Unido ao desemprego, estes trabalhadores tinham que sofrer a queda na ilegalidade de todos os componentes da família, mulher e filhos, pois as suas permissões dependiam de um primeiro.
Alguns destes imigrantes, agora ilegais, tinham filhos com cidadania espanhola, e ainda assim, nem eles como progenitores nem os seus irmãos tinham nenhum direito de residência, e se calhar o que é mais grave, também não tinha nenhum direito o menor espanhol, por ser espanhol e residir no Estado espanhol, mas sem rendimentos, para que os seus familiares residissem legalmente.
Muitos destes imigrantes aos quais mesmo se lhes recusava o cobramento da prestação por desemprego a que tinham direito por não estarem legais (uma das sucessivas reformas do Regulamento de Imigração proíbe expressamente o acesso à residência por este suposto) perguntavam-me se o facto de ter uma hipoteca não lhes dava direito a residirem legalmente.
Aos imigrantes latino-americanos ilegais dos Estados Unidos o pagamento de impostos e a compra de uma habitação dava-lhes uma espécie de anestésia mental ante uma provável deportação. A realidade é que de pouco vale nos Estados Unidos nada sem a respetiva permissão e no Estado espanhol outro tanto valem as dívidas hipotecarias ou pessoais.
Objetivo: vender pisos
Em poucas semanas, vai-se reformar o Decreto de Imigração para conceder permissões de residência a estrangeiros que comprem uma habitação a partir de 165.000 euros (aproximadamente). O objetivo é reativar a demanda exterior e contribuir para reduzir o volume de oferta de habitações, segundo afirma o secretário de Estado de Comércio, Jaime García-Legaz.
Imagino que não terá caráter retroativo e demonstrará, mais uma vez, a insensatez das normas e regulamentos do Estado espanhol em matéria de imigração, vazios da mais mínima ética, e a pouca vergonha dos membros do governo e a sua insensibilidade ante os milhares de trabalhadores estrangeiros que, com filhos menores espanhóis e com uma hipoteca, vivem na ilegalidade e na marginalidade por não terem trabalho.
[Corunha, 20 de novembro de 2012]