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Afonso Mendes Souto

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Umha vista de olhos

Castelhanismos e castelhanismos

Afonso Mendes Souto - Publicado: Sábado, 22 Mai 2010 02:00

Afonso Mendes Souto

Como sabemos, por desgraça (e nom por acaso), a nossa língua está inçada de castelhanismos.


Alguns, quiçá os maioritários, som tam inconscientes como evidentes, para quem conhecer minimamente o idioma, e detectamo-los na fala espontánea. Exemplos destes castelhanismos podem ser: "silla" (cadeira), "jueves" (quinta-feira) ou "suerte" (sorte).

Existen outros castelhanismos encobertos como rodaxa/rodaja ("rodela" ou "fatia"), alonxar/alonjar (afastar) ou conlevar (implicar). Estes também som inconscientes, fica claro porque quem usar "conlevar" é porque, ainda que sem demasiado esforço, quer falar o melhor que puder, já que nom é a forma castelhana ainda que venha daí.

Também venho observando desde há tempo que há certo léxico desconhecido para muitas/os utentes do galego para além de tecnicismos ou neologismos como "ecrám" ou "autoclismo". Há palavras como "canil" que som usadas, por desconhecimento da forma galega, com a correspondente forma castelhana "perrera".

Como sabemos, a melhor ferramenta de que dispomos para detectar castelhanismos é o dicionário. Mas som todos úteis?

Quanto mais português sei, mais galego aprendo e portanto mais castelhanismos detecto na fala e mesmo nos dicionários isolacionistas. É por isto que estes dias entrou-me a curiosidade e peguei em distintos dicionários para fazer umhas pesquisas. De certeza que tirei interessantes conclusons.

Até os exemplos postos até agora, nom conheço um só dicionário galego moderno que comtemple os castelhanismos citados como entrada a nom ser para exprimir que nom som formas galegas (para além, por suposto, como veremos a seguir, dos neologismos e tecnicismos, onde funciona a ideologia lingüística galego-castelhana).

Ora bem, cuidado! Já que existem castelhanismos e castelhanismos. Dentro deles temos os detectados e corrigidos, mas também os castelhanismos assumidos e mesmo prescritos.

Vejamos:

Se olharmos para a palavra "coche" (com o sentido de automóvel), nas definiçons dos dicionários isolacionistas com etimilogias de Diccionario Xerais da Lingua de 1986 (I) e Gran diccionario século XXI da lingua galega Galaxia-Cumio de 2005 (II) topamos as seguintes definiçons:

I – [do francês "coche"

II – [do francês "coche"

Isto é, aceita-se "coche" com acepçons que som do castelhano, quando no galego-português já temos carro dentro do nosso sistema lingüístico através dos dicionários portugueses.

Ainda, o Xerais (I) (nom é o único), fala em 1986 de "berbequi", mas apenas para o modelo antigo, o manual, o nom eléctrico. Aqui verificamos que, por algum estranho motivo, nom se quer funcionar por extensom, como no caso de "coche" do francês. Será porque coincide com o português "berbequim"? Pois é! A forma escolhida é "trade".

É habitual em gramáticas e dicionários isolacionistas escapar da forma portuguesa (veja-se "berbequi" vs "trade"), mas nem sempre da castelhana (veja-se "carro" vs "coche"). Será, quiçá, que o termo "isolacionista" fica demasiado grande para os galego-castelhanos?.

Xerais no futuro já nom edita mais dicionários com etimologias. Mas nom porque certa filologia galega saiba que nom pode justificar ou reconhecer algumhas questons para garante do agir ideológico que nom abandona Espanha como horizonte cultural. Em 2005 podemos ver um exemplo disto em II:

"Plano": [(do latim PLANU) m. Representaçom gráfica mediante desenhos geométricos, de um prédio, de um objecto, etc. Sinónimo "projecto".]

Até aqui todo bem, mas vejamos o que se di agora:

"Plan": [(de plano) m. 1. intençom, projecto, ideia...2. fig. e col. Cita com alguém...]

É dizer, incorporam a palavra espanhola "plan" em vez de "plano" para o significado de algo planificado, disse que vem da palavra justificada mediante etimologia "plano" e fica resolvida a questom. Pois na minha opiniom cumpre explicar melhor o motivo da rutura com a escolha portuguesa "plano".

Também me surpreendim quando vim que por exemplo em I aparece a palavra "aportar", nom apenas com o sentido de chegar a porto, mas também com o de "contribuir" ou "achegar" (isto foi corrigido em ediçons posteriores). Porém, de novo fum surpreendido quando vim também a acepçom de "contribuir" para "aportar" num dicionário online recente, o Digalego, embora depois remitam a "achegar".

Dicionários "galegos" há muitos, mas a fiabilidade numha língua em conflito lingüístico pode ser mínima, como verificamos no facto galego. Estamos, no nosso caso, perante um caos lexical grave, triste e perigoso. O pior é que o que está em jogo nom é outra cousa que o futuro do galego.

A soluçom para um uso lexical correcto é fácil, ter em conta as palavras que sejam galegas com certeza; perante a hipótese de múltiplas possibilidades, através de variantes dialectais, procurar sempre umha harmonia com o português e com as palavras que entrem novas na língua ou que tenham entrado já por via espanhola, verificar, para já, como é que resolvem no português. Já agora, isto, é o que estamos a fazer as/os que pensamos no galego em chave de língua extensa e útil.

Há pouco alguém me contou umha história que tivo lugar numha sala de aula de umha universidade galega. O professor perguntou polas partes do carro das vacas, quando ninguém respondeu, ele, enfadado, increpou o alunado e um deles/as repostou: "nom temos de saber isso, o que nos tés de explicar tu som as partes do automóvel". Com efeito, tinha razom, mas este professor tam douto em objectos inúteis (para a maior parte da sociedade galega na altura) seria capaz de ensinar as partes do automóvel se tivesse vontade?


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