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Ramiro Vidal

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A república do verbo

As asneiras do espanholismo

Ramiro Vidal - Publicado: Quarta, 16 Janeiro 2013 22:41

O espanholismo teme o povo basco, odeia o povo catalám e despreza o galego.


Teme o povo basco, porque sabe que tem a consciência e a força para desobedecer a legalidade espanhola; odeia o povo catalám, porque é um povo dinámico e muito mais desenvolvido em todos os ámbitos do que o castelhano ou qualquer outro sob administraçom espanhola; e despreza o povo galego porque o povo galego nom é capaz de valorizar o próprio, nem a sua personalidade coletiva, nem o seu legado cultural, nem a sua tradiçom económica, nem o seu património natural. Som o bode expiatório necessário; há umha batalha ideológica que o imperialismo espanhol ganhou, que é a de fazer acreditar ao povo galego que o progresso passa por renunciar ao próprio. Há que renunciar à língua, há que renunciar à paisagem, há que renunciar aos setores produtivos... há que renunciar a ser o que somos, para que em Madrid nos considerem amigos e nos tratem bem, para que algum dia sejamos membros de pleno direito desse clube chamado Espanha, e nom os parvos do pelotom.

O problema é que a condiçom de membros de pleno direito nom se dá alcançado; mais de cinco séculos depois, continuamos a ser os parvos do pelotom. Os galegos somos boa gente, um povo acolhedor, "sábio", singelo, humilde, trabalhador... isso sim, endemicamente retardado, com umha língua muito formosa e melíflua mas inútil, com umha cultura que nom serve mais que para consumo doméstico, ou seja, pitoresca e pouco mais, e os nossos setores produtivos tradicionais nom som rendíveis. Somos pailáns por definiçom, e nada do que aqui se produzir pode ser realmente bom, já que somos um coletivo formado por indivíduos pouco inteligentes. O galego-tipo é indeciso, conservador, ambíguo e com pouca cultura universal. Aferrado ao "terrunho", nom saiu nunca da aldeia. Curioso, porque é um povo emigrante, e um povo emigrante por tradiçom deveria ter umha quantia importante de indivíduos com certo mundo na sua bagagem. Mas já se sabe, essa tendência em determinados momentos da história a sair do país deve-se a que a Galiza é pobre. E a indigência espiritual, cultural e material levamo-la sempre connosco aonde quer que vaiamos.

Os tópicos estám construídos em base a interesses. O povo galego vale quando se amolda ao rol que a Espanha lhe tem reservado. Submissos, serviçais, tendentes a nos identificar com quem consideramos superior, acolhedores... somos retardados e temos desconfiança cara às mudanças, mas sabemos que quem vinher de fora sempre nos trará a luz que nunca alcançaremos por nós próprios. Nunca sairemos de pailáns, mas temos o aquele entranhável que fai que na Metrópole nos tenham "admiraçom".

O problema é quando nos revoltamos contra a condiçom que nos imponhem. Entom, naturalmente seguimos a ser pailáns, porque o de ser pailáns, polos vistos, é intrínseco a sermos galegos. Mas ainda por acima, estamos a fazer algumha cousa assim como morder a mao que nos dá de comer.

Quando reivindicamos por exemplo um personagem da literatura oral como o Apalpador, criamos a um indivíduo degenerado, que é adito ao álcool e que tem umha estranha inclinaçom a tocar as barrigas das crianças. É um monstro criado nas cozinhas do nacionalismo galego para roubar ao povo galego o saudável espírito natalício. O problema é que qual é o genuíno espírito natalício, quando principal figura do Natal convencional ultimamente é um personagem criado por umha multinacional à partir de um outro personagem pertencente à tradiçom escandinava... o tal protagonista parece um impostor com umha carta de autenticidade concedida de maneira bastante arbitrária. E é bastante curioso que a mesma caverna mediática que apoia a cúpula eclesiástica espanhola reivindique o Pai Natal, quando nom há tanto que os cregos clamavam contra a introduçom de elementos nom próprios da "nossa" tradiçom no Natal católico tais como a árvore de Natal e o próprio Pai Natal. Por seu turno, ninguém dixo que o Apalpador teria que chegar precisamente no 24 de Dezembro. O problema é o de sempre, que nós nom podemos estudar-nos a nós próprios e recuperar das nossas tradiçons o que nos interessar, temos que aguardar (segundo eles) a que os nossos subjugadores venham aqui dizer-nos o que é que podemos reivindicar de nós. Tenhem que ser os de fora os que digam como somos.

Quando reivindicamos o direito dos nossos desportistas a competirem representando o seu país, e o direito deste país a se ver representado nas competiçons desportivas, também saltam as alarmes. Quando fazemos isto "estamos a politizar o desporto". Polos vistos, é politizar o desporto luzir bandeiras galegas num evento desportivo, mas nom o é luzir bandeiras espanholas, ainda que nalgum caso as bandeiras espanholas vaiam "adornadas" com símbolos da extrema-direita. Cruzes célticas, águias de Sam Lucas ou suásticas, som simples licenças extravagantes na maré de sano patriotismo espanhol. E é que ademais, é indiscutível que nom pode haver seleçom galega de futebol, ainda que moremos num país onde cada paróquia de cada concelho tenha o seu clube de futebol: Naturalmente, a Galiza nom tem hipótese qualquer de fazer cousas importantes na Euro ou no Mundial de futebol. Nom haveria problema em que a Nigéria tivesse seleçom de hóquei sobre gelo; mas Galiza seleçom de futebol? Nem pensar! Isto, para além de que a legislaçom espanhola proíbe a participaçom de seleçons de territórios do Estado em competiçons oficiais e que as federaçons espanholas vetam tal participaçom. É mais; é umha ousadia pretender alterar a ordem natural do futebol. Ainda soam os ecos de certo colunista de El Mundo, desqualificando ao Celta por ganhar ao Real Madrid. Um artigo bastante cómico pola burrice que o seu autor, Julián Ruíz, demonstra, mas com umha intencionalidade de insulto que dá prova do conceito que tenhem de nós e da relaçom que temos que ter com eles. Até o de agora, os golos pontuam igual venhas da cidade ou da aldeia, ainda que o espanholismo tenha a sua particular ideia sobre o tema.

O espanholismo é burro, tem a força mas nom tem a inteligência. Presenciar os seus ouveios e espaventos de impotência cada vez que temos umha conquista, por pequena que for, simplesmente demonstra a sua debilidade. Apoiam-se "no normal", "no lógico", "no de sempre", e quando aparece um corpo social articulado que demonstra que a sua lógica tem uns peares bastante frágeis, começa a crise e há que saír a atacar com o punhal. Quando saem plumas ao ar para atacar o Apalpador, um apracível carboeiro que nom tem interesse qualquer em enfrentamentos dialéticos com o fascismo espanhol, é porque aquele humilde homem do monte que alguém acordou da sua soneca de décadas tem um odor a próprio que nos recorda que nom vivemos numha realidade tam simples e uniforme. Quando atacam a todos os que dalgumha maneira participamos em jornadas de reivindicaçom do desporto galego, desportistas ou público, é por puro medo a que o seu aparelho de propaganda perda exclusividade à hora de explorar o desporto como ferramenta de coesom/manipulaçom social. Que umha parte do povo galego decida prescindir das estruturas que se arrogam o monopólio para mover os fios do desporto é para eles perigosíssimo.

Oxalá lhes continuemos a dar golpes certeiros e a eles nom lhes fique mais recurso que lançar asneiras ao infinito, que de nengum jeito nos intimidarám.


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