Os que anunciaram o final da história e festejaram antes de tempo, o definitivo triunfo do capitalismo, não contavam, com o achegado e explicado por Marx. O capitalismo tem umas lógicas implacáveis e é que quando se exploram todos os mercados, se espoliam todos os recursos dos povos e não ficam lugares onde vender o produto cria-se um excedente que provoca inevitavelmente uma crise. Há produtos elaborados, mas não há a quem vender-lhos, porque falta dinheiro e se não há compradores, o capitalismo estoura.
É uma lógica implacável e há 20 anos já se sabia que viria. Há muitos textos na internet que assim o testemunham, mesmo na época das vacas gordas, quando o bom viver e o estado de bem-estar parecia que não ia ter fim. Qualquer operário europeu, podia ter um andar, uma casa na montanha ou na praia, e um par de carros. A mentalidade de novos ricos conquistou as classes médias, inclusive de certas classes baixas e falar-lhes de socialismo e revolução era pregar no deserto. Os comunistas éramos uma espécie de nostálgicos doutra época, condenados a viver dos contos do avô ou da avó. Porque mulheres que escreveram páginas de glória pelo socialismo há um monte delas.
Mas acordámos do sonho, pelo menos as mentalidades que estavam dormidas e encontramo-nos com as duas características fundamentais do capitalismo.
Por uma parte a sua aresta mais exploradora e carente de entranhas e o menor humanismo. O que propõem os gestores desta maldição chamada hoje economia de mercado é a exploração do ser humano pelo ser humano da maneira mais descarnada. Há que trabalhar até completar os 70 anos, buscar a vida em direitos básicos como a educação, saúde, habitação, e buscar a vida, numa selva implacável em que o teu melhor amigo te pode devorar.
O direito ao trabalho é uma utopia e os que trabalham, devem fazer-se à ideia de o fazerem sem quase direitos. A empresa é o teu Deus e o encarregado o seu profeta ao qual deves seguir em todas as suas indicações, mesmo arriscando a perderes a vida no trabalho.
A exploração doutros povos, cresce e sem máscaras, resgatando as práticas mais atrozes do século XIX. Invasão pura e dura, de modo que em quase 20 anos com as mais estrafalárias desculpas, o império invadiu e saqueou vários povos, o Iraque, o Afeganistão, a Líbia e tem no ponto de mira mais invasões, como a da Síria, o Irão, a Venezuela. Povos todos eles dignos e que elegeram caminhos diferentes de desenvolvimento ao proposto pelas bandas capitalistas.
Em definitiva, a barbárie que nos disse Rosa Luxemburgo era esta, e isto é o que temos na atualidade. 20 anos após a queda do bloco socialista, o imperialismo desenvolveu multidão de planos, que antes não podia realizar pela pressão soviética e sobretudo pela pressão que exercia o seu Exército Vermelho e o contrapeso que oferecia à banda criminosa OTAN.
A segunda aresta com a que nos toca enfrentar-nos e que alguns, na sua quimera de um capitalismo doce, não acertavam a ver, é o seu carácter fascista. O fascismo não é uma ideologia em si mesma, O fascismo é uma arma que utiliza o capital no mesmo momento que lhe é preciso.
Por isso, nestes momentos em que o capital se vê em dificuldades, é quando de novo vai utilizar formas e maneiras não democráticas. As leis, que nos anuncia o Estado espanhol, são a antessala de um estado autoritário no qual querem que seja impossível tanto a liberdade dos povos que nos toca padecer o poder de Madrid, como a possibilidade de saídas progressistas (não falamos já de saídas revolucionárias..) a este estado, ao qual nos condena o Capital.
E são possíveis saídas noutros parâmetros, aí temos o caso da Islândia, mas precisamente para evitar mais Islândias, propõem-nos este conglomerado de leis. São fascistas e ponto. Nem são humanos, nem têm nenhuma vergonha nem talante. Dá-lhes igual saber que a gente começa a passá-lo realmente mal, mesmo a padecer fome. São fascistas e defendem os seus privilégios que recolhe a Constituição consagrando a unidade do estado espanhol. Espanha é uma unidade de mercados e mais nada.
O fenómeno que vimos reviver estes últimos dias em Leão, a Andaluzia e as Astúrias é lisa e claramente a luta de classes. Não morreu, como disseram há 20 anos.
O problema podemos ser nós próprios. Interiorizaremos todo isto e agiremos conseqüentemente? Por de repente, meus "amigos" da esquerda parva e o seu pacifismo de brincadeira, continua a sonhar com um capitalismo porreiro no qual "democraticamente" e a golpe de trença e batucada, consigamos certas melhorias que nos façam dormir a gosto com a nossa consciência.
Mas a esquerda real, a esquerda combativa, tem que começar a se arrumar, senão, a classe operária lhe desbordará pela esquerda e as Astúrias e Leão é um bom exemplo. Ou a Andaluzia, onde não cessa a repressão contra o movimento sindical consequente. A esquerda deve estar à altura do que as circunstâncias lhe exige e a ofensiva que propõe o capital. E se não está à altura, sobra, assim de claro.
Se um movimento político de esquerda, marxista e revolucionário, deixa a um lado as análises em chave de classe e em chave anti-capitalista pelo socialismo, se se despoja das ferramentas minimamente necessárias para levar o povo à vitória e que esse povo possa começar as tarefas de construção do socialismo, esse movimento ou partido político foi um desleixado na sua tarefa histórica... a tomada do poder e a trasformação deste por um poder revolucionário que liberte seres humanos e povo desta peste que é o capitalismo. Tomar o poder, mas para transformá-lo e criar o socialismo. Finiquitar a exploração e o fascismo que nos impõe hoje o Estado capitalista. Essa é a tarefa mais urgente.