A primeira refere-se à manifesta falta de compostura que, durante o orgásmico partido de futebol, demonstraram Felipe de Borbón, o príncipe herdeiro, e Mariano Rajoy, o primeiro ministro espanhol. Só há duas possibilidades: ou estes personagens são pouco educados e corteses --muitos dos presidentes de clubes de futebol, inocultadamente mafiosos, parecem porém mais corretos no palco--, ou Felipe e Mariano decidiram botar mão, sem fendas, do feitiço envolvedor do fascismo popular.

Intuo que é bastante mais provável que se trate disto último, e não posso evitar a formulação duma obviedade: os sórdidos gestos populistas dos governantes espanhóis produzem, infelizmente, as consequências desejadas. Porque, quantos desses jovens que na noite do dia 1 berravam exaltados hão de sair à rua os próximos meses para defenderem uns empregos que não têm, para contestarem os miseráveis salários que cobram e para fazerem frente à cobiça empresarial?

Procuro agora a segunda questão. Vi estes dias em Madrid, nas celebrações futeboleiras, alguma bandeira republicana espanhola. Aclararei que ainda que não sou republicano --não acredito em governos nem em estados; nem sequer acredito numa república galega--, sinto certo respeito pela velha bandeira tricolor. Bastará com lembrar os mestres que deram a sua vida na década de 1930. Resulta-me por isso singularmente incómodo que a bandeira republicana se misture com as celebrações destas horas, como se essa gigantesca estafa social que é a história da 'Roja' --não faço agora juízos desportivos, que podem ir por outro caminho-- ficasse redimida quando se esconde trás uma bandeira tricolor.

Não será este um fino termómetro do que nos espera da mão duma imaginável terceira república em Espanha: a mesma miséria com diferente embrulho? Pergunto. Eu apenas pergunto.

Fonte: Sermos Galiza.