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José Biern Boyd Perfeito

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A jangada de ideias

A matança dos texugos- Uma medida económica para salvar o Reino Unido!

José Biern Boyd Perfeito - Publicado: Segunda, 05 Novembro 2012 00:48

Sempre tive simpatia pelos texugos.


Sou daqueles que vibrava com o Wind in the Willows, de Kenneth Grahame, não só na versão animada que passou em Portugal com o nome "o vento nos salgueiros" mas na versão literária que lia em Inglês. Delirava pois com as personagens, os cenários (antes de assitir a série televisiva, imaginados por mim) onde as aventuras dos personagens de sempre, aconteciam.

Das personagens centrais, adorava o Mr Badger, o senhor Texugo, sempre bem vestido, senhor de uma calma invejável e de uma sabedoria imensa. O seu chá, sempre pronto a tomar era um abrigo para todos, menos claro, para as doninhas, ou Weasels.

Como disse, o senhor texugo fazia parte da minha imaginação e na area onde resido no Reino Unido, os verdadeiros texugos, são presença constante, pelos campos ou bosques, fugindo da humanidade ou escondendo-se nas covas e nos tuneis escavados pelas patas unhadas e curtas.

E, apesar de serem na realidade animais pouco sociáveis, fisicamente e olfactivamente, são presenças engraçadas e bonitas de ver. Afinal, são parte da natureza deste planeta.

Há muitos anos atrás, houve um grande surto de tuberculose bovina (TB) na Grã Bretanha sem causas aparentes na altura (anos 60) que demorou bastantes anos a erradicar, pelo menos em parte. Aquando da entrada da Grã Bretanha (passarei a designar por UK ) para a (na altura) CEE, 1973 com o Governo Heath, conservador, os agricultores queixavam-se que em algumas zonas os surtos de TB apareciam em alturas que os Texugos rondavam mais as explorações bovinas. Começou a culpabilização dos texugos, causadores do contágio da TB ao gado bovino. Mais lenha a esta fogueira se acrescentou quando alguns espécimes de texugos foram apanhados e analísados, encontrando-se com TB.

Desde esse momento, para os agricultores, o texugo transformou-se num inimigo a combater, mais odiádo que a raposa, acabando esta por ser empurrada para as zonas urbanas, através das batidas que eram organizadas sem qualquer tipo de cuidado e o texugo caçado sem dó nem piedade.

Matar texugos passou a ser um serviço público, a sociedade demonizou aqueles animais e claro, os contos de Kenneth Grahame passaram a ser quase malditos e proíbidos.

Durante anos e anos a fio, Condados com maior predominância bovina, fazia batidas não oficiais aos texugos, um pouco do género ao que se fazia com a raposa nos anos 20 e 30, com grupos especializados em todos os tipos de técnicas para esse objectivo. Cada agricultor tinha a sua própria técnica, uns gaseando os tuneis que os texugos usam para toca, água, armadilhas, veneno no lado exterior das cercas, etc etc.

Apesar de muitas organizações não aceitarem os números que os agricultores davam para justificar as batidas e muitos veterinários se oporem a essa fácil culpabilização dos texugos, os governos de tendência Tory (conservadora) eram muito abertos a uma batida nacional ( na Inglaterra) dos texugos, o que é compreensível sendo que a maioria dos seus eleitores são donos de propriedades e explorações agricolas.

No entanto e apesar da pressão desses grupos, Heath não a autorizou, Thatcher não o fez oficialmente mas permitiu a muitos Condados que o fizessem, Major não autorizou e eis que chegados aos dias de hoje, com David Cameron, a história tem um outro volte face.

Há cerca de dois anos, sem ser público, o Governo de David Cameron reuniu uma comissão com o objectivo claro e preciso de organizar uma batida nacional e oficial de texugos com a finalidade de reduzir as taxas de TB no gado bovino, com base que em todo o território da Inglaterra, 17% das explorações agricolas tinham sido proíbidas de comercializar os bovinos devido ás leis Europeias de quarentena á carne bovina em caso de ter sido encontrado animais com TB, nas inspecções periódicas. Isto, segundo hoje se sabe, tem criado prejuízo aos criadores de gado bovino que assim se encontram em posições de fragilidade para operar com outros mercados levando a uma forte pressão dos grupos de criadores de bovinos que injectam grandes somas para o partido conservador.

Desde Setembro deste ano que as conlusões da comissão que estudou a batida foram tornadas públicas e o Governo de David Cameron decidiu transportar essas conclusões do papel para a realidade e tomou a decisão de prosseguir para a organização da batida.

E eis que chegamos aos dias de hoje.

O plano elaborado pelo Governo Tory é erradicar 70% da população de texugos, com o seguinte processo – Capturá-los em Jaulas e dar-lhes um tiro de pistola ou em algum dos casos, organizar batidas a cavalo. Uma novelle caçada para a nobreza, aborrecida talvez com a caça da raposa.

Para isto o Governo Inglês afectou uma verba de 50 milhões de Libras e durante 10 anos espera erradicar 11.000 texugos no total.

Não se sabe o impacto que a batida irá ter no ambiente, porque os próprios técnicos do governo admitem que não se sabe as consequências deste acto.

Tudo estava pronto para seguir em frente, mas vive-se numa suposta democracia e o País que defende ser o berço do parlamentarismo, não poderia ignorar o parlamento. Ou pode?

Quando estas notícias vieram a público, as organizações de defesa dos animais, os partidos de esquerda, movimentos civícos de cidadãos e ambientalistas, envolveram-se numa acesa luta para travar esta batida do Governo.

Não só não existe uma concordância entre a causa da TB entre os bovinos, como há números que indicam que a propagação da doença pelos texugos implica valores abaixo de 14% dos casos registrados e que a própria disseminação da doença entre os animais doentes e os não doentes, é maior que todos as vias externas ás explorações agrícolas.

A maioria das organizações prontificou-se a efectuar estudos e contra-propostas á proposta do Governo para encontrar alternativas a esta chacina e estabeleceu um plano de vacinação em cinco anos que iria reduzir os texugos afectados com TB para um valor perto dos 7 a 10% da população total.

Para a esquerda ainda é mais aberrante que num momento em que o governo corta nos beneficios sociais e nos serviços públicos, além de cortar os orçamentos dos Condados e nos Governos Locais, este possa atribuír uma verba com esta dimensão (50 milhões de libras) para tal acção que está baseada num estudo em que os erros de cálculo são enormes e as mostrações longe de ser provadas, sem contemplar outras formas de resolver o problema. Ou seja, será sempre quem paga impostos, concorde ou não com a medida que pagará este pequeno doce para um grupo organizado.

O facto é que a contaminação de TB actualmente não é um problema maior e não justifica nada do que é proposto pelo Governo, dado que, (números do Governo) o número total de explorações agricolas com problemas é de 17% que pode, segundo cálculos da RSPCA (Defesa dos direitos dos animais) pode ser reduzida a mais de metade pela atempada vacinação preventiva do gado.

Neste ping pong, uma petição civil foi realizada em que juntou 150.000 assinaturas e o caso foi chamado ao Parlamento Inglês, em que depois de se ouvir as poucas argumentações do Governo, foi votada, com uma derrota para o sim á batida e ao Governo de 174 contra e apenas 28 a favor.

Nem os próprios Membros do Parlamento conservadores estão em acordo com a dita batida.

A questão agora põe-se no seguinte.

O Governo, neste caso, não é obrigado a seguir a votação do Parlamento e pode, por força da soberania, colocar este acto em prática, o que transforma esta questão, como muitos de nós sabemos, mais numa questão politica do que em defesa da saúde humana e dos animais.

Se em questões humanas o Governo perde soberania em relação ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em questões de animais e ambiente, o Governo deve soberania ao Parlamento e ás populações na sua maioria.

Há quem afirme que se se proceder á batida e que em caso dos texugos estarem de facto infectados em maioria (o que não se prova em nenhum dos estudos do Governo) estes fugirão das zonas das batidas ou das capturas para as zonas de exploração o que irá de facto, aumentar os casos de TB nos bovinos.

No fundo, este caso mostra-nos de forma evidente que a razão politica de certos meios, entre a vida e a morte, escolhe a morte como forma de resolver problemas. A morte dos 11.000 texugos não resolverá o problema mas deixará a comunidade agricola bem mais feliz com este Governo, em vez de optar por vacinar o gado e os texugos, esta uma opção de vida.

Também nos mostra outra conclusão que também já conhecemos. As prioridades são económicas e politicas, porque enquanto se imaginam milhares de justificações para os cortes orçamentais na vida das populações, em matérias como nível de vida, saúde, trabalho e motivação social, nada impede que 50 milhões de libras sejam gastos em acções deste género.

Pertence agora ao Governo de David Cameron decidir agora, entre a batida dos texugos ou a vacinação destes, mas pertence á sociedade civil evitar com todos os meios, a batida. A luta está no princípio ainda.

Por mim, volto sempre ao Wind in the willows, Ao vento nos salgueiros, da minha infância, onde o Mr Badger sabia decerto, com a sua calma e o seu chá, a forma correcta de exprimir a revolta por mais uma chacina em nome do poder económico.

E desta vez ele perderia a tradicional educação Inglêsa e diria bem alto para David Cameron ouvir:

-David, put the cull up your's.

Jose Biern Boyd Perfeito, Oxford 4th of November, 2012.


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