Está sobradamente demostrado que todos os seus problemas tenhem a sua raíz, no fundamental, na nossa falta de soberania e que teriam a sua soluçom, também no fundamental, na consecuçom dessa soberania. Umha soberania que apenas pode vir da independência.
Nom valem soberanias cedidas nem outorgadas. Este povo necessita uns poderes públicos com soberania própria que podam agir com plena autonomia, sem serem tutelados por nengum poder exterior, e que essa soberania emane da vontade popular, nem mais nem menos. E isso chama-se independência. O resto som cantigas. Nem estatuto de 36, nem república federal espanhola, nem confederaçom de povos ibéricos... nem farrapos de gaitas. Absolutamente nengum quadro jurídico-político é aceitável se nom é a partir da independência. Necessitamos um Estado próprio, num mundo que se organiza em estados. Necessitamos um estado próprio para preservar a nossa territorialidade (aquele direito reconhecido na carta de Direitos dos Povos, a conservaçom pacífica do nosso território) para organizar a nossa sociedade e a nossa economia, distribuir a riqueza de umha maneira justa, defender os nossos setores produtivos, defender a nossa cultura e a nossa língua.
Por muito que nos empenharmos, nom há encaixe possível no projeto nacional espanhol nem no capitalismo europeu. Os planos que de fora traçam para nós passam pola nossa renúncia à própria identidade: Despossuem-nos da língua para cortar o nosso vínculo com as geraçons passadas e o seu legado e para destruir a nossa coesom como povo, o nosso tecido social. Preparam-nos para sermos carne de canhom nas suas guerras imperialistas, para sermos esbirros da sua repressom e para produzirmos mao de obra barata naquelas latitudes que em cada momento concentram maior "crescimento" económico. Podemos dormir o letal sono a que nos convidam os seus arrolos, ou podemos rebelar-nos e mostrar-lhes a saída.
Eu nom quero ser pesimista nem otimista, eu quero ser realista. A realidade é que há que sair da encruzilhada já. Que rumo queremos dar à nossa história? A chave está na resposta a essa pregunta.
A esquerda independentista já tomou partido e já pujo sobre o tapete que o nosso futuro passa pola independência. Independência sem edulcorantes nem reviravoltas. Estado próprio. Nós nom somos umha minoria étnica com dificuldades para se integrar no modelo de sociedade maioritário, nós nom somos um povo errante, nós nom somos um povo indígena da América Latina ou de África. Nom somos melhores que qualquer povo que responder a essas caraterísticas, mas nós nom somos isso. Nós somos umha velha naçom europeia; o primeiro reino independente da Península Ibérica depois dos romanos (o Reino Suevo) assentou no nosso solo e umha das línguas mais faladas do mundo, o galego-português, é em origem obra dos nossos antergos. E como naçom europeia temos direito a sermos Estado.
Também é certo que as estruturas do capitalismo europeu, como dixem, pretendem exterminar-nos. Nom querem que funcionem os nossos setores produtivos tradicionais e pretendem que a Galiza se converta numha reserva energética e turística.
Toda esta música nom é nova, onde quero chegar é a que já temos que romper com o complexo interclassista que surge da incapacidade para criar umha maioria social liderada polo povo trabalhador que faga frente aos que nom som mais do que carrascos do povo galego. E para isso há que ganhar a batalha ideológica a cara de cam. Sonhar com que nos poderemos parapetar numha burguesia nacional que reivindicará um papel ativo no capitalismo internacional, que defenderá os setores produtivos e o direito a produzir, que luitará por ter o máximo de autonomia política para gerir os recursos públicos e, se for necessário, optar pola independência... ou seja, sonhar com que haverá umha CiU galega, é umha perda de tempo. A força tem-na a classe trabalhadora. Pode que nom tenha a consciência, mas tem a força e está a demonstrá-lo. As últimas greves demostram-no. E se em décadas de sindicalismo nacionalista e do nacionalismo de esquerda estar na vanguarda de inúmeras luitas populares esses que tenhem a força nom tenhem a consciência, se calhar é porque se esqueceu aquela ideia-força do Castelao que dizia que valia mais umha consciência do que mil votos.
Também nom serve esse utopismo que pretende passar por cima do conflito, dizendo que nom temos que aspirar a um Estado e que se nós ignorarmos Espanha, deixaremos de ser espanhóis. É óbvio que, por muito que eu trate de ignorar Espanha, Espanha nom me ignora a mim. Cobra-me impostos igualmente, e fai-me cumprir as suas leis igualmente. Naturalmente que temos de nos vertebrar e temos de nos construir a partir de baixo, à margem da legalidade espanhola, mas nom abonda com isso. Temos que aspirar ao poder.... a ter um Estado.
Os atos convocados no 6 de Dezembro em contestaçom pola celebraçom do aniversário da Constituiçom Espanhola som um reflexo de como toma cada quem postura. O autonomismo, que ultimamente acatava a Constituiçom espanhola e o que figer falta para nom ser riscado de anti-sistema, meteu um barulho considerável com a palavra "Soberania" a inundar os muros das ruas e os sítios da internet. Como dixem, nom há soberania sem independência. Essa palavra foi escorrentada ou evitada em todo momento: o que significará "Soberania" para o BNG? Como ato de rua final da campanha, convocárom concentraçons (contra a constituiçom?) em várias localidades, nas quais repartírom (...bilhetes de identidade galegos!!!) enfim... umha cerimónia da confusom muito em consonáncia com o caos ideológico que se vive neste momento no BNG. A esquerda independentista fijo que a palavra independência saudasse a manhá de 6 de Dezembro desde a Ponte do Lérez, desde o Baluarte de Ferrol ou desde o porto fluvial de Salvaterra. Isto é o que há que fazer, ainda que a sociedade nom esteja maioritariamente com essa ideia. Porque há que começar a dizer ao povo galego que a eleiçom é Galiza ou Espanha, e que escolher Espanha tem conseqüências pouco prometedoras.
Mais umha vez, nom podo fechar um artigo assim sem acrescentar que nom há independência real sem umha alternativa ao capitalismo e ao patriarcado. Que submetidos aos ditados da banca e o patronato mundiais, nunca haverá independência, e que também nom seremos um povo livre de certo se umha metade da sociedade tem os seus ámbitos de expressom, poder, desenvolvimento, de atividade em definitivo, restritos para preservar os privilégios da outra metade.
Chegou a hora da verdade, agora que todo se abala. Será que decidimos luitar, ou pensaremos mais umha vez que a lealdade ao amo espanhol tem prémio?