorizadas, ham melhorar o nosso galego tanto na escrita quanto na pronúncia.

A partir daqui, após adotarmos a grafia histórica na nossa prática escrita, só temos por diante um repto na hora de ganharmos competências idiomáticas, que a influência do espanhol nos resta aceleradamente, o de, com dicionário e outras ferramentas lingüísticas mediante, tentar desmascarar palavras e expressons espanholas que cumpre erradicar.

Polo dito acima, e nom só, a norma AGAL é sem dúvida umha ferramenta boa para as pessoas neofalantes adquirirem competências no caminho de um galego ótimo.

Corunha, junho de 2013


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