Mahamoud Ahmadinejad foi o primeiro chefe de Estado, oficialmente, a convidar a mídia alternativa e virtual a participar de uma conferência de imprensa. Na véspera, o boliviano Evo Morales foi jogar futebol num campo de pelada do Aterro com bolivianos residentes no Brasil, sem qualquer esquema maior de segurança.
Em suas declarações afirmou que o uso pacifico da energia nuclear não pode ser privilégio de algumas nações em detrimento de outras. Disse mais que o Irã não tem preocupações com a bomba atômica, mas os governos que tentam asfixiar o seu país não olham para países que, na região que "dispõem de artefatos nucleares e ameaçam a paz". O presidente iraniano foi claro ao dizer que Israel é ameaça à paz no Oriente Médio e que o conflito na Síria tem que ser resolvido sem intervenção de países outros, mas "entre os sírios".
"Quem tem milhares de ogivas nucleares com as quais mantêm uma ordem mundial injusta e colonialista são os que nos criticam". O Irã, disse, é "a décima sétima economia do mundo, tem crescido, é um dos países de ponta no desenvolvimento de biotecnologias, mas a mídia apresenta nosso povo como pobre, atrasado, sem perceber que somos um país em que a metade do nosso território é toda ela de deserto e nossa história é milenar, sempre foi de resistência, nunca nos curvamos e nem fomos dominados".
"Armaram Saddam Hussein contra nós, provocaram uma guerra que matou centenas de milhares de pessoas, deram a Saddam armas químicas e biológicas, depois destruíram Saddam, destruíram o Iraque e chamam isso de democracia".
Mahamoud Ahmadinejad não citou uma única vez o nome da presidente Dilma Rousseff, nem quando perguntado sobre a participação do Brasil nesse movimento por uma nova ordem mundial, preferindo fazer referências ao ex-presidente Lula e a necessidade dos brasileiros compreenderem e participarem dessa luta, pois "o Brasil é um grande país e tem um papel importante a cumprir". Sobre o governo brasileiro o presidente teve uma postura diplomáticas, mas ficou visível que as relações são diferentes das que haviam no governo Lula, até ao mencionar o acordo alcançado pelo Brasil e a Turquia com o seu país, na questão nuclear. Ahmadinejad afirmou que "aquele é um documento definitivo sobre o assunto."
A posição brasileira na RIO + 20 foi débil e buscou apenas uma espécie de consenso que agradasse às grandes potências, empurrando os problemas mais sérios para a frente. A própria presença de Dilma, mesmo presidindo o encontro de chefes de Estado foi mínima, escondida, limitou-se a um discurso vazio e sem propostas concretas, só chavões. A ministra Isabella Teixeira, do Meio-ambiente, caberia perfeitamente em qualquer PSDB ou DEM da vida, ou mesmo no papel de executiva da MONSANTO, por exemplo (opinião deste jornalista).
"Uma conferência só não é o suficiente para resolver os desafios dos quais estamos falando".
O presidente afirmou que no Irã quatro milhões dos mais de 70 milhões de habitantes são judeus, vivem em paz, professam a sua religião e muitos deles "foram para Israel e retornaram, pois não conseguiram viver naquele país".
Deixou claro que a revolução islâmica libertou o Irã de "uma ditadura cruel e sanguinária, que era apoiada pelos países ocidentais, que tiraram vantagem disso, ao explorar os recursos naturais do país e mantendo a população na pobreza, na miséria. São esses países que se voltam contra nós hoje, pois têm espírito colonialista".
Mahamoud Amadinejad fez menção também ao "poder" do Conselho de Segurança. "Usam o direito de veto no Conselho de Segurança para negar direitos e abusam do controle que exercem sobre esse organismo para manter a ONU sob controle".
"Energia nuclear para todos os países e armas nucleares para nenhum". Sobre esse tema a ONU tem dois pesos e duas medidas.
O presidente fez menção a um encontro que teve pela manhã do dia 21 de junho com intelectuais e lutadores brasileiros, onde registrou que "são pessoas que lutaram pela democracia, que estiveram nas prisões e agora lutam pela paz e pelo respeito, por uma ordem justa para o Brasil e o mundo".
"Os Estados Unidos apoiam ditadores em várias partes do mundo, porque aceitam suas políticas e respeitam seus interesses econômicos. Quem assim não o faz, constrói a democracia em seus países, é hostilizado e a mídia internacional faz o papel de veicular todas essas deformações com que nos mostram ao mundo".
"Ao tempo do governo do xá, tínhamos uma população menor, 35 milhões de iranianos e 90% vivia na miséria, mas os interesses dos norte-americanos estavam a salvo no nosso país".
E mais – "os países que hoje nos hostilizam nos devem milhões de dólares por conta dos saques contra nossas riquezas e dos contratos que assinaram com o governo do xá, todos rompidos pela revolução islâmica". "Para eles não existem seres humanos, mas apenas interesses econômicos".
Ao abrir a entrevista o presidente Mahamoud Ahmadinejad afirmou que "todos somos seres humanos e nossas diferenças culturais, políticas e religiosas não nos impedem de vivermos em paz e com respeito a todos".
"Não querem o crescimento do Irã. Nem os Estados Unidos e nem os sionistas. Querem dominar".
"Por esse motivo há uma guerra midiática contra a revolução islâmica, o nosso povo e o nosso governo". "Não exercem o direito de liberdade de informação, mas fazem as ameaças que o governo dos EUA e os sionistas determinam que sejam feitas".
"Eles, os Estados Unidos, só têm um objetivo. O de atacar e invadir outros territórios para escravizar os povos. São os mesmos da Segunda Grande Guerra, têm o mesmo objetivo, colonizar, como no passado. O povo do Irã tem sete mil anos, é livre e um conflito com nosso país terá consequências sérias para todo o mundo".
"A África está vivendo na miséria e isso não preocupa os colonizadores. Na América Latina existem muitos seres humanos na miséria e os recursos para acabar com isso existem, só não querem que assim o seja", afirmou o presidente do Irã, criticando as políticas militaristas e colonizadoras dos EUA, de Israel e seus aliados.
"São nações ricas que querem humilhar outras nações", disse.
"Os dominadores tentam dividir os povos, os seres humanos, jogar uns contra os outros, querem a riqueza desses povos sem pagar nada por ela. São os responsáveis por esse mundo." Ao pronunciar essa frase referia-se ao conflito na Síria e a forma como agem em todos os países onde têm interesses político e econômico.
Ao final de sua entrevista Mahamoud Ahmadinejad disse que ao término de seu mandato volta à sua vida acadêmica (é professor numa universidade) e continua político sem ser presidente, pois "sou presidente e sou acadêmico, como serei de novo acadêmico e político".
O presidente do Irã reforçou a sua proposta de uma nova ordem política para o mundo, "mais justa e que seja determinada pela paz e pelo respeito aos povos e às nações, aos seres humanos".
A maior parte dos jornalistas presentes, principalmente aqueles da mídia alternativa e virtual, notou que a segurança do presidente do Irã é normal, sem obsessões e paranóias que cercam governantes de países como os EUA, Israel e outros. Não houve nenhuma alucinação de agentes da CIA ou do FBI que normalmente protegem o presidente dos EUA e nem violação de direitos de jornalistas ou cidadãos. O trânsito de pessoas, hóspedes ou não, no hotel onde aconteceu a conferência de imprensa, foi normal, em nenhum momento interrompido, ou nenhuma providência tipo Rambo tomada. Ao contrário, a diplomacia e os agentes de segurança de Mahamoud Ahmadinejad foram cordiais e as preocupações não passaram do campo da normalidade. Ninguém precisou escalar prédios ou de franco atiradores para proteger Ahmadinejad. Como a própria simplicidade do presidente iraniano se fez mostrar durante toda a conferência.